Varejo sobe na Bolsa após deflação, mas exterior atrapalha ganho
Preocupações com as principais economias do planeta apagaram parte dos ganhos do mercado de ações brasileiro nesta quarta-feira (24), que operou com alta consistente durante boa parte do dia com o impulso da valorização do petróleo sobre as ações da Petrobras e o ânimo do setor varejista com dados prévios que indicam a desaceleração da inflação em agosto.
Parâmetro para a Bolsa, o índice Ibovespa fechou com ligeiro ganho de 0,04%, a 112.897 pontos. No início da tarde, o indicador havia escalado aos 113.887 pontos, uma elevação de quase 1% em relação à véspera.
Além da valorização de 0,60% da Petrobras, beneficiada pela alta do preço do petróleo, importantes varejistas contribuíram para sustentar o Ibovespa no azul. Magazine Luiza e Natura subiram mais de 8%. A empresa de viagens CVC saltou 11,3%.
O setor de varejo é sensível à variação da inflação, já que o ramo depende do aumento do poder de compra da população e da queda da taxa de juros para crescer, segundo Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) teve deflação de 0,73% em agosto. É a menor taxa desde o começo da série histórica, iniciada em novembro de 1991. O índice acumula avanço de 9,60% em 12 meses. Até o mês passado, a alta era de 11,39%.
“A deflação é sempre uma notícia bem recebida pela população”, comentou Abdelmalack.
No exterior, porém, o ambiente para os negócios inspirou cautela, segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.
Além da expectativa sobre a postura dos membros do Fed (Federal Reserve, a autoridade monetária americana) no simpósio de bancos centrais que começará nesta quinta-feira (25) em Jackson Hole, nos Estados Unidos, o mercado está atento a questões que atrapalham o crescimento da China, destino mais importante para as exportações brasileiras.
Jennie Li, estrategista de ações da XP, destacou a queda de 1,2% do índice de Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, após resultados fracos das montadoras de veículos. As empresas tiveram o abastecimento prejudicado pelas restrições impostas para o controle da Covid.
Além disso, o racionamento de energia em algumas regiões do país, por conta da seca severa, continua causando preocupações quanto à atividade econômica chinesa, afirmou a estrategista da XP.
As ações da mineradora Vale devolveram metade do lucro da véspera e fecharam com queda de 3,22%, exercendo o maior peso negativo sobre o Ibovespa.
Na terça-feira (23), a Vale havia saltado 6,41%, sendo uma das principais responsáveis pela alta de 2,13% da Bolsa.
Cabe destacar que houve forte alta na sessão passada da Bolsa e investidores rotineiramente decidem vender papéis valorizados em momentos de incertezas na economia global.
DÓLAR SOBE EM DIA DE EXPECTATIVA COM BANCOS CENTRAIS
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou a sessão em alta de 0,21%, cotado a R$ 5,11. Em geral, moedas de países emergentes perderam valor contra a divisa americana nesta terça.
Esse movimento refletiu a preocupação de investidores com uma possível escalada dos juros, segundo Fábio Guarda, sócio e gestor da Galapagos Capital.
Na sexta-feira (26), o presidente do Fed, Jerome Powell, fará o seu pronunciamento em Jackson Hole.
Um discurso abertamente favorável a um rigoroso aperto ao crédito pode tirar dólares de países emergentes rumo ao Tesouro dos Estados Unidos, tornando a moeda americana mais escassa e cara nessas regiões.
O petróleo avançava além dos cem dólares pelo segundo dia consecutivo no fechamento do mercado desta quarta. No fim da tarde, o barril do Brent estava cotado a US$ 101,74 (R$ 519,32), uma alta de 1,54%.
No mercado acionário americano, os principais índices apontaram ganhos moderados. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,18% 0,29% e 0,41%, respectivamente.
(Clayton Castelani – Folhapress /Foto⁚ Diego Padgurschi /Folhapress)