Sem Petrobras, BR Distribuidora mira agora o setor de energia
A saída definitiva da Petrobras torna a BR Distribuidora uma empresa com maior potencial de gerar valor e com capacidade de entregar produtos a preços mais competitivos, disse nesta segunda-feira o presidente da companhia, Wilson Ferreira Jr.
Maior distribuidora de combustíveis do país, a empresa prepara um plano estratégico para avançar no setor de energia, fornecendo soluções como eletricidade e gás natural.
“Nosso papel será suprir a energia que esse consumidor quiser ter para fazer a transição energética.”
A operação de venda das últimas ações da Petrobras na ex-subsidiária foi concluída nesta segunda, por R$ 11,3 bilhões. Investidores estrangeiros ficaram com pouco mais de um terço das ações oferecidas, que correspondem a 37,5% do capital da empresa.
Ao todo, 7.795 investidores, entre pessoas físicas e instituições, adquiriram os papéis. “É uma demonstração de confiança na empresa”, disse Ferreira Jr. “E de confiança no país. (O setor de combustíveis] é um negócio que cresce com o PIB [Produto Interno Bruto).”
Após a oferta de ações, a BR se torna uma corporação sem dono, estrutura semelhante à que o governo pretende para a Eletrobras, que foi presidida por Ferreira Jr entre 2016 e o início de 2021.
“[Esse modelo] cria empresas com capacidade de investimento importante. Não é à toa que os países que adotaram esse modelo são aqueles que crescem mais”, defende o executivo, que foi responsável pelo enxugamento da estatal elétrica nos últimos anos.
Um novo plano estratégico está sendo desenhado para a BR, mas a empresa já deu o primeiro passo ao adquirir a comercializadora Targus Energia, operação concluída em março deste ano. A rede de 80 mil postos e os 18 mil clientes diretos são os primeiros alvos na oferta de soluções energéticas.
A ideia, segundo Ferreira Jr, é ter a Targus como um veículo para viabilizar a construção de novas usinas de energia para negociar os contratos com essa extensa clientela. Um dos focos são as energias renováveis, para cumprir requisitos de ESG.
No mercado de combustíveis, o crescimento deve ser vegetativo, sem grandes aquisições, já que dificilmente o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) permitiria a compra de algum concorrente com maior presença no mercado.
Atualmente, a BR concentra 27% das vendas de diesel e 25% das vendas de gasolina do país. Seus concorrentes mais diretos, Raízen e Ipiranga, têm fatia um pouco menor. Juntas, as três maiores companhias são donas de cerca de dois terços do mercado.
Ferreira Jr disse que, com estrutura mais enxuta e maior eficiência, a BR já avançou sobre a concorrência em 2020, ganhando 240 novos postos e 2,4 pontos percentuais em fatia de mercado. O avanço, diz, é um argumento contra críticas sobre eventuais efeitos da privatização nos preços dos combustíveis.
“Estamos sendo capazes de suprir os revendedores com preços mais competitivos, resultado da eficiência da companhia nas operações e também na compra dos produtos”, diz. “A BR se transformou, nos últimos dois anos, na maior importadora de combustíveis do país.”
No primeiro trimestre, diz ele, foi a grande distribuidora a apresentar os melhores indicadores de custos. No período, a BR registrou lucro de R$ 492 milhões, mais que o dobro do verificado no mesmo período do ano anterior.
A saída definitiva da Petrobras, diz ele, destrava valor da companhia, ao eliminar o risco político e tirar do horizonte a possibilidade de nova oferta de fatia relevante do capital. E abre caminho para novas fontes de financiamento para sustentar os novos negócios.
As ações que eram da Petrobras foram vendidas a R$ 26. Ainda na quarta, mesmo dia da operação, subiram para R$ 26,68. Nesta segunda, os papéis da distribuidora fecharam o pregão a R$ 29,46.
A BR já havia sido alvo de duas operações em Bolsa. Na primeira, em 2017, a Petrobras levantou R$ 5 bilhões com a venda de 28,75% do capital da subsidiária. Na segunda, em 2019, foram vendidas 33,75% das ações, por R$ 8,6 bilhões.
Assim, em valores corrigidos pela inflação, a privatização da BR rendeu à estatal R$ 26,6 bilhões. A saída da subsidiária é parte do plano de venda de ativos da estatal, que defende que precisa de recursos para reduzir sua dívida e focar na exploração de petróleo no pré-sal.
O programa de venda de ativos começou após os anos de prejuízo com o reconhecimento de perdas com o esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e foi acelerado no governo Bolsonaro, que realizou em 2020 a primeira venda de refinaria da história da companhia.
A Refinaria Landulpho Alves, em Salvador, foi vendida ao fundo Mubadala por US$ 1,65 bilhão (R$ 8,8 bilhões pelo câmbio da época), processo que abriu uma guerra judicial movida por sindicatos e partidos da oposição.
O plano prevê a venda de outras sete refinarias, com a empresa focando suas operações de produção de combustíveis na região Sudeste, mantendo apenas as unidades de São Paulo e do Rio de Janeiro.(Nicola Pamplona – Folhapress)