Bolsonaro anuncia crédito mais barato da Caixa para beneficiar caminhoneiros
O presidente Jair Bolsonaro (foto) (PL) anunciou nesta sexta-feira a liberação de uma linha de crédito específica da Caixa Econômica Federal para antecipar o pagamento de custos de frete aos caminhoneiros.
Em novo aceno à categoria que ajudou a eleger Bolsonaro e exerce frequente pressão sobre o governo, o banco passará a liberar os recursos com taxa de juros a partir de 1,99% ao mês.
Não só caminhoneiros têm recebido a atenção do presidente no ano em que disputará a reeleição. Bolsonaro tem insistido na concessão de reajuste salarial para policiais e também criou um programa de crédito imobiliário subsidiado para a categoria.
De acordo com a Caixa, “as empresas de transporte de cargas que contratam serviço de frete a prazo podem solicitar ao banco que antecipe seu pagamento diretamente ao transportador autônomo (caminhoneiro)”.
Agora, segundo o banco, os recursos serão depositados diretamente na conta dos transportadores autônomos até 120 dias do pagamento do frete.
Os caminheiros autônomos compõem parte da categoria que em 2018 parou o país para reivindicar justamente o reajuste da tabela do frete e a contenção de aumentos no preço do diesel.
O presidente fez diversos acenos e promessas a essa sua base, algumas não cumpridas, durante o mandato. Os caminhoneiros têm reclamado de algumas destas propostas e chegaram a ensaiar paralisações.
No evento, na Caixa Cultural, em Brasília, Bolsonaro não discursou. Houve falas de ministros e auxiliares do governo enaltecendo as ações do chefe do Executivo.
Segundo colocado nas pesquisas ao Planalto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro tem investido em agendas e ações para melhorar a popularidade.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez elogios ao presidente, no dia seguinte à apresentação de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que permite a redução de tributos sobre combustíveis.
“Vou dizer que o dream team é o nosso. Só queria deixar esse recado, agradecer ao presidente, que é o líder deste time”, afirmou Guedes.
A PEC causou mal-estar entre equipe econômica e Planalto porque a redução proposta no texto elaborado na Casa Civil é mais ampla do que havia sido combinado com Guedes. O ministro defendia desonerar apenas o diesel, o que atende aos interesses dos caminhoneiros.
O ministro da Infraestrutura e potencial candidato a governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que a medida é “mais um produto aos caminhoneiros”.
Durante o evento, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse esperar que 1,5 milhão de pessoas sejam beneficiadas com a nova linha de crédito.
“[Os caminhoneiros] pegavam crédito com 10% a 15% ao mês. O caminhoneiro tinha o frete, mas não tinha necessariamente o dinheiro antes de entregar a carga. Precisava pegar emprestado, até para pagar o diesel”, afirmou Guimarães.
A alta do preço dos combustíveis preocupa em ano eleitoral. A PEC é, por exemplo, mais uma tentativa de Bolsonaro de aprovar medidas que beneficiam a sua base de apoio.
Para a categoria, o presidente está em dívida. Bolsonaro chegou a zerar a cobrança de PIS e Cofins do diesel de março ao fim de abril de 2021, mas o benefício acabou sendo engolido por outros componentes do preço final.
Em outubro do mesmo ano, o presidente prometeu um benefício de R$ 400 para cerca de 750 mil transportadores autônomos de carga, o que não saiu do papel.
Nos atos de raiz golpistas promovidos pelo presidente no feriado de 7 de setembro de 2021, porém, um grupo volumoso de caminhoneiros esteve em Brasília e manteve os protestos pró-governo nos dias seguintes.
Redigida por um funcionário do Planalto, a PEC ampla dos combustíveis foi protocolada pelo deputado Christino Áureo (PP-RJ), que tenta recolher as 171 assinaturas necessárias para que possa tramitar na Casa.
O impacto destas reduções pode chegar a R$ 54 bilhões para a União, segundo cálculos internos do governo. Com o corte nos impostos do diesel, por exemplo, o impacto seria de R$ 17 bilhões.
Para a equipe econômica, o texto induz à percepção de piora nas contas públicas, que, por sua vez, pode impulsionar as cotações de dólar e juros, dificultando a retomada e acelerando a inflação.
Nesta semana, Bolsonaro fez um apelo pela aprovação da medida.
“Peço agora ajuda aos parlamentares aqui. Ninguém vai fazer nenhuma barbaridade, mas quero que emergencialmente me deem os poderes de zerar o imposto do diesel -do gás de cozinha nós já zeramos-, para enfrentar esses desafios”, afirmou Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto.
Também entrou no radar da equipe econômica um corte linear nas alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) como forma de pressionar governadores a aceitarem uma mudança na cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis.
Além de mirar nos caminhoneiros, Bolsonaro ainda quer dar aumento de salário a policiais, de sua base, com uma verba de R$ 1,7 bilhão reservada no Orçamento de 2022 para dar reajustes a servidores.
A promessa direcionada do chefe do Executivo, que tem nos policiais uma importante parcela de seu eleitorado, deflagrou mobilizações de outras categorias de servidores, que pedem o mesmo tratamento. Algumas estão há cinco anos sem reajuste.
Para contornar as cobranças, o governo estuda elevar o valor de benefícios recebidos por servidores públicos, como o vale-alimentação.
Em setembro de 2021, o presidente assinou uma MP (Medida Provisória) para criar um programa de financiamento imobiliário subsidiado para agentes de segurança pública.
O governo reservou R$ 100 milhões para beneficiar, no primeiro ano, policiais federais, rodoviários federais, militares, civis e guardas civis municipais -da ativa e da reserva que recebam até R$ 7.000 por mês.
Ainda no ano passado, o presidente Bolsonaro reduziu pela terceira vez a cobrança de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre jogos eletrônicos e acessórios.
O presidente tem perdido apoio dentro da comunidade gamer, sobretudo entre seus influenciadores. (Mateus Vargas e Idiana Tomazelli – Folhapress)