Praça Olavo Bilac tem nome alterado para homenagear Igreja Quadrangular e revolta vizinhos

 Uma praça no Centro de São Paulo que homenageia o poeta e jornalista Olavo Bilac (morto em 1918) ganhou, desde o último sábado, um novo nome, depois que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) sancionou uma lei que acresce mais uma homenagem ao local -para a Igreja Quadrangular.
Com isso, o nome oficial agora é praça Olavo Bilac – Igreja Quadrangular.
Quando o doutorando em psicologia Tiago Rangel Cortes, 36, soube da novidade, ele usou um grupo do Facebook para contar aos moradores da região sobre a nova lei.
Lá, eles se mobilizaram a fim de realizar um ato contra a decisão da prefeitura -o evento está previsto para acontecer na praça, neste sábado, às 11h, e o objetivo é colher assinaturas contra a mudança.
“Essa é uma forma muito desrespeitosa de se fazer qualquer mudança na cidade, sem o mínimo de debate ou conversa”, diz Cortes. Um dos motivos de indignação, segundo ele, é que a praça também é usada por outras pessoas, além dos membros da Igreja Quadrangular, como uma igreja anglicana, além de bares. “É como se estivessem privilegiando uma igreja diante dos outros”, diz.
A paróquia da Santíssima Trindade, por exemplo, está localizada na, agora, praça Olavo Bilac – Igreja Quadrangular. À frente do local, o reverendo Arthur Cavalcante afirma que o foco da discussão não é de cunho religioso, mas que se trata de uma questão realizada sem o consenso dos moradores da região. “Essa homenagem nos custa, traz confusão, foi feito algo que atingiu a comunidade local e as referências históricas”, diz.
Uma denominação cristã evangélica pentecostal de origem americana, a Igreja Quadrangular teve como um dos expoentes no Brasil o pastor Henrique Alves Sobrinho, pai de Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
A vereadora Luana Alves (PSOL) está ajudando os moradores da região a divulgarem o abaixo-assinado. “Homenagear uma religião sendo que tem várias outras que frequentam o local não faz nenhum sentido na minha opinião”, diz.
A autoria do projeto de lei é do vereador Gilberto Nascimento (PSC). Por meio de nota, o diz considerar uma justa homenagem à igreja que tem “importantes contribuições históricas à sociedade brasileira e paulistana”. “O projeto de lei tramitou durante um ano na CMSP (Câmara Municipal de São Paulo) de forma pública e nesse tempo não recebemos nenhuma manifestação contrária”, conclui a nota.
Além de Nascimento, o projeto também tem coautoria de Rinaldi Digilio (PSL), Faria de Sá (PP) e Carlos Bezerra Jr (PSDB).
Procurada, a prefeitura informou, por meio de nota, que as audiências públicas de projeto de iniciativa parlamentar cabem ao Legislativo, não havendo impedimento legal para acréscimo de denominação.
Casos como os da praça Olavo Bilac acontecem em meio a debates que visam mudanças da cidade, como o incêndio na estátua de Borba Gato.
Nesta quarta-feira (25), por exemplo, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei que prevê a mudança de nome da uma rua na zona oeste da capital.
Se sancionada pelo prefeito, a lei prevê a mudança do nome da rua Doutor Sérgio Fleury, que homenageava o policial que esteve à frente do Dops, órgão ligado à tortura durante a ditadura militar, para Frei Tito, frade que foi preso e torturado a mando de Fleury. Ele foi enviado ao exílio na França, onde se suicidou em 1974.
O projeto tem autoria dos vereadores Orlando Silva (PC do B), Arselino Tatto (PT), Alfredinho (PT), Jamil Murad (PC do B), Juliana Cardoso (PT), Reis (PT) e professor Toninho Vespoli (PSOL). (Isabella Menon – Folhapress)

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