Guedes critica FMI e diz que assinou dispensa da missão do Fundo no Brasil
O ministro da Economia, Paulo Guedes (foto), afirmou nesta quarta-feira em evento a empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) que dispensa o observatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) no Brasil, rebatendo as críticas econômicas feitas por Ilan Goldfajn, ex-presidente do BC (Banco Central), que assumirá um cargo de direção no fundo.
“Aparentemente, o ex-presidente do Banco Central criticou muito o Brasil e ele está indo para lá. É um bom economista, bom amigo, mas se já tem um ponto de vista aparentemente bem crítico e bem negativo sobre o Brasil, ainda precisa de um representante aqui?”, questionou Guedes.
Ilan Goldfajn, que é presidente do conselho do Credit Suisse, afirmou em entrevista ao portal Neofeed nesta semana que os investidores estrangeiros não estão fugindo do Brasil, eles “já fugiram”.
Segundo Guedes, o Ministério da Economia já tinha assinado o fechamento da residência oficial do FMI no Brasil antes de Ilan ser nomeado diretor. Acrescentou que se o fundo pode manter o escritório se quiser, mas que o “governo está dizendo oficialmente que não precisa tê-los aqui”.
“Acamparam aqui há anos e esqueceram de ir embora”, disse Guedes. “Gostam de feijoada, futebol e fazem a pressão errada.”
Segundo ele, a missão do fundo se instalou no Brasil em um cenário diferente, quando não havia controle orçamentário. Para Guedes, hoje a conjuntura é de um regime competitivo e um programa de sustentação fiscal muito forte.
O ministro ainda afirmou que o grupo do FMI fez uma previsão errada sobre a queda do PIB em 2020, quando disse que seria de 9%.
Guedes participou do encontro na Fiesp com outros 16 membros do governo federal, incluindo o presidente Jair Bolsonaro e ministros, como Fábio Faria (Comunicações), Walter Braga Neto (Defesa), Tereza Cristina (Agricultura), Marcelo Queiroga (Saúde), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e general Augusto Heleno (GSI).
O evento foi um dos últimos atos da gestão de Paulo Skaf, que encerra seu mandato à frente da Fiesp no dia 31 de dezembro. Skaf cogita tentar candidatura ao Senado nas eleições de 2022.
Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, foi citado diversas vezes como candidato do governo ao Estado de São Paulo. Ovacionado por um auditório lotado, foi chamado de herói por Guedes e elogiado por Bolsonaro, este aplaudido de pé.
“O Brasil enfrentou a crise da Argentina, suportou o desastre de Brumadinho, enfrentou o desastre da crise de Covid, enfrentou a crise hídrica. Estamos saindo do outro lado e levando o Brasil para o crescimento”, disse.
“Eu voto nele”, emendou Guedes.
Durante a conversa entre os dois ministros, mediada pelo empresário Bruno Serapião, do fundo Pátria (um dos investidores do 5G), os presentes destacavam que os fatos são diferentes das manchetes jornalísticas, afirmando que o Brasil desperta interesse dos investidores e que tudo o que vem sendo leiloado no país é comprado.
Freitas fez uma retrospectiva de suas ações frente ao ministério, como autorizações privadas para ferrovias, o marco da cabotagem, aprovado nesta quarta na Câmara, os leilões de aeroportos e as concessões rodoviárias.
“Em pouco tempo, o Brasil vai ter metade da malha rodoviária federal concedida”, disse.
Ministro diz que não é hora de dar aumento a servidores
O ministro da Economia afirmou que o momento não é de aumento de salários para servidores. Bolsonaro prometeu um aumento a policiais que deve custar cerca de R$ 2,8 bilhões no próximo ano, quando ele pretende concorrer à reeleição.
O gasto com o projeto de reestruturação das carreiras da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) foi calculado pelo Ministério da Justiça. A despesa até 2024 é estimada em R$ 11 bilhões.
“Estamos em plena temporada eleitoral. Não é um ano para dar um aumento de salário, mas isso é diferente do que está sendo conversado, que é uma reestruturação de carreira, uma reforma administrativa, um debate, um determinado setor, é diferente”, disse, referindo-se a promessa feita aos policiais.
Guedes ressaltou que o próximo ano será difícil diante da inflação, “que é mundial”, mas que o Brasil já conseguiu retomar o foco após o desgaste do combate à Covid.
“Deixamos batalhas pelo caminho, como a reforma administrativa, por causa da Covid, a reforma tributária, o mundo inteiro tributa os super-ricos.”
Em sua fala, Bolsonaro pressionou o STF (Supremo Tribunal Federal) duas vezes. Disse que aguarda uma decisão que pode regulamentar um valor nominal para o ICMS em todo o país, o que daria menos poder para os estados determinarem o preço dos combustíveis, e que vai viabilizar marco temporal, que trata da marcação de terras indígenas. “Se perdermos no Supremo, vou ter que tomar nova decisão”, afirmou. (Paulo Soprana -Folhapress)