Republicanos viram réus por suposta tentativa de reverter derrota de Trump em 2020
A procuradora-geral de Michigan, estado no nordeste dos Estados Unidos, anunciou nesta terça-feira (18) que 16 republicanos foram acusados criminalmente por supostamente tentar anular a derrota do ex-presidente Donald Trump para o democrata Joe Biden nas eleições de 2020.
Os réus teriam tentado fraudar uma lista de delegados do Colégio Eleitoral -responsáveis por votar para presidente em um sistema de eleição indireta como o dos EUA.
Mais de mil pessoas foram acusadas de crimes relacionados à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 -dia em que o Congresso se reuniu para certificar o resultado da corrida presidencial dos EUA no ano anterior. O anúncio desta terça, porém, marca a primeira vez que alguém vira réu por tentar reverter a derrota do republicano por meio do sistema burocrático.
A democrata Dana Nessel, procuradora-geral de Michigan, está investigando o grupo por supostamente assinar documentos que atestavam falsamente que eles eram delegados do Colégio Eleitoral. O objetivo, segundo Nessel, era fazer com que o Congresso aceitasse documentos fraudados no estado em que Biden venceu por 154 mil votos.
“Eles não eram os delegados devidamente eleitos e qualificados, e cada um dos réus sabia disso”, disse Nessel ao anunciar as acusações. “Eles fizeram isso com a esperança e a crença de que os votos de Michigan na eleição de 2020 fossem concedidos ao candidato de sua preferência, em vez do candidato que os eleitores do estado realmente escolheram.”
“As ações dos falsos eleitores minaram a fé do público na integridade de nossas eleições e, acreditamos, também violaram claramente as leis pelas quais administramos nossas eleições em Michigan”, disse Nessel no comunicado.
Cada um dos 16 réus foi acusado de oito crimes, incluindo falsificação e conspiração para cometer fraude eleitoral. As acusações podem levar a penas de cinco a 14 anos de prisão.
O grupo inclui Marian Sheridan (vice-presidente do Partido Republicano em Michigan), Meshawn Maddock, (ex-presidente do Partido Republicano em Michigan) e Kathy Berden (membro do Comitê Nacional Republicano). Maddock afirmou ao jornal americano The New York Times que a acusação é uma “uma vingança pessoal” de Nessel. “Isso faz parte de um esforço nacional coordenado” para deter Trump, acrescentou ela. Os outros acusados não foram encontrados imediatamente para comentar.
De acordo com o comitê da Câmara dos Representantes que investigou o ataque ao Capitólio dos EUA, aliados de Trump tentaram reverter sua derrota em novembro de 2020 pressionando pela convocação de delegados falsos em estados mais divididos entre os dois candidatos. Esses delegados se reuniram em 14 de dezembro de 2020 para votar em Trump –no mesmo dia em que os eleitores legítimos votaram em Biden. Embora essas cédulas não tivessem legitimidade, foram usadas para pressionar o vice-presidente Mike Pence a descartar os resultados oficiais.
Em Michigan, os réus teriam se reunido secretamente na sede do Partido Republicano no estado e assinado vários certificados declarando que eram “delegados devidamente eleitos e qualificados para escolher presidente e vice-presidente dos Estados Unidos da América para o estado de Michigan”, de acordo com Nessel.
As acusações foram anunciadas no mesmo dia em que Trump foi a sua rede social, a Truth, para dizer que recebeu uma carta do Departamento de Justiça na noite de domingo (16) afirmando que ele tem quatro dias para se apresentar a um “grande júri”, grupo formado por cidadãos comuns que decide se um processo deve continuar ou não na Justiça.
A carta, de acordo com o republicano, foi enviada pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith, responsável pelas investigações contra o ex-presidente na esfera federal. O documento serve para informar oficialmente que uma pessoa é alvo de investigação.
Na primeira vez em que foi indiciado, em março, pela Justiça estadual de Nova York, ele anunciou 12 dias antes em sua rede social que isso aconteceria. Em junho, o republicano virou réu pela segunda vez, em um caso na esfera federal devido a acusações de violação da lei de espionagem e obstrução da Justiça por manter documentos secretos depois de deixar a Presidência.
Há ainda um quarto processo que Trump pode responder, o de tentativa de interferência na eleição na Geórgia, em 2020. Trump foi gravado telefonando para o secretário de Estado local, responsável pelo controle do pleito, e o pressionando a “encontrar” o número de votos que precisava para derrotar o democrata –houve três contagens de votos que confirmaram a vitória de Biden.
(Folhapress / Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)
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