Partido Republicano diz que invasão do Capitólio foi ‘discurso político legítimo’

O Partido Republicano, do ex-presidente Donald Trump, declarou nesta sexta-feira que a invasão do Capitólio, sede do Legislativo americano, há um ano, tratou-se de um “discurso político legítimo”. O episódio, quando apoiadores insuflados por Trump tentaram impedir a ratificação da vitória de Joe Biden, foi o maior ataque à democracia dos Estados Unidos na história recente.
A declaração consta em uma resolução da sigla que censurou a postura de dois parlamentares republicanos, Liz Cheney e Adam Kinzinger, por terem apoiado a investigação do Congresso sobre os esforços de Trump para atrapalhar a eleição presidencial que alçou Biden à Casa Branca.
Cheney e Kinzinger, dos estados de Wyoming e Illinois, respectivamente, votaram a favor do impeachment de Trump, procedimento aberto quando o ex-presidente foi acusado de incitar americanos à insurreição. Trump foi absolvido pelo Senado, naquele que foi o segundo processo de impeachment enfrentado por ele.
O Comitê Nacional Republicano acusou os deputados de participarem de uma “perseguição liderada por democratas a cidadãos comuns envolvidos em um discurso político legítimo”. A resolução foi aprovada durante reunião da sigla que contou com 168 membros. Foi necessário apenas um minuto, e não houve debates, segundo a mídia americana.
O texto diz, ainda, que as ações de Cheney e Kinzinger prejudicam os esforços republicanos para reconquistar a maioria no Congresso uma vez que ambos “demonstraram que apoiam os esforços democratas para destruir Trump muito mais do que apoiam os republicanos”.
Em outro trecho, este logo no início da resolução, o comitê alega que Biden e os democratas embarcaram em um trabalho sistemático para substituir a liberdade americana pelo socialismo. Também há espaço para críticas ao aumento a galope da inflação nos EUA, que atingiu o valor mais alto desde 1982 no último mês.
O documento afirma que o comitê “encerrará imediatamente todo e qualquer apoio aos parlamentares” como membros do partido, mas não chega a pedir que deixem a legenda, como havia sido proposto anteriormente. Os dois emitiram comunicados antes da reunião rechaçando as consequências que já previam sofrer.
“Os líderes do Partido Republicano se tornaram reféns de um homem que admite ter tentado derrubar uma eleição presidencial e sugere que perdoaria os réus do 6 de Janeiro, alguns dois quais acusados de conspiração”, disse Liz Cheney, referindo-se ao fato de Trump ter dito que, caso seja reeleito em 2024, vai considerar conceder indultos aos condenados no caso.
A repreensão aos parlamentares também foi criticada por outros membros do partido. O senador Mitt Romney, de Utah, por exemplo, afirmou em uma rede social que Cheney e Kinzinger honraram seus papéis quando buscaram a verdade, mesmo quando isso veio acompanhado de um grande custo pessoal. “A vergonha recai sobre um partido que censura aqueles que buscam a verdade”, escreveu ele.
Caracterizar a invasão do Legislativo como um “discurso político legítimo” também acendeu críticas dos democratas, como esperado. O deputado Jamie Raskin, de Maryland, disse que a descrição é um “escândalo que vai causar horror aos historiadores”. “O Partido Republicano está tão perdido que agora descreve uma tentativa de golpe como forma de expressão política”, disse Raskin, que compõe o comitê especial da Câmara que investiga o episódio.
Horas depois, o Comitê Nacional Republicano tentou negar que tenha feito essa afirmação. Ronna McDaniel, que preside a instância, argumentou em comunicado que, na verdade, “a resolução se referia a cidadãos comuns que se engajaram em discursos políticos legítimos, sem quaisquer relações com violência no Capitólio.”
Quatro pessoas morreram na invasão do Capitólio, e um policial morreu no dia seguinte. Cerca de 140 agentes de segurança ficaram feridos e outros quatro se suicidaram pouco depois.
Um ano após o episódio, 727 americanos foram indiciados pelo governo dos EUA por adesão à violência. Menos de 30 já receberam sentenças com penas de prisão relativamente leves.
Uma pesquisa recente, que traçou o perfil daqueles que atacaram a sede do Legislativo, mostrou que se tratavam majoritariamente de homens radicais de ultradireita com idade média de 42 anos, bem empregados e ajustados socialmente.
O Congresso tem avançado nas investigações sobre o caso, ainda que Trump e apoiadores, como o ex-conselheiro Steve Bannon, tenham tentado obstruir o processo se recusando a fornecer documentos.
Também nesta sexta, a mídia local revelou que os parlamentares têm em mãos registros da Casa Branca que fornecem detalhes sobre uma chamada telefônica entre Trump e o deputado republicano Jim Jordan ocorrida na manhã do 6 de Janeiro. Jordan foi um dos que foram ao plenário da Câmara, durante a cerimônia que ratificava a vitória de Biden, para se opor à certificação do democrata como presidente.
Ele havia se recusado a comparecer voluntariamente para prestar depoimento ao comitê, aumentando as especulações de que teria participado da articulação que chamou os apoiadores de Trump a ocuparem o entorno do Capitólio e, depois, invadi-lo. (Folhapress)

Compartilhe nas suas redes sociais:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *