Bolsa cai e dólar sobe com gasto fora do teto e falas de Lula

Bolsa cai e dólar sobe com gasto fora do teto e falas de Lula

A Bolsa de Valores brasileira caminhava para o segundo dia de forte queda na tarde desta quinta-feira (17) diante da expectativa de ampliação dos gastos públicos. O mercado reagia à proposta do novo governo de furar o teto de gastos para pagar o Bolsa Família e às declarações do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a reação dos mercados.

Às 17h29, o Ibovespa caía 1,17%, aos 108.849 pontos. Pela manhã, chegou a cair mais de 2%, recuando à mínima de 107.245 pontos.

O dólar comercial à vista fechou com alta 0,44%, cotado a R$ 5,4080 na venda. A alta da moeda americana também foi suavizada em relação à abertura do mercado de câmbio, quando a divisa disparou mais de 2% e atingiu um pico de R$ 5,53.

Em fala durante encontro com ONGs nesta quinta, Lula defendeu furar o teto de gastos como uma “responsabilidade social”, para conseguir financiar programas sociais. Na COP27, conferência do clima da ONU que ocorre em Sharm el-Sheikh, no Egito, ele participou de uma reunião com a sociedade civil brasileira.

“Se eu falar isso vai cair a Bolsa, vai aumentar o dólar? Paciência”, disse Lula, completando que a flutuação dos índices não acontece “por causa das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que ficam especulando todo santo dia”.

Na quarta-feira (16), o Ibovespa tombou 2,58% e o dólar avançou 1,52% com o mercado doméstico pressionado enquanto a aguardava a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, que só foi apresentada à noite pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).

A medida é considerada necessária para evitar um apagão social no ano que vem, já que a proposta de Orçamento enviada em agosto pelo governo Jair Bolsonaro (PL) assegura apenas um valor médio de R$ 405,21 para os beneficiários, além de impor cortes severos nas verbas para a habitação e no Farmácia Popular.

Apesar da reconhecida necessidade de ampliar despesas, analistas alertam que, caso o governo não estabeleça limites claros para isso, o mercado passará a ser movido pela expectativa de que o dinheiro público irá impulsionar a inflação e a alimentar a necessidade de elevação dos juros.

Eles explicam que, para controlar essa pressão inflacionária, o Banco Central pode retomar as elevações da taxa de juros do país, hoje em 13,75% ao ano. Juros altos tendem a esfriar o mercado de ações, pois investidores se voltam para os ganhos oferecidos pela renda fixa. Isso reduz a capacidade das empresas financiarem seus projetos, prejudicando a geração de emprego.

Além disso, o descontrole dos gastos públicos pode dificultar a execução do plano financeiro traçado pelo governo. É o chamado risco fiscal. Investir no país fica mais arriscado e os dólares dos estrangeiros vão para fora, tornando a moeda americana mais cara por aqui (o que também gera mais inflação devido aos custos de importação).

Quem continua investido no Brasil passa a exigir um retorno maior dos títulos do governo para compensar o risco, o que exerce ainda mais pressão no mercado de juros.

Esse efeito bola de neve, dependendo da proporção, pode ser devastador para a economia e o principal sintoma de que isso pode estar em curso é a alta dos contratos de juros futuros de curto prazo que são referência para o mercado.

Em mais um dia de acentuada elevação, a taxa DI (depósitos interbancários) para 2024 oscilava em torno dos 14% ao ano na tarde desta quinta.

“Os juros sobem com a ideia de que o Brasil pode ter um problema fiscal devido à intenção do governo de aumentar os gastos”, comentou Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos. “Já que o país quer gastar mais, o investidor cobra um prêmio maior.”

No exterior, o cenário também não era bom. Pelo segundo dia seguido, os principais mercados de ações mundiais negociavam com quedas moderadas, o que também criava uma tendência ainda mais desfavorável para a Bolsa brasileira, cuja metade do montante movimentado vem de investidores estrangeiros.

Parâmetro para a Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 caía 0,83% nesta quinta. Na véspera, o mercado americano abandonou o otimismo provocado nos últimos dias pela narrativa de que os juros no país poderiam subir menos nos próximos meses após a inflação ter perdido força em outubro.

Autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), porém, passaram a reafirmar que o aperto ao crédito para frear a inflação será mantido.

Paralelamente, sinais de que a alta dos juros já provoca sinais de recessão voltaram a chamar a atenção.

Entre esses sinais está o balanço trimestral com resultados abaixo do esperado da varejista Target.

“Dados da gigante varejista americana Target também preocuparam investidores, demonstrando um mercado desafiador para o varejo e aumentando a preocupação de uma recessão no país”, comentou Antonio Sanches, analista de investimentos da Rico.

O banco JP Morgan também apontou em relatório que os Estados Unidos caminham para uma leve recessão, segundo a agência Bloomberg.

A desaceleração da economia tende a reduzir a demanda por energia e isso afetava o preço de referência do petróleo. O barril do Brent perdia 3,15%, cotado a US$ 89,71. Na Bolsa brasileira, as ações mais negociadas da petrolífera Petrobras perdiam 1,33%.

(Clayton Castelani – Folhapress /Foto: Diego Padgurschi/Folhapress)

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