Servidores do BC aprovam fim da greve mesmo sem reajuste salarial
Mesmo sem reajuste salarial, os servidores do Banco Central aprovaram, em assembleia nesta terça-feira (5), o encerramento da greve que já durava três meses e a retomada imediata ao trabalho.
De acordo com o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), em nota, “a decisão da categoria levou em consideração que o movimento cumpriu seu papel –haja vista o envio, por parte da autoridade monetária ao Ministério da Economia, de propostas para a reestruturação de carreira, que envolve aspectos não salariais”.
Após o anúncio do fim da greve, o BC comunicou que “com a retomada da normalidade dos trabalhos, as divulgações passadas serão atualizadas assim que possível. Divulgaremos as datas quando forem definidas”.
À reportagem, o presidente do Sinal, Fábio Faiad, disse que a decisão não significa o fim do movimento. “A mobilização vai continuar. Nós vamos elaborar algumas novas estratégias de luta, infelizmente, não posso adiantar ainda.” Novas atividades de mobilização e protesto já estão sendo debatidas pela categoria.
Na véspera da decisão, na manhã de segunda (4), os servidores do BC fizeram um protesto em frente à sede da autarquia, em Brasília. Por volta das 11h, os funcionários formaram uma meia-lua ao redor do prédio, ao som do Hino Nacional, em um abraço simbólico.
Segundo o Sinal, cerca de 300 pessoas marcaram presença na mobilização na capital federal. Também foram realizados atos em Curitiba, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A paralisação foi mantida até o último dia em que seria possível conceder aumento salarial ao funcionalismo público em razão do prazo imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede elevação de gasto com pessoal nos últimos 180 dias do mandato.
A greve do BC teve início em 1º de abril, quando os servidores decidiram intensificar a mobilização por reajuste salarial e reestruturação de carreira. Duas semanas antes, a categoria já vinha realizando paralisações diárias das 14h às 18h e atuando em operação-padrão.
A pressão começou após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter acenado conceder aumento para policiais federais, categoria que compõe sua base de apoio.
Entre 20 de abril e 2 de maio, os servidores da autarquia fizeram uma trégua na greve na tentativa de avançar nas negociações com o governo. Na ocasião, falaram em dar um “voto de confiança” ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. Sem sucesso nas tratativas, voltaram a cruzar os braços no dia 3 de maio.
A rotina da autoridade monetária ficou bastante comprometida no período, com a interrupção na divulgação periódica de uma série de indicadores importantes para o mercado financeiro, como a pesquisa Focus e dados do fluxo cambial.
O retorno do SVR (Sistema de Valores a Receber) estava previsto para o dia 2 de maio, mas o início da segunda etapa de saques de dinheiro esquecido em instituições financeiras foi adiado.
A mobilização dos servidores prejudicou o cronograma de desenvolvimento de melhorias dessa e de outras ferramentas. Os pilotos com o real digital ficaram para 2023, enquanto estavam previstos testes ainda neste ano.
Reuniões e eventos também foram cancelados nos últimos meses. As duas plenárias do Fórum Pix, agendadas para março e junho, foram postergadas. O encontro conta com a participação de representantes de diversas instituições financeiras para discutir assuntos relacionados a pagamentos instantâneos.
Inicialmente, os funcionários do BC pediam um reajuste salarial de 27%. À medida que um acordo por aumento para a categoria parecia mais distante, os servidores apresentaram uma contraproposta de 13,5%.
O governo, por sua vez, chegou a estudar um reajuste de 5% para todos os servidores públicos federais a partir de 1º de julho, mas descartou essa possibilidade após corte feito no Orçamento.
Em maio, o BC chegou a encaminhar uma proposta de MP (medida provisória) ao Ministério da Economia com a demanda de reajuste salarial de 22% aos servidores, mas retirou a minuta do sistema alegando ter observado “inconsistências”.
Entre as demandas de reestruturação de carreira, os servidores pediam a inclusão do BC como carreira típica de Estado, a criação de uma retribuição por produtividade institucional, o estabelecimento de uma taxa de supervisão, além da exigência de nível superior para o ingresso no cargo de técnico e da alteração do nome do cargo de analista para auditor.
(Nathalia Garcia – Folhapress /Foto: Antonio Molina/Folhapress)