Jornal El País encerra edição brasileira e pega equipe de surpresa

Jornal El País encerra edição brasileira e pega equipe de surpresa

O jornal espanhol El País anunciou nesta terça-feira o encerramento de suas operações no Brasil. Lançada em 2013, a versão brasileira do veículo não conseguiu alcançar a sustentabilidade econômica nestes oito anos de operação, “apesar de ter atingido grandes audiências e um número considerável de assinantes digitais”, informou em comunicado no seu site. A equipe local, de 17 jornalistas, foi pega de surpresa pelo anúncio.
No comunicado, o jornal sugere que os leitores poderão acompanhar a versão Américas do periódico. “Queremos agradecer aos profissionais do El País Brasil por seu grande esforço e dedicação. Como também à fidelidade de nossos leitores, que poderão acompanhar a informação sobre a região e o resto do mundo em nossa edição da América. Para este jornal, o Brasil é um eixo da informação global tanto no plano político e econômico, quanto no cultural e social”, informou.
A reportagem apurou que muito da surpresa da equipe com a decisão veio do fato de que 2022 é um ano eleitoral e, como o Brasil ocupa uma posição chave na América Latina, a cobertura seria intensificada.
O El País é um dos jornais mais prestigiosos do mundo. No Brasil, contava com colunistas premiados, como Eliane Brum e Xico Sá, além de referências de peso na literatura, como os escritores Mario Vargas Llosa e Juan Arias, este último um dos decanos da publicação espanhola.
Em outubro de 2020, o conteúdo, que era gratuito, passou a ser exclusivo para assinantes. A iniciativa, porém, foi gerenciada a partir da Espanha, uma vez que há quatro anos o jornal deixou de contar com uma equipe comercial no Brasil. Tanto que as assinaturas eram vendidas em dólar. Fundado em 1976 na Espanha, o jornal é controlado pelo grupo Prisa, que vem passando por mudanças societárias e enfrenta dificuldades econômicas. O grupo de mídia foi um dos últimos da Europa a cobrar pelo conteúdo -prática que adotou em maio do ano passado, em meio à pandemia.
Dono também da editora Santillana, o Prisa está no alvo de um dos maiores conglomerados de mídia da Europa, o francês Vivendi, dono da gravadora Universal, maior acionista da Telecom Italia (dona da brasileira TIM) e controlador do grupo Havas, de agências de comunicação, entre outros negócios.
Em abril, o principal acionista da Vivendi, Vicent Bolloré, investiu 100 milhões de euros (R$ 636 milhões, na cotação atual) para adquirir 9,9% do Prisa. Em outubro, fez uma oferta para passar a deter 29,9% do grupo espanhol -participação limite para não ser obrigado a fazer uma oferta pública pelo controle da companhia.
Chamado de “Murdoch francês”, em referência ao magnata da mídia americana Rupert Murdoch, Bolloré segue uma linha ultra conservadora. Isso gera questionamentos na Europa a respeito do seu interesse no grupo que controla o El País, um jornal que, desde a sua fundação, marcou posição em defesa da democracia, em meio ao fim da ditadura de Francisco Franco na Espanha (1939-1975).
O El País circula em formato tablóide no país natal e, segundo os dados mais recentes, somava uma tiragem de 457 mil exemplares. No Brasil, contava com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e cerca de 100 mil assinantes da newsletter.
EM NOTA, A EQUIPE SE POSICIONOU SOBRE O FECHAMENTO
A última atualização do site lançado há oito anos foi feita na manhã desta terça-feira (14). Apesar de haver fotos agendadas e entrevistas marcadas, toda a produção foi encerrada antes do meio-dia. Embora os profissionais acompanhassem a distância as notícias sobre as mudanças no comando do grupo, o encerramento súbito das operações os tomou de surpresa.
A equipe de 17 jornalistas comparecia, desde o início deste mês, a reuniões de pauta semanais na sede da filial, no bairro de Pinheiros, zona oeste da capital paulista. Na manhã desta terça, os profissionais divulgaram uma nota sobre o fechamento:
“A equipe do El País Brasil foi informada hoje, assim como vocês, do encerramento das atividades da edição após oito anos. Nascemos dos ventos de 2013, quando milhares de leitores foram buscar na Espanha uma visão dos maiores protestos da história. Nos orgulhamos de ter contado em profundidade a crise que se seguiu, buscando que cada título refletisse um país que desmoronava. Mapeamos os interesses no impeachment. Escrutinamos todos os lados da Lava Jato. Trouxemos para as manchetes os crimes contra os direitos humanos, o racismo, os estupros e a ameaça à democracia.
Construímos este jornal com você. E, por isso, fazemos questão de agradecer pessoalmente seu apoio e seu voto de confiança.
Obrigada por nos ajudar a fazer o jornalismo que chama as coisas pelo seu nome. Um abraço e até breve”. (Daniele Madureira – Folhapress)

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