Rishi Sunak conquista maioria conservadora e será novo premiê do Reino Unido
Rishi Sunak, ex-secretário de Finanças do Reino Unido, será o novo líder do Partido Conservador e, por consequência, o novo premiê britânico após a parlamentar Penny Mordaunt, sua concorrente, desistir da disputa na manhã desta segunda-feira (24).
Sunak, 42, a primeira pessoa não branca a ser eleita para a liderança britânica, vence a corrida iniciada após Liz Truss renunciar ao cargo na quinta (20) como resultado do fracasso de seu plano econômico. Ele tomará posse oficialmente como premiê na manhã desta terça (25).
Filho de pais que emigraram de nações da África Oriental, Sunak tem ascendência indiana e ganhou notoriedade no país após capitanear a economia em meio pandemia de coronavírus. Ele também foi um dos primeiros a pular fora do governo de Boris Johnson, em julho, quando a gestão mergulhou em uma crise.
Boris, que renunciou ao cargo em 7 daquele mês, chegou a ser cotado para tentar novamente o cargo de premiê. Mas anunciou no domingo (23) que não entraria na disputa, abrindo vantagem para Sunak.
O ex-secretário havia conquistado o apoio público de ao menos 51% dos parlamentares conservadores -são 357 no total. Para que candidatos avançassem na disputa, era necessário angariar ao menos cem apoios.
Penny Mordaunt, que se notabilizou como secretária de Defesa na gestão de Theresa May, em 2019, tinha cerca de 27 endossos públicos na manhã desta segunda, antes de desistir da corrida. Sua campanha, porém, dizia que ela já se aproximava de 90.
Mordaunt não falou sobre a cifra no comunicado em tom amistoso no qual manifesta a desistência. Em vez disso, disse que Sunak terá seu total apoio e que, com as eleições internas, seus correligionários demonstram aquilo que buscam para o país: estabilidade.
“Trata-se de uma decisão histórica, que mostra, mais uma vez, a diversidade e o talento do nosso partido; estou orgulhosa da nossa campanha e grata a todos que apoiaram minha candidatura.”
Pouco após a declaração, compartilhada nas redes sociais, Graham Brady, chefe do Comitê 1922 -grupo parlamentar responsável por organizar a eleição entre os conservadores-, confirmou que Sunak havia sido eleito líder da legenda.
Sunak será o primeiro premiê que o rei Charles 3º empossará. Ele estava em sua residência em Sandringham, mas voltou para o palácio de Buckingham. Na terça, deve receber Truss e Sunak -ela, para oficializar a renúncia; ele, para ser empossado primeiro-ministro.
A rainha Elizabeth 2ª, morta em 8 de setembro, nomeou ao longo de 70 anos de reinado 15 primeiros-ministros, sendo a última Liz Truss, recebida pela rainha apenas dois dias antes da morte da soberana.
O futuro premiê chegou a disputar a corrida anterior pela liderança britânica, contra Truss. Mas angariou cerca de 42% dos votos dos cerca de 160 mil membros do Partido Conservador, ante 57,4% da rival.
Truss, em breve comunicado, parabenizou Sunak pela vitória e disse que ele terá seu total apoio para governar. A ex-primeira-ministra Theresa May também enviou uma mensagem: “Sunak vai trazer a calma, a competência e o pragmatismo que nosso país precisa.”
Sunak é um dos políticos mais ricos do país. Seu pai é médico de família do sistema público de saúde; sua mãe, uma farmacêutica. Ele estudou em Oxford e em Stanford, onde conheceu e se casou com Akshata Murty, filha de um bilionário indiano do ramo da tecnologia.
Akshata possui 0,91% da empresa do pai, e sua pequena porcentagem vale algo como £ 750 milhões (R$ 4,5 bilhões). O casal tem duas filhas.
Ele terá o desafio de capitanear um país em crise política e econômica -a inflação acumulada é a maior em 40 anos, em parte fruto dos efeitos da Guerra da Ucrânia- e também um partido em corrente desidratação e descrédito após as sucessivas trocas de liderança.
Em junho, a inflação ultrapassou média anual de 10% pela primeira vez desde 1982, quando o país era governado por Margaret Thatcher (1979-1990). O índice caiu para 9,9% em agosto e voltou a 10,1% em setembro -mais que o triplo do registrado no mesmo mês em 2021.
Ainda na campanha contra Truss, Sunak foi assertivo. “A primeira regra de qualquer crise é assumir que se enfrenta uma. Vou liderar um esforço nacional para aumentar nosso suprimento de energia doméstica e cortar desperdícios. Vou trabalhar para que o Reino Unido esteja totalmente independente de energia por volta de 2045.”
Não há um detalhamento dos planos do novo líder conservador para a economia. Durante breve discurso na sede do partido, Sunak disse que o país enfrenta um profundo desafio econômico e que unir seu partido e a sociedade será sua prioridade. “Servirei vocês com humildade, e trabalharei dia sim, dia não, para isso.”
Sunak já está sendo pressionado por membros do Partido Trabalhista, assim como pelos Verdes e pelo conservador Reform, a convocar eleições gerais. As siglas argumentam que os conservadores não dispõem mais de legitimidade democrática para governar.
“O país não pode aguentar mais divisões internas de um pequeno grupo de conservadores elitistas cujas políticas para lutar contra a crise no custo de vida fracassaram”, disse Adrian Ramsay, colíder dos Verdes após a confirmação do nome de Sunak.
Sunak não se posicionou publicamente sobre o tema, mas parlamentares que participaram de uma reunião com o futuro premiê disseram que a possibilidade não está sendo aventada.
Preferido dos conservadores para assumir o desafio de guiar o país e o partido, ele também despontou como o político conservador menos impopular em uma pesquisa conduzida pelo instituto YouGov com mil britânicos entre os dias 14 e 16 -antes, portanto, de Truss renunciar.
No levantamento, o futuro premiê britânico aparece com um índice de favorabilidade (que mostra o saldo de opiniões positivas e negativas) de -28. Negativa, a cifra pode parecer um balde de água fria, mas apenas se olhada fora de contexto: Mordaunt tinha -33 e Boris, -40.
Sunak também era o menos impopular entre aqueles que dizem pretender votar no Partido Trabalhista se houvesse uma eleição geral. Neste caso, seu índice de favorabilidade é de -35, contra -48 de Mordaunt e -74 do ex-premiê Boris Johnson.
Se o Partido Trabalhista entra na corrida, porém, o cenário muda. Outra pesquisa do YouGov com 12 mil britânicos na última semana mostra que 38% dizem considerar que Keir Starmer, líder trabalhista, seria a melhor opção para premiê. Outros 29% dizem preferir Sunak, e 32% não têm certeza.
Entre as mensagens o parabenizando, Sunak recebeu uma do premiê da Índia, Narendra Modi. O nacionalista disse que espera trabalhar com Londres em questões importantes e que o Diwali -um feriado hindu que ocorre nesta segunda- deseja uma “ponte viva” com os indianos no Reino Unido, em referência à ascendência de Sunak. “Que transformemos laços históricos em uma parceria moderna.”
(Mayara Paixão – Folhapress /Foto: Pexels)