Rússia diz que não espera avanço em conversa com EUA sobre crise na Ucrânia
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse que não espera “avanços” com seu homólogo americano, Antony Blinken, no início de conversas em Genebra para tentar apaziguar a crise ucraniana. A declaração foi dada em um breve comentário do chanceler na manhã desta sexta, antes da reunião dele com Blinken.
O comentário de Lavrov recebeu resposta do ministro dos Estados Unidos. “Você está certo. Nós não esperamos resolver nossas diferenças hoje. Mas eu espero que possamos testar se o caminho da diplomacia e do diálogo continua aberto. Estamos comprometidos a caminhar por esse caminho, a resolver nossas diferenças de maneira pacífica e espero testar essas proposições”, afirmou o americano.
O secretário de Estado dos EUA apertou a mão do ministro das Relações Exteriores da Rússia, no hotel Presidente Wilson, onde a reunião está sendo realizada, antes de se sentarem para conversar.
Sentado à frente de Lavrov no início da reunião, prevista para durar em torno de duas horas, Blinken prometeu uma resposta “unida, rápida e forte” em caso de invasão da Ucrânia, mas garantiu, ao mesmo tempo, que os Estados Unidos ainda buscam uma solução diplomática. O lado norte-americano ainda acredita que a reunião possa diminuir as crescentes tensões entre os países.
O governo russo acusa a Ucrânia de ameaçar a segurança nacional ao adquirir armas estrangeiras e aspirar se juntar à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). “O que esperamos são respostas concretas para nossas propostas concretas”, afirmou Lavrov a respeito de uma série de propostas que a Rússia apresentou para limitar a expansão e as atividades da OTAN na Europa Oriental.
“Me refiro em particular ao princípio da indivisibilidade da segurança, bem como à obrigação dos países de não fortalecer sua própria segurança em detrimento da segurança de outros”, disse o ministro.
A reunião entre os diplomatas ocorre enquanto milhares de tropas russas se concentram perto das fronteiras do país vizinho e o presidente americano Joe Biden alerta que uma invasão pode ser provável.
As esperanças de Washington de criar uma frente unida de oposição a Moscou ficaram mais complicadas pelos comentários do presidente norte-americano Joe Biden em entrevista coletiva na quarta-feira, quando ele previu que a Rússia “entraria” na Ucrânia e que Moscou pagaria caro.
Blinken chegou a Genebra na noite de ontem após outras duas escalas agendadas às pressas na Europa para tratar da crise. Na ocasião, ele esteve em Berlim com autoridades alemãs, francesas e britânicas. Na quarta-feira (19), em Kiev, ele se encontrou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e garantiu mais apoio dos Estados Unidos.
A Rússia concentrou dezenas de milhares de tropas em suas fronteiras com a Ucrânia. Estados ocidentais temem que Moscou esteja planejando um novo ataque ao país que invadiu em 2014 para anexar a península da Crimeia. A Rússia nega que esteja planejando um ataque, mas diz que pode tomar uma ação militar não especificada se uma lista de exigências não for cumprida, incluindo uma promessa da Otan de nunca admitir a Ucrânia na aliança militar.
RESPOSTA RUSSA
Questionado pela emissora CBS News se a Rússia estava intimidada pela Ucrânia, o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, disse ao chegar para as negociações em um dia frio e tempestuoso em Genebra: “Não temos medo de ninguém, nem mesmo dos EUA”.
Em Moscou, o Kremlim reagiu friamente à iniciativa do Parlamento russo de reconhecer duas regiões separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia como Estados independentes, dizendo que era importante evitar medidas que possam aumentar as tensões.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que era importante não tentar ganhar pontos políticos em uma situação tão frágil.
O Kremlin não esperava que Blinken entregasse uma resposta por escrito às exigências da Rússia por garantias de segurança do Ocidente na sexta-feira, disse Peskov.
A Rússia quer que a Otan prometa não aceitar a Ucrânia como membro e que interrompa sua ampliação em direção ao leste. A aliança liderada pelos EUA rejeitou isso. (Folhapress)