Na contramão do mercado, indústria criativa contrata mais na pandemia
O emprego formal na chamada indústria criativa teve desempenho positivo no Brasil em 2020 graças a atividades como publicidade, marketing e tecnologia, que amenizaram as perdas econômicas do primeiro ano da pandemia.
É o que indica um estudo divulgado nesta terça-feira (5) pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Conforme o levantamento, o número de vínculos empregatícios na indústria criativa subiu de 919 mil em 2019 para 935,3 mil em 2020. O resultado representa uma alta de 1,8% (ou 16,3 mil novas vagas).
No mesmo intervalo, o total de empregos no mercado de trabalho formal do país teve baixa de 1%, diz a pesquisa. A quantidade de postos recuou de 46,7 milhões em 2019 para 46,2 milhões em 2020 -menos 480,3 mil.
“Esses números reforçam, mais uma vez, a resiliência da indústria criativa (mesmo que não impliquem, em termos absolutos, uma performance excepcional) e o seu potencial estratégico como geradora de trabalho e desenvolvimento para uma recuperação do mercado de trabalho brasileiro no pós-Covid”, aponta a pesquisa.
Segundo a Firjan, o estudo, batizado como Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, utiliza dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Previdência. É a sétima edição do levantamento.
Na avaliação da entidade, o desempenho do emprego criativo refletiu mudanças na demanda por bens e serviços causadas pela pandemia.
Nesse contexto, atividades que foram estimuladas pelo isolamento social e pela digitalização conseguiram crescer no mercado de trabalho.
Aquelas mais dependentes da circulação de consumidores e do contato direto com o público, por outro lado, amargaram perda de mão de obra.
Essas diferenças podem ser percebidas dentro das quatro grandes áreas que compõem a indústria criativa, segundo o estudo da Firjan.
São as seguintes: consumo (design, arquitetura, moda e publicidade e marketing), cultura (patrimônio e artes, música, artes cênicas e expressões culturais), mídia (editorial e audiovisual) e tecnologia (pesquisa e desenvolvimento, biotecnologia e tecnologia da informação e comunicação).
Em consumo, o número de empregos passou de 419,9 mil em 2019 para 439,5 mil em 2020, uma alta de 4,7% (19,6 mil vagas a mais). É o maior crescimento entre as áreas contempladas pela pesquisa.
Dentro de consumo, o principal impulso veio de publicidade e marketing. O segmento abriu 24 mil postos de 2019 para 2020.
Moda, por outro lado, foi o destaque negativo em consumo. O segmento teve perda de 4.337 postos no ano inicial da pandemia.
A área identificada como tecnologia, por sua vez, registrou crescimento de 3,6% no número de empregos. A quantidade de vínculos passou de 338,1 mil para 350,3 mil -acréscimo de 12,3 mil.
Dentro de tecnologia, o segmento de TIC (tecnologia da informação e comunicação) registrou aumento de 8.568 vagas, e o de biotecnologia teve abertura de 3.164.
Pesquisa e desenvolvimento, o outro ramo que integra essa categoria, gerou 545 postos.
Na área de cultura, mais dependente da movimentação de consumidores, houve perda de 8.257 vínculos de 2019 para 2020. O número total recuou de 68,4 mil para 60,2 mil, baixa de 12,1%, a maior entre os grandes grupos da indústria criativa.
Os quatro segmentos que compõem cultura tiveram fechamento de vagas: patrimônio e artes (menos 2.406), expressões culturais (menos 2.337), artes cênicas (menos 1.922) e música (menos 1.592).
Mídia, a quarta área avaliada na indústria criativa, perdeu 7.284 empregos de 2019 para 2020. O número total recuou 7,9%, de 92,6 mil para 85,3 mil.
Os dois segmentos que integram mídia fecharam postos: editorial (menos 4.865) e audiovisual (2.419).
“Apesar da resiliência observada nos dados agregados, o impacto da pandemia de Covid-19 sobre as diversas áreas da indústria criativa foi bastante heterogêneo”, afirma o estudo.
“Segmentos dedicados às artes (como espetáculos teatrais) e aqueles mais dependentes da interação física com o público (como, por exemplo, os ligados a bares e restaurantes) sofreram impactos consideráveis; por outro lado, áreas mais intensivas em tecnologia não foram tão afetadas e apresentaram, em alguns casos, avanços na comparação com 2019”, completa.
Participação no PIB vai a 2,91% O estudo indica que os 935,3 mil profissionais criativos formalmente empregados em 2020 correspondiam a 70% de toda a mão de obra da indústria metalmecânica brasileira.
A nova edição da pesquisa também traz dados de 2017. Naquele ano, a indústria criativa somava 837,2 mil trabalhadores no Brasil. Ou seja, o total de vagas cresceu 11,7% em 2020, na comparação com 2017.
No ano inicial da pandemia, o PIB (Produto Interno Bruto) criativo recuou 0,8%, diz a Firjan. A baixa foi menos intensa do que a verificada na economia brasileira em termos gerais (-3,6%).
A participação da indústria criativa no PIB nacional chegou a 2,91% em 2020. É a maior fatia desde o início da série histórica disponível, com dados a partir de 2004.
Esse número também sugere que o setor criativo sentiu a crise em uma proporção menor do que outros ramos econômicos.
O PIB criativo somou R$ 217,4 bilhões em 2020. O valor, conforme o estudo, é comparável à produção da construção civil e superior à do setor extrativo mineral.
(Leonardo Viceli – Folhapress /Isadora Brant/Folhapress)