Lula tenta debelar mal-estar entre CUT e nove centrais sindicais
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (foto) (PT) se apressou para debelar, na manhã desta segunda-feira, um mal-estar provocado no meio sindical pela CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Vinculada ao PT, a CUT entregou a Lula um conjunto de propostas voltadas para a classe trabalhadora. A divulgação da reunião com o ex-presidente surpreendeu os dirigentes de outras nove centrais sindicais, que se reúnem na próxima quinta-feira para aprovação simbólica de uma pauta comum a ser apresentada aos presidenciáveis.
O documento que sairá da Conclat (Conferência da Classe Trabalhadora) é fruto de um debate iniciado no ano passado com a participação da CUT. Já no fim de semana, dirigentes das outras centrais fizeram chegar a Lula sua insatisfação.
Ao discursar na manhã desta segunda-feira, Lula fez um apelo pela unidade do movimento sindical.
Aos dirigentes da CUT, o ex-presidente lembrou já ter participado de um encontro com representantes de outras centrais, no qual ficou acertada a elaboração de uma pauta conjunta de reivindicações.
“Espero que ali vocês construam alguns princípios básicos com outras centrais, para que eu não tenha que receber uma plataforma da CUT, uma da CGT, de seis, sete centrais. É importante que tenha uma só. Tenho certeza que vocês têm capacidade colocar isso no papel.”
Na abertura do encontro, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), também pregou a união do movimento sindical. “Nunca foi tão importante a gente construir essa unidade”, disse.
Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Adilson Araújo foi um dos que protestaram contra a iniciativa da CUT. Segundo ele, houve um atropelamento.
“Desagradou ao movimento sindical, embora nada sirva de motivo para que a gente deixe de valorizar a Conclat”, afirmou.
Já o presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), Oswaldo Augusto de Barros disse que essa iniciativa “demonstra o quanto a CUT é comprometida com a unidade sindical”.
Questionado se essa foi uma ironia, redarguiu: “Tem outra afirmação a se fazer?”
Além de ter levado sua queixa ao Instituto Lula, os dirigentes da Força Sindical divulgaram a programação da Conclat, ressaltando que sua organização ocorreu de “forma unitária”. O evento na CUT provocou a convocação de um encontro com demais centrais nesta terça-feira.
Em discurso desta segunda, Lula reforçou a importância do movimento sindical para construção de uma narrativa favorável à classe trabalhadora. O ex-presidente frisou ainda a necessidade de eleição de uma bancada alinhada ao PT.
“Aqui não tem ninguém inocente. Vocês sabem que qualquer coisa que a gente quiser fazer, a gente vai ter que passar pelo Congresso Nacional”, disse, após ouvir do presidente da CUT, Sérgio Nobre, a importância de aprovação de reformas nos cem primeiros dias de um eventual governo Lula.
O ex-presidente defendeu, no entanto, a necessidade de negociação com diversos setores da sociedade, duvidando do sucesso do que chamou de bravatas. Lula disse também que, sem mudanças na configuração do Congresso, será muito difícil a aprovação do contrarreformas.
“Não adianta chorar. Se não tiver número, a gente não faz”, avisou.
Lula disse que “mais difícil que ganhar vai ser desfazer o desmonte das instituições que eles fizeram”. Entre os desafios que teria à frente do governo seria o de demitir cerca de 8.000 militares que, segundo ele, estariam em cargos comissionados.
“Vamos ter que tirar mais quase 8.000 militares que estão em cargos de pessoas que não prestaram concurso. Isso não pode ser motivo de bravata”, disse.
No discurso que antecedeu o de Lula, Sérgio Nobre afirmou que haverá uma batalha muito dura nas ruas e nas redes sociais. O presidente da CUT disse que não encontra canal de debate no empresariado.
“Não tem ninguém no setor empresarial que queira fazer um debate. Vamos ter que comprar um pau com todo mundo”, disse.
Ao tomar a palavra minutos depois, Lula admitiu, porém, a dificuldade de construção de uma narrativa que se contraponha à dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Como vamos fazer para convencer o cara do Uber de que ele não é um microempreendedor, de que ele é quase um escravo nos tempos modernos porque não tem direito nenhum. Como vamos construir uma narrativa para acabar com trabalho intermitente?”, perguntou o petista.
Segundo Lula, essa é a situação mais grave que o movimento sindical está vivendo, marcado pelo desmonte de direitos trabalhistas sem que os sindicatos apresentem capacidade de reação. Ele sugeriu que os dirigentes sindicais revejam a forma de diálogo com a sociedade.
“Fazer um ato público na frente do Congresso não move uma pestana de um deputado”, disse.
Apesar de o documento da CUT defender a revogação das reformas previdenciária e trabalhista, Lula recomendou que os sindicalistas apresentem suas propostas à luz de um novo cenário. O ex-presidente reafirmou ser contra o imposto sindical.
“Embora eu tenha dito que a gente vai tentar mudar e destruir a reforma que eles fizeram, não queremos a volta ao passado”, disse o ex-presidente, acrescentando que as centrais “terão que dizer qual é o novo que a gente deseja”.
Mais uma vez, Lula afirmou que enfrentará uma eleição complicada contra Bolsonaro.
“A gente percebe que ele tem uma turma. A turma dele envolve muitos milicianos, envolve muita gente de direita, envolve muita gente da área aposentada dos militares, alguns da ativa. Temos que saber que não estamos lutando com um cara qualquer”, disse. (Cátia Seabra – Folhapress/Foto: Ricardo Stuckert – Instituto Lula)