Mortes de idosos vacinados com duas doses sobem 73% no Rio
O Rio de Janeiro tem visto as mortes e as internações de pessoas idosas que já tomaram as duas doses da vacina contra o coronavírus crescerem constantemente.
Os números estão subindo há cerca de um mês e meio e acendem um alerta para a necessidade de aplicação de terceira dose neste grupo.
Os óbitos dessa faixa etária passaram de 64 para 111, comparando a penúltima semana de junho e a segunda semana de agosto (uma alta de 73%). Já as hospitalizações cresceram de 166 para 339 no mesmo período (104%), segundo dados da Subsecretaria de Vigilância em Saúde do RJ filtrados pela reportagem.
Foram consideradas as mortes e internações de pessoas acima dos 60 anos por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), nas datas em que elas ocorreram. As informações vêm do sistema federal Sivep-Gripe e não incluem as duas últimas semanas, para evitar atrasos nos registros.
A trajetória das duas curvas é parecida: elas sofrem um aumento do fim de março até meados de maio (durante o pico da doença neste ano), mas muito abaixo da curva total. Depois caem até o fim de junho, quando voltam a subir continuamente.
Com isso, a proporção de idosos com o esquema vacinal completo entre os casos graves vem subindo. Eles passaram de 7% dos mortos em meados de maio para 36% em agosto. Nas internações, foram de 12% para 31% no mesmo intervalo.
Isso não quer dizer, porém, que as vacinas não funcionem. A grande maioria dos óbitos e hospitalizações entre pessoas acima de 60 anos somados neste ano ocorreu com quem não tomou nenhuma dose.
“Os imunizantes reduziram efetivamente os óbitos em idosos, mas pessoas nesta faixa etária apresentam mais comorbidades e condições de saúde mais fragilizadas devido à imunossenescência, deterioração natural do sistema imunológico provocada pelo envelhecimento”, ressalta a Secretaria Estadual de Saúde.
A alta dos casos fatais entre idosos totalmente imunizados já vinha sendo notada pela pasta. Agora, os técnicos do estado estão tentando compreender se a principal causa é, de fato, a redução da imunidade entre os mais velhos, uma vez que eles foram os primeiros alvos da campanha.
O estudo em andamento mostra que, até o momento, a origem ou fabricante da vacina não tem sido importante nos resultados. Ou seja, as mortes têm aumentado da mesma forma entre idosos que tomaram Coronavac, AstraZeneca ou Pfizer.
Com base nas análises preliminares, o governo informou que “avalia que uma terceira dose em idosos seria recomendada”. No entanto, aguarda uma definição do Ministério da Saúde: “Para que a medida seja implantada, é necessário que o ministério envie vacinas suficientes para o estado”, diz.
A prefeitura carioca também tem se posicionado no mesmo sentido. Nesta terça (24), o prefeito Eduardo Paes (PSD) voltou a dizer que “quer muito dar a terceira dose para os idosos”. O município inclusive divulgou que começará as aplicações em setembro, o que também depende do envio de remessas.
A capital fluminense paralisou desde segunda-feira passada a vacinação de adolescentes de 17 anos e reduziu o grupo de repescagem por falta de doses. Nesta terça, só estão sendo imunizados adolescentes com comorbidades e pessoas com mais de 25 anos, além de grávidas, puérperas e lactantes.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a terceira dose só deve começar no país após todos os adultos completarem o esquema vacinal, dando como previsão no mínimo o mês de outubro.
A alta das mortes entre idosos totalmente vacinados no Rio de Janeiro não se reflete num aumento geral nessa faixa etária. O total de óbitos acima de 60 anos caiu de 364 para 311, por exemplo, entre a penúltima semana de junho e a segunda semana de agosto (uma diminuição de 15%).
Já o total de internações de idosos subiu no mesmo período (de 852 para 1.090), mas também não na mesma proporção. O crescimento foi de 28%, portanto abaixo dos 104% registrados entre os que completaram o esquema vacinal.
Segundo Leonardo Bastos, pesquisador da Fiocruz, o aumento de hospitalizações no estado já atinge todas as faixas etárias. Para ele, isso acontece devido a uma série de fatores: o avanço da variante delta, a perda de imunidade dos mais velhos e o relaxamento das medidas de distanciamento social.
Bastos, que tem feito uma correção do atraso das notificações para entender como os dados estão se comportando em tempo real, vê agora suas projeções se confirmarem. “Infelizmente eu acertei, o aumento está de fato acontecendo no Rio. Em outros estados também, como São Paulo e Goiás, mas não na mesma velocidade”, afirma. (Júlia Bardon – Folhapress)