Mordi a língua no Vale dos Vinhedos
Morder a língua é uma expressão antiga, que significa “Ser desmentido ou ter a opinião refutada por novos fatos, depois de falar mal de algo ou de alguém: ela vai acabar mordendo a língua, mais cedo ou mais tarde”.
Depois de 20 anos, voltamos ao Vale dos Vinhedos. Pois é, muito tempo! Localizado a 130 km de Porto Alegre, nas Serras Gaúchas, é formado por três cidades: Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi. Um destino sempre resistido por mim. Confesso!
Não sou grande conhecedora de vinhos. Fiz alguns cursos na ABS – Associação Brasileira de Sommeliers e lá descobri que sou uma boa apreciadora, ao invés de conhecedora. Foi assim que nasceu uma “enochata” dentro de mim!
Gostei dos chilenos e percebi, às cegas, que o meu paladar era mais para os argentinos. Depois da viagem para Toscana, idolatrei os italianos da região de Bolgheri e o Barolo, região de Piemonte. Sem querer esnobar, o Brunello di Montalcino era leve para o meu paladar. Depois da viagem para a França, passei a distinguir um vinho elegante e me aproximei sem pudor dos brancos da Borgonha, especialmente do Chablis.
Nada melhor do que sentar à mesa com iguarias, amigos, histórias para contar e um vinho bem avaliado. Então, fizemos uma viagem de casais para Mendoza, com almoços, degustações e visitas. Fiquei encantada com a recepção nas vinícolas.
Quando me falavam que eu precisava conhecer o sul do Brasil e os nossos vinhos, torcia um pouco o nariz, porque acreditava, na minha vergonhosa ignorância, que a experiência não seria nem um pouco próxima das que tive em Mendoza, na Toscana e na França.
Nas pesquisas, via frango, sopa de capeletti e rodízio de massa. Isso me assustava! Nada contra quem goste, mas eu queria harmonizar com o vinho. Por desconhecimento, apreciava pouco os vinhos brasileiros.
Mordi a língua, literalmente.
Conhecemos vinícolas de pequeno e médio porte. Apenas duas de grande porte. Restaurantes deliciosos e vinhos maravilhosos! Não tive como não comparar com Mendoza e Toscana. Para mim, referências no enoturismo.
Encontrei experiências fantásticas, como o pic-nic nos vinhedos da Larentis, a degustação no píer de madeira da Alma Única, os brindes no jardim da Cave Geisse (que espumante!), o pôr do sol no rooftop do Spa do Vinho, sem contar o atendimento nas vinícolas, muitas vezes, feito diretamente pelos filhos ou pelo próprio dono. Não deixe de reservar com antecedência, se você quiser ter uma dessas vivências.
Para quem está se programando, coloque o Caminho de Pedra, em Bento Gonçalves na lista. É uma estradinha de 12 km com atrativos e paradas obrigatórias, seja para um click, para provar queijo de ovelha ou kuka, além de saber um pouco da história da imigração italiana e a sua influência na área. E, por fim, almoçar em algum restaurante que vai muito além do frango. Mordi a língua mais uma vez!
Aliás, a boa gastronomia faz parte do turismo dessa região. Recomendo fortemente a Osteria della Colombina, cozinha afetiva com louvor. A chef, Dona Odete, prepara tudo com carinho e a sopa de capeletti é dos deuses! A essa altura, a língua já pegava fogo! Tem ainda O Valle Rústico, que ganhou a minha estrela “michelana”, com o conceito de cozinha de natureza e o refinamento.
O povo e os lugares recebem com excelência o turista. Fui embora com a sensação de que é só o começo, porque o potencial é enorme! Vibrei muito nessa viagem!
O que eu senti falta? De ficar mais tempo. Foram quatro dias, mas uma semana seria o ideal. E, também, de almoço nas vinícolas. Depois de fazer a visita e de degustar, seria perfeito continuar a prosa com vinho. Fica a minha dica.
Ana Matoso é advogada e fundadora do Blog Vibre na Viagem
(Foto: Divulgação)