Turma da mamata viaja em aviões da FAB com amigos
Os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga (foto), e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o senador Cid Gomes (PDT-CE) e a primeira-dama Michelle Bolsonaro usaram jatinhos fretados no Congresso e aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) de maneira, no mínimo, controversa em 2021.
A avaliação é dos autores de “Nas asas da mamata” (Matrix Editora, 2021), que contou a história da chamada “farra das passagens”. De acordo com eles, os aviões da FAB, destinados com exclusividade ao Poder Executivo, e os jatinhos do Congresso serviram para fazer viagens não condizentes com a agenda política pelo menos 12 vezes nos últimos dois anos.
A reportagem entrou em contato com Eduardo Bolsonaro, mas sua defesa ainda não se pronunciou.
Parte das informações está no livro, lançado em agosto deste ano. Outra parte foi compilada pelos autores enquanto a obra era impressa e depois do lançamento.
Os autores Eduardo Militão, Eumano Silva, Lúcio Lambranho e Edson Sardinha investigaram que o custo dos voos, que incluiu amigos e parentes dos representantes políticos, ultrapassa R$ 2,1 milhões no período.
Para eles, a falta de transparência existe mesmo depois da “farra das passagens áreas”, que investigou no fim dos anos 2000 mais de 560 políticos que viajaram com amigos e parentes com dinheiro público.
Após o escândalo, o Congresso passou a publicar detalhes de viagens dos parlamentares em voos comerciais, incluindo rota, nome dos passageiros, gastos feitos e proibição de parentes. No entanto, há brecha em voos da FAB ao exterior, por exemplo, que não exigem esse tipo de informação.
O deputado Eduardo Bolsonaro aparece duas vezes com as viagens a Israel, em 6 de março deste ano, onde participou de uma comitiva para discutir a compra do spray nasal contra Covid-19, e a participação na Expo Dubai com 69 convidados, em outubro, cuja foto em que aparece vestido como sheik com a esposa e filho viralizou.
Segundo o livro, as viagens do filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (PL) custaram mais de R$ 1,570 milhão aos cofres públicos.
O ministro Queiroga levou parentes a viagens pelo Brasil entre março e agosto deste ano em aeronaves da FAB. As despesas não foram reveladas. A mesma situação se repete em uma viagem feita pela ministra Damares Alvares e a primeira-dama Michelle Bolsonaro em 24 de outubro, que também utilizaram aviões da Força Aérea.
Já o senador Cid Gomes fez um voo fretado a Salvador em 29 de setembro que custou R$ 54 mil.
Ministros do Executivo, do TCU (Tribunal de Contas da União) e parlamentares gastaram R$ 500 mil em uma viagem ao Fórum Jurídico de Lisboa em jatos da FAB no dia 15 de novembro, apontam os autores.
Em nota, a FAB declara que cumpre Decreto n° 10.267, de 5 de março de 2020, que dispõe sobre o transporte aéreo de autoridades em aeronaves do Comando da Aeronáutica.
“Os dados incluem a autoridade solicitante, trajeto, data, horário de decolagem e de pouso, o motivo da solicitação, além da previsão do número de passageiros. Após a execução do voo, os dados são transcritos no site da FAB no primeiro dia útil subsequente, como declarado pelo solicitante.”
Já a pasta de Saúde diz que ” cabe a autoridade solicitante o uso de vagas ociosas na aeronave.”
Por sua vez, o ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos diz que a Damares cumpriu agenda na capital paulista e que, portanto, não houve irregularidades. Em nota enviada à reportagem, a pasta afirma que voluntários do programa Pátria Voluntária entraram no mesmo avião que Damares Alves.
“A referida missão oficial teve o propósito de cumprimento de agendas da ministra Damares Alves (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) e do ministro Gilson Machado (Ministério do Turismo) entre outras autoridades, em São Paulo. Entre as agendas, as autoridades visitaram o Instituto Olga Kors, que promove a inclusão de pessoas com deficiência intelectual no esporte”, informa trecho da declaração.
“Além das autoridades citadas acima, a lista de passageiros encaminhada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para a FAB incluiu voluntários do programa Pátria Voluntária”, conclui. (Folhapress)