McDonald’s e Coca-Cola suspendem operação na Rússia por causa da guerra na Ucrânia
Alguns dos maiores ícones do capitalismo ocidental anunciaram nesta terça-feira a suspensão de suas atividades na Rússia, engrossando as pressões econômicas contra Moscou após uma série de manifestações de descontentamento em todo o mundo.
McDonald’s, Coca-Cola, PepsiCo e Starbucks, entre outras, informaram que não devem operar no país por tempo indeterminado, seguindo o caminho de companhias do setor de óleo e gás e de outras marcas famosas, como Ikea e Levi Strauss & Co.
No mesmo dia dos anúncios, e procurando amenizar sanções que começam a prejudicar o abastecimento de lojas e supermercados russos –trazendo à memória cenas do período soviético–, o presidente Vladimir Putin foi à televisão anunciar um amplo pacote de ajuda à população mais pobre.
O objetivo é compensar perdas que pensionistas do Estado vêm sofrendo no poder de compra com a desvalorização do rublo e a consequente inflação, além de reforçar programas sociais que atendem a cerca de 19 milhões de russos (ou 13% da população) abaixo da linha de pobreza, segundo critérios do Banco Mundial.
Com as medidas, expostas num documento de 39 páginas, Putin procura neutralizar parte do descontentamento que se espalha entre o povo russo como resultado das sanções ocidentais –que ajudam a alimentar ondas de manifestações que já deixaram mais de 10 mil detidos. O líder já chegou a comparar as punições a uma declaração de guerra.
Entre as companhias que suspenderam negócios na Rússia nesta semana, a decisão do McDonald’s é a que tem maior peso simbólico.
A rede de lanchonetes baseada em Chicago começou a operar na então sisuda praça Púchkin, em Moscou, em 31 de janeiro de 1990, menos de três meses após a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989 –e antes mesmo, portanto, do fim do império soviético, cujas repúblicas se dissolveram em dezembro de 1991.
Os planos para a abertura eram negociados desde o início dos anos 1980, como parte do processo de abertura do regime ao Ocidente.
No dia da inauguração, os moscovitas formaram filas gigantescas para visitar o restaurante; estima-se que cerca de 30 mil pessoas tenham entrado no McDonald’s só naquele dia. Muitos guardavam embalagens de sanduíches como suvenires do capitalismo.
A inauguração da segunda unidade da rede, dois anos depois, contaria com a presença do então reformista presidente russo, Boris Ieltsin (1931-2007).
O McDolnald’s anunciou nesta terça que a suspensão das atividades incluirá todos os 847 restaurantes na Rússia, mas disse que os 62 mil funcionários da rede continuarão sendo pagos até nova decisão sobre o assunto.
A rede detém e opera 84% de seus restaurantes em território russo, sendo o restante administrado por franqueados –que também fecharão as portas.
“Nossos valores significam que não podemos ignorar o sofrimento humano desnecessário que se desenrola na Ucrânia”, disse o presidente-executivo Chris Kempczinski em mensagem oficial da empresa.
A suspensão, porém, só ocorreu após uma série de manifestações de consumidores e, finalmente, da pressão do New York State Common Retirement Fund, um fundo de pensão americano com ativos de mais de US$ 280 bilhões que detém ações da companhia.
O McDonald’s também opera 108 restaurantes na Ucrânia, além de escritórios corporativos, empregando cerca de 10 mil pessoas no país ora sob invasão. Eles também estão fechados e com previsão de pagamento aos funcionários. Rússia e Ucrânia responderam por cerca de 9% da receita da rede de lanchonetes no ano passado.
Na semana passada, o mesmo New York State Common Retirement Fund havia pressionado a PepsiCo, da qual também é acionista, a suspender negócios com a Rússia, o que acabou sendo anunciado nesta segunda.
Nesse caso, a fabricante de bebidas teve receitas de US$ 3,4 bilhões na Rússia em 2021, a terceira maior fatia, atrás apenas de Estados Unidos e México. (Fernando Canzian – Folhapress/Foto: divulgação)