Reitor da USP toma posse e diz que é preciso combater ‘fuga de cérebros’
Carlos Gilberto Carlotti Júnior (foto) tomou posse, nesta quarta-feira, da reitoria da maior universidade da América Latina, a USP (Universidade de São Paulo). Também foi empossada a nova vice-reitora, Maria Arminda Arruda, a segunda mulher a ocupar o cargo.
A cerimônia, que ocorreu no Palácio dos Bandeirantes, teve a presença do governador João Doria (PSDB) e foi transmitida pela internet.
Carlotti é formado pela FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP. Lá também realizou residência médica em neurocirurgia, mestrado e doutorado.
Ele é docente da unidade desde 1996, sendo seu diretor no período de 2013 e 2016. Também foi pró-reitor de pós-graduação da USP, durante a gestão do seu antecessor, o reitor Vahan Agopyan.
No discurso de posse, Carlotti disse assumir o cargo em momento de tristeza, em meio ao avanço da pandemia, mas também de otimismo diante das conquistas da ciência.
O novo reitor, que ocupará o posto pelos próximos quatro anos, lamentou ainda que, nos últimos anos, o país tenha se aprofundado no que chama de “processo de desintegração cultural”.
“No mundo atual, o saber e a ciência representam a principal riqueza de uma nação, e o Brasil, infelizmente, arrisca-se a perder o sentimento da história contemporânea aproximando-se perigosamente da regressão e não do esclarecimento”, afirmou.
Carlotti disse ser “urgente” a valorização e a recuperação orçamentária de tradicionais agências de fomento do país, como Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que passam por uma grave crise financeira e política.
O reitor disse que essas entidades terão o apoio da USP para suas reivindicações junto aos órgãos superiores e o Poder Legislativo.
“Não podemos pactuar com a migração de talentos e fuga de cérebros comprometendo os dias vindouros. Precisamos de políticas sólidas voltadas à atenção e retração de talentos, inteligências das quais não podemos prescindir”, destacou o médico.
Sobre as consequência da pandemia, ele disse que é preciso “recuperar todos os prejuízos sociais e educacionais deste período e buscar soluções para os inúmeros problemas que afligem nossa sociedade”. Para ele, a USP não pode estar alheia nem se resguardar perante esses problemas agudos.
Carlotti afirmou que a nova gestão vai se pautar por meio de diálogo, criatividade e planejamento e prometeu manter os canais abertos com a comunidade uspiana.
Além disso, disse que a sociedade brasileira enfrenta diferentes desafios no setor das políticas sociais, etnorraciais e de gênero.
“A nossa gestão visa a criação de políticas internas da universidade, que possam, além de mitigar esses fatores, serem opções para a sociedade.”
Em relação à questão de gênero, Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico, parabenizou a posse da vice-reitora, a segunda mulher a ocupar essa posição.
“Esperamos que isso passe a ser a regra, e não exceção, e que possamos ter reitoras na nossa universidade, que é a maior de São Paulo e precisa desse exemplo”, disse.
O governador João Doria (PSDB) encerrou os discursos da noite afirmando ser necessária “ousadia” para enfrentar o atual momento do país.
“Ousadia não nos faltará. Diante do afrontamento que já vivemos e daquele que vamos viver, a ousadia será uma resposta ao negacionismo e àqueles que são contra a educação, academia e a ciência”, disse.
Carlotti encabeçou a chapa mais votada O novo reitor encabeçou a chapa USP Viva, a mais votada pela Assembleia Universitária, que aconteceu no fim de 2021. Além disso, ela também recebeu mais votos na consulta acadêmica, que é feita com alunos, professores e servidores, mas sem caráter deliberativo.
Doria não era obrigado a escolher o mais votado, mas decidiu seguir a tradição e indicou Carlotti para o cargo de reitor da USP.
A escolha do novo reitor pelo governador costuma ser uma formalidade. Em quase todas as ocasiões, os candidatos mais votados pelo colégio eleitoral foram nomeados.
A última vez em que a decisão interna não foi acolhida ocorreu em 2009, quando o então governador José Serra (PSDB) preferiu o segundo colocado, João Grandino Rodas. (Isabella Menon- Folhapress)