Museu destrincha a Bolsa de Valores no centro de São Paulo

Museu destrincha a Bolsa de Valores no centro de São Paulo

De praças públicas no centro do Rio de Janeiro no final dos anos 1800 ao toque eletrônico que marca a estreia de uma ação nos dias atuais na B3, passando pelos pregões viva-voz em que, aos berros, dezenas de operadores transmitiam ordens de compra e venda de ações nos anos 1980.

A história do mercado de capitais no país é recontada de maneira imersiva no Museu da Bolsa do Brasil (MUB3), recém-inaugurado no centro de São Paulo, no mesmo prédio onde fica a B3.

Em ordem cronológica, o visitante conhece os principais momentos que culminaram na Bolsa de Valores brasileira como a conhecemos hoje. Segundo os organizadores, trata-se do primeiro museu dedicado ao mercado de capitais da América do Sul.

Logo na entrada do museu, o ambiente leva o visitante ao cenário das primeiras negociações de títulos de que se tem registro, no Rio de Janeiro no final do século 19, quando a moeda em vigor ainda eram os réis.

Os encontros na cidade que era então a capital do país costumavam ocorrer em uma praça na à época rua Direita (atual rua 1º de Março), no centro da cidade, e eram destinados à negociação de produtos agrícolas como café e algodão, além de câmbio, fretes de navio e apólices da dívida pública.

Em São Paulo, o encontro se dava nas proximidades da praça do Rosário, atual praça Antônio Prado, no centro histórico da capital paulista, em que está localizado até hoje um dos prédios da Bolsa.

Objetos como o quinteiro, espécie de balança de medição usada para calcular a parte do imposto devido à Coroa portuguesa sobre o ouro negociado no país (correspondente a 20%, ou um quinto), também podem ser conhecidos pelos visitantes.

Os primeiros escritórios mercantis constituídos no início do século passado em São Paulo estão igualmente retratados, assim como maquetes com as rodas de negociação nas quais os corretores se posicionavam nos antigos pregões viva-voz na Bolsa para comprar e vender determinada ação.

O visitante fica sabendo que o termo pregão se originou da palavra apregoar, de quando os agentes de mercado anunciavam em voz alta seus ativos e mercadorias.

Aparelho para enviar cotações foi criado por Thomas Edison Há ainda na exposição artefatos que marcaram época, como o “ticker”, receptor de cotações por sinais telegráficos, equipamento desenvolvido no final do século 19 nos Estados Unidos por Thomas Edison para a Bolsa de Nova York (Nyse), e adquirido pela Bolsa brasileira nos anos 1950.

Até hoje o termo “ticker” é utilizado para se referir ao código pelos quais as ações são identificadas nos pregões.

A evolução tecnológica do mercado de capitais é retratada: da “idade da pedra”, como foi batizado o período em que os preços de ações eram anotados com giz, em lousas, aos painéis eletrônicos com a atualização em tempo real das cotações.

Além da história do mercado, instalações explicam os grandes ciclos de setores que exerceram um importante papel na economia brasileira, como o do café, retratado desde as plantações agrícolas, passando pelos supermercados, pelas mesas das famílias, até os contratos atrelados à venda futura do produto pelos investidores.

Museu quer ajudar a decifrar a linguagem do mercado “O museu, além de trazer a perspectiva histórica, de como o mercado de capitais contribuiu para o desenvolvimento econômico do Brasil, traz elementos educacionais para explicar a importância das Bolsas, do mercado financeiro, e como isso se conecta com o dia a dia das pessoas”, afirma Christianne Bariquelli, superintendente da B3 Educacional.

Glossários com informações a respeito da sopa de letrinhas composta pelos produtos de investimento lançados durante os últimos anos, como os títulos isentos de IR (Imposto de Renda) –CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola)–, os BDRs (Brazilian Depositary Receipt), certificados representativos de ações globais, e os FIIs (fundos imobiliários), também estão no roteiro dos visitantes.

“O dinheiro está na vida de todo mundo, mas não são todos que têm a habilidade ou a segurança para lidar com ele. O museu ajuda as pessoas a entenderem alguns aspectos do dinheiro, da gestão financeira e da importância do investimento para a formação de patrimônio”, diz Christianne.

A superintendente acrescenta que, além de passar pela história do mercado, o museu se propõe a gerar uma provocação, no sentido de instigar o visitante a projetar qual pode ser o futuro desse universo financeiro no país.

“Mesmo com o ciclo de alta nas taxas de juros, as pessoas estão aprendendo o conceito da diversificação. Isso representa o presente e o que podemos esperar do futuro do mercado.”

Por fim, já próximo da saída do museu, o visitante ainda pode bater um retrato em um cenário que reproduz o tradicional toque da campainha, em uma réplica do púlpito que serve como palco das cerimônias realizadas quando uma nova ação ou fundo de investimento estreia na B3.

Linha do tempo das Bolsas no Brasil

1817 Fundação da 1ª Bolsa de Valores no Brasil, em Salvador
1851 Fundação da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro
1890 Fundação da Bolsa Livre de São Paulo (antecessora da Bovespa)
1968 Lançado o índice amplo de ações Ibovespa
1986 Início das atividades da BM&F (Bolsa Mercantil e de Futuros)
2000 Integração das nove Bolsas de Valores regionais ainda operantes à Bovespa
2005 Último pregão viva voz da Bovespa
2008 Fusão entre BM&F e Bovespa cria a BM&FBovespa
2017 Aprovação da fusão com a Cetip e criação da B3

Serviço

MUB3 (Museu da Bolsa do Brasil)
Horário de funcionamento: de segunda a sexta e nos 2º e 4º sábados do mês, das 9h às 17h
Endereço: Rua XV de novembro, 275 – Centro, São Paulo (SP)
Acessibilidade: audioguia, videolibras, obras e maquetes táteis, legendas em fonte ampliada e braile, rampas e banheiros acessíveis
Entrada: gratuita

(Lucas Bombana – Folhapress /Foto: Fernando Siqueira/Divulgação)

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