Plano fiscal vai exigir queda da taxa de juros, diz Haddad

Plano fiscal vai exigir queda da taxa de juros, diz Haddad

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta quinta-feira (6) que o plano fiscal proposto pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que promete colocar as contas públicas em ordem, exigirá uma queda da taxa básica de juros (Selic) -hoje fixada em 13,75% ao ano.

“Isso [plano fiscal] vai exigir, mais do que permitir, uma queda da taxa de juros, porque se as contas estão em ordem, não tem por que pagar um juro tão alto, que é o maior do mundo hoje”, afirmou Haddad em entrevista à BandNews TV.

Por plano, o ministro refere-se não apenas ao arcabouço fiscal proposto, mas também ao pacote de medidas que pode elevar a arrecadação federal entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões por ano, nas contas do governo.

“Penso que está havendo convergência entre a política fiscal, receitas e despesas, e a monetária, que cuida da inflação e da trajetória da dívida pública”, acrescentou.

Segundo Haddad, o governo está recompondo a base fiscal do Estado. “O Estado precisa ter um Orçamento e esse Orçamento tem de ser suficiente para honrar os seus compromissos legais e manter seu compromisso de responsabilidade com as contas públicas”, disse.

Na última quarta-feira (5) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que não existe uma relação direta entre o arcabouço fiscal e a queda de juros. Segundo ele, a proposta pode ajudar no processo de desinflação ao afetar positivamente o canal de expectativas dos agentes econômicos.

“Não existe relação mecânica entre o fiscal e taxa de juros na forma como é colocada. O importante para a gente é atuar dentro do sistema de metas. Nós temos uma meta de inflação e olhamos as expectativas. O mais importante é como as medidas que estão sendo anunciadas afetam o canal das expectativas”, disse Campos Neto em evento do Bradesco BBI.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, foi menos enfático que Haddad sobre o que o governo espera do Banco Central após a apresentação do arcabouço fiscal.

Em entrevista ao UOL nesta quinta-feira, Galípolo disse que é difícil comentar o que a entidade deve ou não fazer, mas acredita que a regra traz um ambiente mais propício para cortes de juros.

Segundo ele, o objetivo do governo com o modelo fiscal apresentado é não só contemplar benefícios e programas sociais, mas também oferecer um horizonte que permita a redução da Selic.

“A gente fez o arcabouço fiscal e escutou o Roberto [Campos Neto] e outros diretores do BC durante a elaboração justamente visando um arcabouço que pudesse atender a essas duas demandas”, afirmou.

O secretário ainda disse que o câmbio passou a se valorizar após a apresentação da regra, e as curvas de juros de longo prazo começaram a cair. “A gente entende que esse dois sinais permitem um ambiente mais propício e mais folgado para que o Banco Central possa começar um ciclo de corte de juros.”

A taxa básica de juros (Selic), definida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, vem sendo alvo há meses de ataques de Lula e membros do governo. Para o Executivo, o patamar atual está muito elevado, o que prejudicaria os planos de impulsionar a economia. Já o Copom justifica a decisão diante das incertezas fiscais e deterioração das expectativas de inflação.

Nesta quinta, Haddad também acenou aos outros Poderes por apoio à aprovação do novo arcabouço fiscal -o texto do projeto de lei complementar deve ser encaminhado ao Congresso Nacional na próxima semana.

“Se o Congresso e o Judiciário nos derem sustentação para esse plano, não tenho a menor dúvida que o Brasil entra em 2024 na rota de crescimento sustentável com justiça social”, disse.

A proposta do arcabouço pressupõe um crescimento das despesas federais limitado a 70% do avanço das receitas primárias líquidas observadas nos 12 meses até junho do ano anterior.

O ritmo de alta das despesas em cada ano estará ligado à variação das receitas, com a condição de que se situe no intervalo de 0,6% e 2,5%. Esses serão o piso e o limite máximo de alta real dos gastos sob a nova regra.

O arcabouço estipula também uma meta de resultado primário anual, mas com um intervalo de tolerância para cima e para baixo -a exemplo do sistema de metas para inflação.

(Nathalia Garcia e Thiago Bethônico – Folhapress /Foto: Antonio Cruz – Agência Brasil)

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