Produção industrial fica estagnada em junho
A produção industrial tenta recuperação, mas ainda esbarra em dificuldades no país. Sinal disso é que, em junho, o indicador ficou estagnado, com variação nula (0%) na comparação com maio. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado nesta terça-feira (3).
Em relação a junho de 2020, a produção subiu 12%. No sexto mês do ano passado, as fábricas sofriam os reflexos da fase inicial da pandemia.
Os números ficaram em nível inferior aos esperados pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,2% na comparação com maio, além de crescimento de 12,5% frente a junho de 2020.
Com os dados divulgados nesta terça, a produção industrial fechou o primeiro semestre de 2021 com alta acumulada de 12,9%, informou o IBGE. Em 12 meses, houve avanço de 6,6%.
Segundo o instituto, a produção permaneceu no mesmo patamar do pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020. Esse nível foi alcançado em maio, quando o indicador subiu 1,4%, após três meses em queda. O indicador, contudo, ainda está 16,7% abaixo do ponto mais alto da série histórica, verificado em maio de 2011.
André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, sublinhou que a indústria continua enfrentando uma série de dificuldades. Entre elas, está o desarranjo das cadeias produtivas, que trouxe obstáculos para a obtenção de insumos na pandemia. Além disso, o setor é abalado pelo mercado de trabalho fragilizado no país.
“Há, no setor industrial, uma série de adversidades por conta da necessidade das medidas de restrição, como a redução do ritmo produtivo, a dificuldade de obtenção de matérias-primas e o aumento dos custos de produção. Pelo lado da demanda, ou seja, observando a economia como um todo, há também uma taxa de desocupação alta, o que traz uma consequência para a massa de salários. São fatores que não são recentes, mas ajudam a explicar esse comportamento da produção industrial”, aponta o analista.
Após ser prejudicada pelo começo da crise sanitária, a indústria ensaiou reação ao longo do ano passado. Contudo, esse movimento perdeu fôlego na largada de 2021.
Na visão de analistas, a piora da pandemia e a paralisação de medidas de estímulo à economia, incluindo o auxílio emergencial, explicaram o desempenho em nível inferior no começo deste ano. Agora, em meio à vacinação contra a Covid-19, o setor volta a tentar recuperação.
O avanço da imunização é visto por analistas como peça necessária para garantir maior segurança às operações das fábricas e de outras empresas nos próximos meses. Segundo Macedo, a retomada industrial também depende do aquecimento do mercado de trabalho e da elevação da massa salarial.
“O mercado de trabalho é um fator importante a ser considerado. Maior incorporação de pessoas no mercado, aumento da massa salarial e melhores condições de crédito são fatores importantes a serem observados para se pensar em uma trajetória melhor para a produção industrial”, pontuou o gerente da pesquisa.
“O avanço da vacinação e o aumento da mobilidade das pessoas, claro, vão ter impacto positivo, mas é preciso pensar em uma trajetória mais ascendente de longo prazo”, completou.
Conforme o IBGE, 14 das 26 atividades industriais pesquisadas tiveram queda na produção frente a maio. A principal influência negativa foi do ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,8%), que voltou a recuar após crescer nos meses de abril (1,6%) e maio (0,3%).
Outros impactos importantes vieram de celulose, papel e produtos de papel (-5,3%), com o terceiro mês seguido de queda, e de produtos alimentícios (-1,3%).
Por outro lado, a principal contribuição positiva no índice de junho foi de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,1%).
Em junho, o faturamento da indústria brasileira caiu 0,9%, após alta de 0,7% em maio, apontou a CNI (Confederação Nacional da Indústria) na segunda-feira (2). Desde o início do ano, o indicador vem oscilando.
Por outro lado, a entidade relatou que as horas trabalhadas na produção aumentaram 0,3% em junho, interrompendo a sequência de quedas observada desde fevereiro. Além disso, o uso da capacidade instalada, medido pela UCI (Utilização da Capacidade Instalada), cresceu novamente e está no maior patamar desde 2013, de acordo com a CNI. (LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ – FOLHAPRESS)