ONGs e empresas reduzem desperdício de alimentos aproveitando descartáveis
Aproveitar produtos que estão fora dos padrões exigidos pelos mercados tradicionais tem se mostrado um caminho para reduzir o desperdício alimentar, que chega a 14% da produção mundial -o equivalente a US$ 400 bilhões, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura da ONU (Organização das Nações Unidas).
No Brasil, ONGs (organizações não governamentais) aderiram à estratégia para distribuir comida a pessoas de baixa renda, ao mesmo tempo em que empresas apostam no nicho como forma de empreendimento sustentável.
A Mercado Diferente, por exemplo, investe na parceria com pequenos produtores regionais a fim de resgatar alimentos considerados fora do padrão pelas grandes redes varejistas. A empresa nasceu em fevereiro de 2022 e atende pela internet na cidade de São Paulo.
A ideia é que o consumidor escolha quais frutas, verduras e legumes da estação quer receber na cesta. “Tudo fresco e sem frescura”, diz o slogan, já que muitos alimentos podem ser vistos como “feios” para quem está acostumado aos produtos selecionados pelos supermercados.
Juliana Campos, 35, é uma das parceiras. Ela e a família plantam orgânicos em uma propriedade em processo de titularização pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Congonhinhas, no norte do Paraná.
A agricultora diz que existem padrões de tamanho, peso e cor para cada alimento. No mercado de orgânicos, por exemplo, um tomate deve ter entre 90g e 220g. Uma abobrinha não pode ser menor que 15cm nem maior que 20cm.
Ela estima que conseguiu reduzir em 40% o desperdício da produção ao vender pela Mercado Diferente alimentos que não se encaixam nas exigências tradicionais.
“Ajudou a gente enquanto produtor e acredito que ajudou o consumidor final, que paga mais barato. É um produto de extrema qualidade, perfeito para consumo”, afirma Campos.
A Food to Save é uma empresa que aproveita os excedentes de produção e alimentos próximos à data de validade de estabelecimentos parceiros -desde que estejam em condições de serem consumidos. Os produtos são comercializados e ganham uma nova oportunidade de compra com até 70% de desconto pelo consumidor final.
A empresa estima ter evitado que mais de 50 toneladas de alimentos fossem descartados em São Paulo, Campinas e Grande ABC em menos de um ano de operação.
Popularmente conhecidos como “vencidinhos”, comércios que vendem produtos próximos ao vencimento (e cobram menos que as grandes redes) têm se popularizado nas periferias da Grande São Paulo diante da escalada da inflação nos últimos anos.
“Nós queremos revolucionar o desperdício de alimentos no país e, ainda, fazer com que mais pessoas tenham acesso a bons alimentos, e se a gente pode fazer isso de forma mais sustentável e ajudando o meio ambiente, por que não?”, diz o diretor e cofundador da startup, Lucas Infante.
A venda desses produtos é feita por meio de “sacolas surpresa”, que podem ser adquiridas via delivery ou retiradas diretamente nos estabelecimentos escolhidos. Os pedidos podem ser feitos pelo site ou por aplicativo.
Fundada em 1998, a ONG Banco de Alimentos recolhe e redistribui alimentos que já perderam valor de prateleira no comércio ou na indústria, mas ainda estão aptos para consumo. No lugar de descartar legumes, massas, frutas, entre outros, os parceiros doam os excedentes à ONG, que repassa tudo a entidades sociais cadastradas na cidade de São Paulo.
“Venho há anos combatendo a fome e o desperdício de alimentos em um clima de perseverança e atitude construtiva, alertando e educando sobre o papel de todos na construção da realidade que queremos ter”, afirma Luciana Quintão, presidente e fundadora da Banco de Alimentos.
(Filipe Andretta – Folhapress/ Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)