Dólar passa dos R$ 5,40 após Bolsonaro contestar urnas
Indicadores do mercado continuavam reagindo nesta quarta-feira (23) à escalada de preocupações com a transição de governo no Brasil.
Às 14h30, o dólar comercial à vista avançava 0,11%, cotado a R$ 5,3850. Mais cedo, chegou a passar dos R$ 5,41. A moeda americana deu um salto na véspera em reação à contestação das urnas pelo partido do presidente Jair Bolsonaro. O PL pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mesmo sem apresentar provas de fraude, a invalidação de votos depositados em parte das urnas.
Além disso, a expectativa de aumento de gastos e a indefinição nas negociações sobre a PEC da Transição, que acomoda despesas com o pagamento do Bolsa Família em 2023, seguem pressionando a alta dos juros futuros.
A taxa de juros DI (depósitos interbancários) para 2024, referência para o crédito de curto prazo, atingia a casa dos 14,61% ao ano nesta quarta, contra 14,38% da véspera. Esse indicador estava em 13,05% no fechamento do último dia 9, véspera do discurso em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom das suas críticas à regra do teto de gastos.
Na Bolsa de Valores, o índice Ibovespa recuava 0,57%, aos 108.405 pontos.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, observou que neste momento o mercado está particularmente atento ao debate entre membros da equipe de Lula sobre a inclusão na PEC da Transição de um texto que retira o teto de gastos da Constituição. Isso permitiria a revisão da regra de forma mais simples no futuro, por lei complementar.
“A credibilidade do instrumento de controle já era baixa, mesmo com uma barreira de esforço parlamentar constitucional, o que será amplamente devastado caso haja a possibilidade de revisão do teto apenas com maioria dos parlamentares”, comentou Sanchez.
Investidores também negociam atentos à divulgação da ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, nesta tarde. Enquanto isso, o indicador parâmetro das ações americanas S&P 500 subia 0,21% nesta véspera do feriado de Ação de Graças, quando a Bolsa de Nova York estará fechada.
A cotação do petróleo Brent, referência para os preços da Petrobras, caía 4,30%, a US$ 84,56 (R$ 456,12) nesta quarta. O valor da matéria-prima reagia a uma discussão na União Europeia sobre a imposição de um teto ao preço do petróleo da Rússia, entre US$ 65 e US$ 70, informou a Bloomberg.
Apesar da baixa no valor da matéria-prima, as ações preferenciais da Petrobras sustentavam ligeira alta de 0,04% na Bolsa de Valores do Brasil. No pregão anterior, os papéis fecharam em queda de 0,77%.
Expectativas sobre redução do pagamento de dividendos e incertezas quanto à mudança na condução da Petrobras levaram as ações da companhia a cair até cerca de 5% durante o pregão de terça (22), mas houve recuperação parcial depois que a Arábia Saudita informou que a Opep+ (cartel de países produtores e aliados) manteria cortes na produção de petróleo e poderia tomar outras medidas para equilibrar o mercado.
As ações da petrolífera vêm reagindo a notícias de que Lula planeja uma ampla troca no primeiro e segundo escalões da companhia e que pelo menos parte dos elevados dividendos sendo pagos pela estatal a acionistas na onda da alta do petróleo sejam direcionados a investimentos.
A equipe de transição de Lula também quer suspender todos os procedimentos na esfera de óleo e gás, que estão no rol de responsabilidades da Petrobras, inclusive privatizações, como a do gasoduto Bolívia-Brasil.
Além disso, analistas do UBS BB cortaram a recomendação dos papéis para “venda”, de “compra” anteriormente, bem como ceifaram o preço-alvo das preferenciais de R$ 47 para R$ 22, em relatório divulgado no final da segunda-feira (21).
Em relatório também divulgado no final da segunda-feira, analistas do Itaú BBA alertaram que uma potencial mudança na política de preços da empresa pode resultar em impactos consideráveis (especialmente se uma política de preços baseada em custos de produção for adiante).
(Clayton Castelani – Folhapress /Foto: Gabriel Cabral/Folhapress)
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