Taiwan derruba pela primeira vez drone na costa da China
A tensão voltou a subir no estreito de Taiwan nesta quinta (1º), quando forças de Taipei derrubaram pela primeira vez um drone que invadiu o espaço aéreo de uma de suas pequenas ilhas junto à costa da China.
O drone é presumivelmente chinês. Pequim não confirmou ser dona do aparelho, mas promoveu uma incursão aérea de médio porte contra as defesas da ilha autônoma que considera uma província rebelde, enviando 14 caças sobre a chamada Linha Mediana que divide o estreito entre o continente e Taiwan.
O aparelho foi derrubado sobre a ilhota do Leão, parte do arquipélago Kinmen, a cerca de 3 km das cidades chinesas de Xiamen e Quazhou. Ele era civil e de pequeno porte, do tipo usado com frequência pela China para espionar atividades militares nessas pequenas possessões taiwanesas. Ele foi abatido a tiros.
Essa foi a primeira “forte resposta”, como prometera a presidente da ilha, Tsai Ing-wen, à renovada atividade militar de Pequim em torno de Taiwan. Ela foi escalada pela visita da chefe da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipei no mês passado.
A viagem, a primeira do gênero em 25 anos, havia sido desaconselhada publicamente pelo presidente Joe Biden, do mesmo Partido Democrata de Pelosi. Ela disparou uma série de exercícios militares inéditos, que simularam o bloqueio e a invasão de Taiwan pelos chineses.
Desde então, Pequim mantém uma espécie de vigília permanente na região em torno da ilha. Nesta quinta, segundo o Ministério da Defesa taiwanês, havia 53 aviões e 8 navios de guerra em torno de suas águas territoriais -14 das aeronaves cruzaram o espaço aéreo informal, obrigando o despacho de caças para interceptá-las.
Também tem crescido o envio de drones de vigilância e aparelhos civis equipados com câmeras para essas pequenas ilhas que Taiwan possui espalhadas perto da costa chinesa. Elas são vistas como o primeiro alvo de um processo de retomada da ilha.
Essa absorção é política nacional na China comunista, que desde 1949 não controla Taiwan, destino dos líderes derrotados na revolução liderada por Mao Tsé-tung. O local virou peça-chave da Guerra Fria 2.0 entre Washington e Pequim devido à ambiguidade americana.
Quando estabeleceu laços com o regime comunista, em 1979, os EUA implicitamente reconheceram o princípio de “uma só China”, que norteia o controle agora total sobre Hong Kong e Macau, ex-colônias europeias, e a meta de trazer Taiwan para o domínio de Pequim.
Desde que assumiu o poder em 2012, o líder Xi Jinping deixa claro que pretende fazer isso pacificamente ou pela força, se necessário. Os EUA, apesar a aprovação tácita da ideia, na prática se opõem: financiam vendas militares para Taiwan e prometem defender a ilha de invasão.
Com o acirramento do conflito entre as duas maiores economias do mundo, Taipei virou linha de frente, com visitas frequentes de autoridades americanas para provocar Pequim. A situação se amplia no entorno estratégico chinês, com os EUA cada vez assertivos na defesa do que chamam de liberdade de navegação -que a China percebe como ensaio para bloqueios de suas rotas marítimas.
Os americanos, por sua vez, denunciam a militarização comunista do mar do Sul da China, que se acelerou depois que Xi chegou ao poder. Firmaram um pacto de defesa com a Austrália e o Reino Unido e reviveram uma aliança anti-chinesa com Japão, Austrália e Índia.
Xi, por sua vez, conta com o peso econômico de seu país na região para atrair aliados e tem a Rússia de Vladimir Putin, que desafia os EUA com a Guerra da Ucrânia, como principal parceira no embate geopolítico.
Não por acaso, o presidente russo criticou abertamente os EUA pela visita de Pelosi, chamada de provocação a Pequim.
(Igor Gielow – Folhapress /Foto⁚ Pedro Ladeira/Folhapress)