Explosão de caminhão-tanque deixa ao menos 60 mortos no Haiti
A explosão de um caminhão-tanque em Cap-Haitien, segunda maior cidade do Haiti, na madrugada desta terça-feira deixou ao menos 60 pessoas mortas, de acordo com a avaliação parcial das autoridades. O acidente ocorre quatro meses após um terremoto deixar mais de 2.000 mortos e fragilizar a situação socioeconômica do país caribenho.
Ao jornal Le Nouvelliste, um membro da comissão municipal de Cap-Haitien informou que moradores procuravam coletar combustível após o caminhão, que transportava 9.000 galões, sofrer um acidente ao tentar desviar de uma motocicleta. Mais de 48 pessoas ficaram feridas, e cerca de 40 casas próximas ao local pegaram fogo.
Bombeiros relataram que, entre os corpos parcialmente carbonizados no local, estavam muitas mulheres e crianças, ainda que o número seja incerto. “Estamos longe de fazer um balanço, porque deve haver muitos mortos dentro das casas que foram queimadas”, afirmou um dos oficiais ao Le Nouvelliste.
O premiê Ariel Henry, que também chefia o governo de transição do país após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, decretou três dias de luto nacional em todo o território em memória das vítimas da tragédia. Informou, ainda, que hospitais de campanha estão sendo providenciados para cuidar dos feridos.
“Fiquei sabendo, com desolação, da triste notícia da explosão em Cap-Haitien (…) Em nome de meu governo e de toda a população haitiana, incluindo a diáspora, apresento minhas sinceras condolências aos familiares das vítimas, bem como a todos aqueles direta ou indiretamente afetados por este drama”, escreveu Henry no Twitter.
Haitianos fizeram postagens nas redes sociais descrevendo a situação no local como caótica. O jornalista Frantz Duval, editor-chefe do Le Nouvelliste, disse que os hospitais locais, já precarizados, precisam de reforço urgente, em especial remédios e médicos para atender àqueles que sofreram queimaduras.
O hospital Justinien, para o qual foram levados dezenas de feridos após a explosão desta terça, está sobrecarregado. À agência de notícias AFP, uma enfermeira do local disse que não há meios para atender a todos os que chegam com queimaduras graves, sendo que a maioria teve mais de 60% da superfície corporal queimada. “Temo que não vamos poder salvar todos”, relatou.
O Haiti, país mais pobre da América Latina, enfrenta escassez de combustíveis, em especial devido ao bloqueio que gangues locais têm organizado nas estradas que levam aos postos de petróleo. Hospitais, inclusive aqueles administrados pela ONG internacional Médicos Sem Fronteiras, já denunciaram a situação, descrita como calamitosa.
A atuação das gangues, que há anos aflige o país, tornou-se maior desde o assassinato do presidente Moïse, o que criou um vácuo de poder e deu fôlego para a expansão de grupos criminosos. As gangues chegaram a dificultar a chegada de ajuda humanitária após o terremoto que atingiu os departamentos do sudoeste do país em agosto.
Cresceu, ainda, o número de sequestros organizados por esses grupos em busca de dinheiro. Em meados de outubro, 17 missionários estrangeiros, entre eles mulheres e crianças, foram sequestrados na capital Porto Príncipe, e, até o momento, cinco deles foram libertados.
O assassinato de Moïse, morto em sua residência oficial quando estava em companhia da primeira-dama, segue sendo investigado. As autoridades já detiveram 45 pessoas, mas ainda não acusaram ninguém pela organização do crime. O premiê Ariel Henry, que assumiu o cargo após a morte do presidente, chegou a ser apontado como envolvido, mas logo demitiu autoridades ligadas à investigação.
Reportagem do jornal americano The New York Times publicada neste domingo (12) mostrou que, antes de ser morto, Moïse estava preparando um dossiê de funcionários do alto escalão do governo e de empresários ligados ao tráfico de drogas no país para entregar ao governo dos Estados Unidos.
Alguns dos presos, de acordo com a apuração que ouviu mais de 70 pessoas em 10 departamentos haitianos, confessaram que recuperar a lista com nomes de supostos traficantes era um dos principais objetivos ao invadir a casa do presidente. (Folhapress)