Volume útil de Furnas é o mais baixo para setembro desde o apagão de 2001

A represa da hidrelétrica de Furnas, que abrange 34 municípios de Minas Gerais, atingiu o menor volume do ano e o pior índice para setembro desde 2001, ano em que o país sofreu racionamento de energia elétrica.
Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema), o volume útil do reservatório alcançou 14,27% na segunda-feira passada, num cenário de redução gradual registrado no decorrer deste ano e que tem prejudicado cerca de 50 atividades econômicas desenvolvidas nas cidades mineiras banhadas por Furnas, segundo a Alago (Associação dos Municípios do Lago de Furnas) e o comitê da bacia hidrográfica.
Quando o Brasil vivia o racionamento energético de 2001, o nível do lago chegou a 12,78% em setembro daquele ano, cenário que pode se repetir se o reservatório seguir a tendência de baixa que tem registrada.
Há um ano o volume útil estava em 39,67%. Em 1º de julho, já tinha chegado a 29,1%, volume que um mês depois recuou para 24,60%. No início deste mês, baixou para 17,18%.
Essa redução faz com que a água esteja atualmente em 754,01 m acima do nível do mar, 7,99 m abaixo do mínimo desejado, conforme a Alago, prefeituras e o comitê.
O nível mínimo de operação da barragem, localizada entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, é 750 m.
O pedido dos municípios é que Furnas opere sempre acima da cota 762 m, para assim ter 50% do volume útil do reservatório, que poderia ser atingido gradativamente em três anos, na avaliação do setor. Com 768 m, a represa alcança 100%.
“Está péssimo e piorando a cada dia. Turismo com prejuízo acima de 50%, piscicultura teve queda de mais de 70% na produção de pescados e pequenos agricultores, com suas plantações nas margens do lago, estão sem irrigação”, disse Fausto Costa, secretário-executivo da Alago e vice-presidente do comitê da bacia.
A usina, que entrou em operação em 1963, até registrou níveis mais baixos que o atual nas últimas duas décadas, mas não em setembro. Em novembro de 2017, por exemplo, chegou a apenas 8,86%. Antes, em 1999, ficou com apenas 6,28% de água.
“Se houvesse outra política de geração de energia, outro pensamento, de tentar ao máximo reter a água no lago de Furnas nos últimos anos, ele estaria dando condições de uso múltiplo, de várias outras atividades e hoje, na escassez hídrica, estaria garantindo o país com geração de energia”, afirmou Costa.
A solução, diz ele, passaria pelo uso antecipado das termelétricas, cuja energia é mais cara. “Mas não correríamos o risco de apagão. O reservatório de Furnas, como o nome diz, estaria reservando água, atendendo o turismo e suas múltiplas atividades. Isso não foi feito, e todos sofrem.”
Furnas informou, por meio de sua assessoria, que os níveis dos reservatórios e a energia despachada são programados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema), órgão responsável pela integração do sistema, e que a usina está operando com uma geração em torno de 280 MW, o que corresponde a 23% da capacidade instalada, de 1.216 MW.
O piscicultor Alceu Galhardo, que teve sua atividade prejudicada em Carmo do Rio Claro, uma das cidades banhadas por Furnas, disse que sofre com a seca desde o primeiro semestre e que medidas de incentivo à atividade precisam ser tomadas.
“A gente fica praticamente sem renda em períodos assim, porque falta uma política de preservação da atividade.”
Na última quarta-feira, o governo Romeu Zema (Novo) anunciou o início do processo administrativo de tombamento dos lagos de Furnas e Peixoto, o que, se concretizado, manterá a cota mínima de 762 m em Furnas.
A proposta foi aprovada pela Assembleia Legislativa mineira e é defendida por Zema, mas o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ingressou com ação de inconstitucionalidade no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a norma.
O presidente de Furnas, Clovis Torres, se reuniu em Alfenas com representantes da Alago e dos municípios banhados por Furnas no último dia 17 e disse levar “uma palavra de conforto” à região.
Ele anunciou propostas como programas para pescadores e o turismo. Segundo Furnas, já foi iniciada a fase de inscrição do programa aos pequenos piscicultores da agricultura familiar e pescadores artesanais. (Marcelo Toledo – Folhapress)

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