Saúde mental no trabalho: especialista alerta para sinais de esgotamento e propõe ações práticas para empresas

Por Bárbara Souza
Em um cenário corporativo marcado por cobranças excessivas, longas jornadas e transformações aceleradas, a saúde mental tornou-se um desafio urgente para as organizações. Diante desse panorama, em entrevista ao Diário do Acionista, Denise Garcia, que é especialista em Neurociência e Comportamento e na Ciência do Bem-estar, destaca os sinais de alerta e medidas preventivas para as empresas.
“Estamos vivendo em uma era digital marcada por alta demanda e transformações constantes, o que tem gerado, de forma progressiva, um nível elevado de exaustão mental”, afirma Denise. Entre os principais indicativos, segundo ela, estão:
- Aumento da irritabilidade e impaciência
- Cansaço excessivo e queixas físicas recorrentes (como dores de cabeça e musculares)
- Queda na produtividade e absenteísmo
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, globalmente, 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, com custos estimados em US$ 1 trilhão em produtividade. No Brasil, o INSS registrou 472 mil afastamentos por questões psicológicas em 2024 — um aumento de 68% em relação a 2023 —, sendo 64% dos casos envolvendo mulheres.
“As lideranças devem estar atentas a essas mudanças sutis de comportamento, pois são indicativos de que algo não vai bem”, ressalta. A especialista defende conversas francas e acolhedoras, além de programas de bem-estar e pausas conscientes durante o expediente.
“A prevenção começa com o diálogo e a criação de um ambiente de trabalho seguro e saudável, onde os colaboradores se sintam à vontade para expressar suas ideias, emoções e dificuldades sem medo de julgamentos ou represálias”, explica Denise, que participou da live ‘Papo de Acionista’ no Instagram, neste mês, falando sobre saúde e bem-estar nas empresas.
Ansiedade e depressão: rompendo tabus
A ansiedade, segundo Denise, está ligada a “uma mente sobrecarregada por cenários futuros”, agravada por culturas organizacionais tóxicas.
“No ambiente corporativo, esse quadro é agravado por cobranças excessivas, pressão contínua e, muitas vezes, por uma cultura organizacional tóxica. Muitos profissionais, por dependerem do trabalho para sua subsistência, acabam suportando situações que comprometem profundamente sua saúde emocional”, aponta.
Para mudar esse cenário, a especialista enfatiza:
- Capacitação de líderes: “O comportamento dos líderes reverbera diretamente nas equipes — são eles que modelam a cultura.”
- Comunicação não julgadora: Empresas com políticas claras reduzem afastamentos e aumentam o engajamento.

Burnout: um esgotamento silencioso
Denise afirma que o burnout é um “esgotamento mental, físico e emocional que resulta da exposição prolongada a situações de estresse crônico no ambiente de trabalho”, e o compara a uma bateria que nunca é recarregada completamente.
“É importante entender que o burnout não aparece de forma repentina. Ele é o resultado de uma sobrecarga contínua que vai se acumulando ao longo do tempo”, explica.
O distúrbio, reconhecido pela OMS como doença ocupacional em 2022, é resultado de estresse crônico não gerenciado e pode desencadear depressão e ansiedade. “Empresas e profissionais precisam agir nos primeiros sinais”, alerta.
Desigualdade de gênero e saúde mental
Com 301 mil mulheres afastadas por transtornos mentais em 2024 (INSS), Denise aponta fatores como:
- Dupla jornada (profissional e doméstica)
- Menor representatividade em liderança e pressão por competência
Ela cita a necessidade de políticas inclusivas, como revisão de vieses em promoções e treinamentos em habilidades socioemocionais.
Para Denise, a produtividade não deve ser inimiga do bem-estar, o que transforma a maneira com a qual o mundo corporativo é encarado. Soluções incluem:
- Flexibilização de horários (foco em entregas, não em presença)
- Métricas de saúde mental (“O que não se mede, não se gerencia”)
- Preparação para a NR-01 (norma que exigirá gestão de riscos psicológicos a partir de 2025)
“Investir em saúde mental não é opcional — é o básico para resultados sustentáveis”, conclui.
Foto de capa: Pexels
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