Mais de 140 blocos do Rio pedem carnaval de rua em manifesto
Ao menos 140 blocos de rua e entidades ligadas ao Carnaval assinaram um manifesto para protestar contra a decisão da Prefeitura do Rio de Janeiro de não realizar o carnaval de rua deste ano. A festa foi cancelada ainda em janeiro em razão do aumento de casos de Covid-19, cenário impulsionado pela variante Ômicron.
Os desfiles das escolas de samba, no entanto, foram mantidos e estão previstos para acontecer nos dias 22 e 23 de abril.
Membro do movimento Ocupa carnaval -rede de coletivos responsável pelo manifesto -, o advogado Tomás Ramos diz que a decisão de lançar o documento é para afirmar que o Carnaval de rua é um direito e que cabe à população decidir sobre ele.
“O poder público, porém, tem o dever de garantir esse direito, como expressa o artigo 338 da lei orgânica do município. Mas, quando ele não cumpre o seu dever, isso não o autoriza a inibir, censurar e reprimir o direito ao carnaval.”
O artigo citado pelo advogado aponta que o município deve garantir o acesso a todas as formas de expressão cultural, das populares às eruditas, apoiar e incentivar a produção, difusão e circulação de bens culturais.
Nesta quarta-feira, ocorreu um ato no centro do Rio em defesa dos blocos. “Para exercer o direito à cidade, é preciso ter carnaval. O direito de brincar na rua faz parte do Rio de uma forma que a gente não consegue olhar para a cidade sem sentir o cheiro de confete e sem escutar o som dos blocos”, diz Tomás.
Em nota, a Riotur -a empresa de turismo do Rio- diz que não preparou a cidade para receber os desfiles dos blocos em virtude do cancelamento do carnaval oficial, que estava previsto para fevereiro.
“Por meses, durante 2021, a Riotur trabalhou com os demais órgãos públicos (Prefeitura e Governo do Estado) para organizar os mais de 500 pedidos de desfiles de blocos na ocasião. Uma vez cancelado, tudo foi desmobilizado e não há tempo hábil para que a cidade se comporte bem tanto para os desfilantes como para quem não gosta de carnaval e quer seguir vivendo na cidade.”
Presidente da comissão especial do Carnaval, o vereador Tarcísio Motta (PSOL) considera irresponsável a decisão da prefeitura de não realizar o evento neste ano. Para ele, o poder municipal deveria ter adiado o cortejo dos blocos, assim como fez com o desfile das escolas de samba.
“O carnaval do Rio é múltiplo, diverso. Portanto, é impensável que a cidade vai assistir aos desfiles, mas os foliões não vão sair com seus cortejos, suas bandas e seus blocos para a rua. Essas coisas estão interligadas.”
O vereador diz que muitos blocos decidiram acatar a determinação da prefeitura. No entanto, ele afirma que grupos de foliões possivelmente vão tomar a cidade.
Em fevereiro, muitos deles se reuniram em blocos clandestinos, nos quais diversos grupos fizeram a festa parados ou saíram pela cidade, mesmo observados por policiais e guardas municipais.
“A uma semana do carnaval, a cidade não tem banheiro químico para atender os foliões, não tem posto de saúde provisório, não tem planejamento porque não sabe onde os blocos vão sair, portanto o trânsito vai ficar caótico”, diz Motta. “Então a prefeitura tomou uma medida irresponsável com o direito que o carioca tem de viver o carnaval.”
Em nota, a Secretaria de Ordem Pública disse que a prefeitura irá anunciar o planejamento operacional para o Carnaval em entrevista coletiva nesta quinta (14), às 14h30.
Um dos blocos que manteve a decisão de não desfilar neste ano foi o Cordão do Bola Preta. Signatário do manifesto pelo Carnaval de rua, é um dos mais tradicionais da cidade, com 103 anos de existência.
Presidente do Cordão, Pedro Ernesto Marinho afirma que os blocos decidiram se unir para buscar valorização. Quando o carnaval foi adiado, ele achou que o cortejo dos blocos também aconteceria neste mês.
“Para a nossa surpresa, em nenhum momento foi focado no carnaval de rua e somente nos desfiles das escolas de samba. Nós temos o maior carinho e apreço pelas escolas de samba, mas nós gostaríamos de receber o valor e o apoio compatível com a importância do carnaval de rua”, diz Marinho. (Matheus Rocha – Folhapress/PD/Foto: Tomaz Silva – Agência Brasil)