Polícia de SP acha 93 explosivos em Araçatuba após roubo a bancos
Equipes da Polícia Militar de São Paulo especializadas em explosivos encontraram até a manhã desta terça-feira ao menos 93 artefatos deixados pelos criminosos que participaram dos ataques a agências bancárias em Araçatuba (521 km da capital).
De acordo com agentes ouvidos pela reportagem, foram localizados 32 artefatos espalhados pelas ruas da cidade e outros 29 em um caminhão usado pelos criminosos. Além disso, foram achados 13 explosivos na agência do Banco do Brasil alvo do roubo, além de 19 encontrados em um carro abandonado pelo bando na cidade vizinha de Bilac.
No caminhão, também foram localizados 70 cartuchos de uma emulsão explosiva, que pode ser usada na fabricação de bombas.
A ação, que deixou ao menos três mortos e levou o terror à cidade de 200 mil habitantes na madrugada de segunda (30), é uma das maiores do tipo já realizadas no estado. Nessa modalidade de roubo, conhecida como “novo cangaço”, grupos de criminosos fortemente armados, em geral entre 15 e 30 pessoas, chegam durante a madrugada a cidades de pequeno e médio portes em comboios de veículos para praticar as ações. Araçatuba é o 33º município atacado desta maneira desde 2018.
No caso desta segunda, a quadrilha explodiu duas agências bancárias, roubou o dinheiro delas, atirou em uma terceira, fez moradores reféns, disparou bombas e ateou fogo em veículos na fuga. Ao menos quatro pessoas ficaram feridas, incluindo um morador de rua foi atingido pela explosão de uma das bombas deixadas nas ruas e teve os pés e uma das mãos decepados.
A quantidade de explosivos apreendida e a capacidade demonstrada pelo grupo para realizar o roubo em uma cidade do tamanho de Araçatuba chamou a atenção da polícia -as autoridades de segurança indicaram, inclusive, que essa foi uma das maiores ações do novo cangaço já realizadas em São Paulo.
A ação antibomba está sendo coordenada por equipes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais).
Os peritos estão analisando a tecnologia utilizada pelos criminosos e já descobriram que o artefato usado pela quadrilha para explodir as agências bancárias foi o Metalon.
Esse explosivo é uma espécie de superdinamite caseiro, artefato muito utilizado por grupos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e que é capaz de romper portões, caixas eletrônicos e até cofres bancários. Seu uso tem sido cada vez mais comum nos mega-assaltos no estado de São Paulo, de acordo com a PM.
Em geral, o acionamento para detonação é feito a distância, através do celular -foi isso, inclusive, que ocorreu em Araçatuba, de acordo com os policiais. Os peritos ainda investigam se outras técnicas, como o uso de um sensor de movimento para acionar a explosão, também foram utilizadas na ação de segunda.
O Metalon é, basicamente, uma uma estrutura metálica oca (como um pé de mesa de cozinha ou de carteira escolar) preenchida com pólvora (preta ou branca) ou uma emulsão explosiva. O artefato costuma ter entre 20 cm e 50cm.
Além da PM, a Polícia Civil também está acompanhando o caso. Na tarde desta terça, agentes do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) prenderam em Campinas um suspeito de participação no roubo -ele foi identificado como Clayton Manoel da Silva, 27.
A reportagem apurou que a polícia já monitorava Silva e que ele confessou sua participação no crime logo que os policiais chegaram na casa onde estava escondido. Com isso, o suspeito foi levado para uma unidade da Polícia Federal, que participa das investigações do caso porque os dois bancos roubados (Banco do Brasil e Caixa) são ligados à União.
Além dele, os policiais já tinham detido na própria segunda um homem e uma mulher suspeitos de terem servido como olheiros da quadrilha -ambos confessaram.
A Polícia Civil de São Paulo também apura a participação de ao menos outras duas pessoas, ambas em Piracicaba (que fica a 380 km de Araçatuba): uma que está inconsciente em um hospital da região, e outra que apresentou um tiro de raspão no braço.
Os dois moradores de Araçatuba que morreram durante a ação da quadrilha estão sendo velados nesta terça-feira: Renato Bortolucci da Silva, 38, e Marcio Victor Possa da Silva, 34. Além deles, um integrante da quadrilha, que não teve o nome revelado pela polícia, também morreu. (Rogério Pagnan – Folhapress)