Embaixador da Nicarágua na OEA se rebela e chama governo do país de ditadura
O embaixador da Nicarágua na OEA (Organização dos Estados Americanos) se rebelou contra o governo de seu país. Ele acusou o regime de Daniel Ortega de ser uma ditadura que desrespeita direitos humanos e sufoca a população.
Baseado em Washington, Arturo McFields Yescas é representante permanente da Nicarágua na OEA, que tem sede na capital americana. Em uma reunião do Conselho Permanente da entidade, nesta quarta (23) pela manhã, Yescas disse que falava em nome de mais de 177 presos políticos e mais de 350 pessoas que morreram desde 2018.
“Denunciar a ditadura do meu país não é fácil, mas defender o indefensável é impossível. Tenho que falar, ainda que meu futuro e o da minha família sejam incertos. Desde 2018, a Nicarágua se converteu no único país onde não há jornais impressos, não há liberdade para publicar em redes sociais, não há organismos de direitos humanos, não existem partidos políticos independentes nem eleições confiáveis. Não existe separação de poderes”, acusou.
O embaixador disse que tentou negociar com o governo a libertação de 40 presos políticos de idade avançada ou com problemas de saúde, mas que foi ignorado. “Me disseram: ‘não vamos nem tomar nota disso porque você poderia perder seu emprego’. No governo, ninguém escuta e ninguém fala.”
Yescas afirmou que, neste ano, o governo Ortega começou a confiscar universidades privadas e suspendeu o direito de operação de 137 ONGs religiosas e ecologistas. E que ao menos 170 mil nicaraguenses já deixaram o país.
“As pessoas de dentro e de fora [do país] estão cansadas da ditadura e de suas ações, e cada vez serão mais os que dizem basta. Porque a luz pode mais que as trevas. Pode-se enganar as pessoas por um tempo, mas não permanentemente”, concluiu.
O representante havia sido nomeado embaixador para o cargo atual em novembro de 2021. Ele se formou em jornalismo, e atuava como diplomata ao menos desde 2011, com passagens por outros postos da missão do país na OEA.
Luís Almagro, secretário-geral da entidade, elogiou o discurso. “Valorizamos a coragem do embaixador da Nicarágua, e seu compromisso com os valores da OEA. Esta é a posição eticamente correta”, disse.
O ditador Daniel Ortega, 76, comanda a Nicarágua desde 2007. A repressão contra críticos dele acirrou-se em 2018, quando mais de 300 manifestantes foram mortos em confronto com as forças de segurança e grupos paramilitares alinhados ao ditador. Embora o regime tenha feito um acordo com a oposição no ano seguinte, prometendo eleições livres, o pacto não foi cumprido.
Em 2021, ele obteve um novo mandato presidencial em uma eleição considera de fachada, pois sete candidatos da oposição foram presos nos meses antes da votação. O ditador atualmente domina, além do Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
O governo dos EUA e a União Europeia consideraram a eleição de 2021 como farsa. A gestão do presidente Joe Biden manteve sanções impostas por seu antecessor, Donald Trump, que incluem multas e impedimento de entrada no país de altos funcionários do regime e familiares do ditador, e determinou mais medidas para pressionar Ortega. (Rafael Balago- Folhapress)