Valorização do real terá efeito na inflação nos próximos meses, diz diretor do BC

Valorização do real terá efeito na inflação nos próximos meses, diz diretor do BC

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nesta segunda-feira (30) que o real se tornou um destaque positivo entre as moedas de economias emergentes desde a virada do ano e que espera ver o reflexo da valorização cambial sobre a inflação nos próximos meses.

“Daqui uns três ou quatro meses, assim espero, a gente vai olhar para o Brasil revertendo o choque do câmbio, o câmbio passando a performar mais. Essa valorização é recente e vai começar a bater [na inflação] nos próximos meses”, afirmou Serra, em evento promovido pela Kinea Investimentos, gestora de recursos controlada pelo Itaú Unibanco.

Segundo ele, as pressões decorrentes da guerra entre Rússia e Ucrânia encobriram os impactos positivos da apreciação do real. “O choque da invasão da Ucrânia bagunçou um pouco, foi muito agudo e mascarou esse efeito benigno do câmbio”, disse.

No acumulado em 12 meses até abril, o IPCA ficou em 12,13%, maior nível desde outubro de 2003 (13,98%). Na última terça-feira (24), o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) atingiu 12,20%, com elevação de 0,59% em maio, ante alta de 1,73% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O diretor do BC apontou também que, apesar de a defasagem da política monetária suavizar a volatilidade dos preços das commodities, como do petróleo, os efeitos secundários foram tão intensos que já são relevantes para as projeções da autarquia.

“De agora até a próxima reunião [em junho], a gente está 100% focado na inflação de 2023. Qualquer choque ou flutuação de preço de petróleo agora vai bater nas nossas projeções até o fim do ano, os efeitos secundários vão bater em 2023. Esse modelo já suaviza bastante, dentro do que acho razoável numa boa condução de política monetária”, disse.

“O problema é que os choques são tão grandes que os efeitos secundários já são relevantes. A gente tem de conviver com isso, é desafiador, mas temos que lidar”, completou.

Para Serra, no Brasil, o preço do petróleo ao consumidor “mal ou bem” está ajustado, enquanto há atraso em alguns países da América Latina para fazer esse ajuste. Destacou também que o resto do mundo deve atingir o pico de inflação mais adiante, enquanto o indicador, ainda que em um alto nível, deve começar a desacelerar no país.

O diretor do BC apontou ainda que, passados os choques, a inflação global deve caminhar para baixo, com Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e outros bancos centrais empenhados em trazer o indicador para suas respectivas metas.

Nos 12 meses até abril, os preços ao consumidor nos EUA aumentaram 8,3%. Diante disso, o Fed aumentou as taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1% ao ano, no início do mês de maio.

Com o ciclo de aperto monetário avançado no Brasil, Serra considera que a taxa básica de juros (Selic) é uma variável de ajuste e que o alto patamar atual, hoje em 12,75% ao ano, é uma questão transitória. O diretor do BC ressaltou que a Selic média entre 2004 e 2012, período de forte crescimento da economia, era de 12% ao ano.

“A gente vai convergir para um nível de taxa de juro que considera hoje neutro, por volta de 7% [ao ano], 3,5% real, meta de inflação de 3%. É do momento, do mesmo jeito que foi 2%, agora ela está 13%, vai ter momento que vai normalizar de novo”, disse.

No dia 4 de maio, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, a 12,75% ao ano. Para a próxima reunião, nos dias 14 e 15 junho, sinalizou uma provável alta adicional de menor magnitude.

Segundo Serra, o momento exige aperto monetário global. “Quem tem mais credibilidade acumulada pode esperar um pouco mais, mas em algum momento todo mundo terá de reagir”, afirmou.

(Nathalia Garcia – Folhapress /Foto: Raphael Ribeiro / Banco Central do Brasil/Divulgação)

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