Bolsa tomba sob temor do efeito Jefferson em Bolsonaro; Petrobras cai 10%

Bolsa tomba sob temor do efeito Jefferson em Bolsonaro; Petrobras cai 10%

O mercado financeiro do Brasil trabalhou nesta segunda-feira (24) pressionado pelas preocupações de investidores quanto aos efeitos da crise envolvendo Roberto Jefferson (PTB) sobre a campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

O aliado bolsonarista e político de extrema direita foi preso pela Polícia Federal depois de tentar resistir à ordem judicial. Jefferson disparou mais de 20 tiros de fuzil e lançou duas granadas contra os agentes. Dois deles ficaram feridos, sem gravidade.

No mercado doméstico de ações, a Bolsa de Valores brasileira fechou com expressiva queda. O índice Ibovespa tombou 3,27%, aos 116.012 pontos.

O desempenho ruim ocorre na contramão do mercado internacional. Nos Estados Unidos, o índice de referência da Bolsa de Nova York, o S&P 500, fechou em alta de 1,19% nesta segunda. Os indicadores Dow Jones e Nasdaq avançaram 1,34% e 0,86%, respectivamente.

Analistas consideram que, embora seja difícil avaliar o impacto do evento sobre a campanha de Bolsonaro, é possível que a crise envolvendo Jefferson tenha gerado aversão ao risco entre investidores e que isso esteja entre os fatores que levaram à queda da Bolsa nesta sessão.

“Tivemos um episódio no fim de semana que, talvez, gere um pouco mais de estresse e jogue areia nos olhos para prejudicar um candidato ou outro”, comentou André Rolha, diretor de produtos da Venice Investimentos.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, comentou que a leitura que o mercado faz neste momento é de que “o efeito pode, sim, ser ruim para o atual presidente”.

Ainda no mercado de ações doméstico, houve forte desvalorização da Petrobras, cujas ações ordinárias mergulharam 9,89%. Os papéis preferenciais da companhia afundaram 9,20%. Os ativos da estatal não perdiam tanto valor desde o início de agosto.

O tombo da petrolífera ocorreu em um dia de queda apenas moderada do preço de referência do petróleo no exterior. O barril do Brent perdia 0,18% no final da tarde, cotado a US$ 93,33 (R$ 492,20).


DÓLAR DISPARA E REAL É MOEDA COM PIOR DESEMPENHO

O dólar comercial à vista disparou 2,97%, cotado a R$ 5,3010, com o real entregando o pior desempenho tanto na comparação com divisas de países emergentes, quanto em relação às principais moedas globais.

A desvalorização do real, sobretudo em um dia de estabilidade do dólar no mercado internacional como nesta segunda, é um importante indicador de que investidores avaliaram que o risco para investir no Brasil ficou maior.

“É o efeito Roberto Jefferson”, afirmou Douglas Ferreira, diretor da mesa de câmbio da Planner Corretora.

“O mercado está volátil hoje e muito disso é por conta dessa coisa inusitada que aconteceu”, comentou Ferreira, que também destacou que o ambiente externo trouxe informações desfavoráveis ao mercado brasileiro nesta segunda.

A desaceleração da economia da China, principal parceiro comercial comercial do Brasil, ligou um sinal de alerta para as ações de exportadores de matérias-primas, que possuem grande peso no Ibovespa.

O PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu 3,9%, abaixo da meta anual de 5,5%, que já é a menor em três décadas. A Bolsa de Hong Kong desabou 6,36% nesta segunda.

A divulgação do dado, adiada da semana passada para esta segunda, ocorre depois que o presidente chinês, Xi Jinping, estendeu seu governo para um terceiro mandato sem precedentes e reforçou seu controle do poder político no 20º congresso do Partido Comunista.

O mercado brasileiro registrou nesta segunda uma situação inversa em relação ao quadro do final da semana passada, quando o Ibovespa acumulou alta de 7%, a maior desde novembro de 2020, superando os também fortes ganhos semanais obtidos pelos índices de referência no exterior.

Na sexta-feira (21), o índice subiu 2,35% e foi aos 119.928 pontos. As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras subiram 3,4% no dia e, com isso, chegaram a uma alta anual na casa dos 90%.

Na ocasião, analistas atribuíram o resultado doméstico ao ânimo de investidores com as pesquisas de intenção de voto que, a uma semana do segundo turno da eleição presidencial, mostravam a aproximação entre os candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Houve essa volatilidade recente, com o mercado lendo as pesquisas, e as fofocas dizendo que o Lula tinha sido passado pelo Bolsonaro, provocando uma disparada das ações da Petrobras”, disse Leonardo Mattiussi, sócio responsável pela mesa de operações da Nau Capital. “Agora há o tiroteio do Roberto Jefferson, que é aliado do Bolsonaro, e isso vai ser usado pela campanha do Lula.”

Mattiussi destacou que, apesar da queda nesta sessão, a Petrobras acumula alta de cerca de 80% neste ano e, diante da aproximação das eleições, investidores tendem a vender os papéis mais valorizadas ou, na linguagem do mercado, realizar lucros. “É o pessoal botando o dinheiro no bolso.”

(Clayton Castelani – Folhapress /Foto: Pexels)

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