Lula elogia Dilma no aniversário do PT, admite erros, mas defende legado
No aniversário de 42 anos do PT, o ex-presidente Lula (foto) acenou com reconhecimento de erros cometidos pelo partido. Mas, afirmando que a sigla foi vítima de um golpe, disse que o legado é maior e fez elogios à ex-presidente Dilma Rousseff.
“Nem sempre conseguimos fazer tudo o que queríamos, mas certamente o nosso legado é muito mais importante do que qualquer erro que a gente possa ter [cometido]”, afirmou o petista em evento comemorativo, transmitido virtualmente nesta quinta-feira.
“Foram tantos acertos, que os atrasados desse país se viram obrigados a dar um golpe e derrubar a primeira mulher eleita presidenta do Brasil”, seguiu ele, em referência ao impeachment de Dilma.
Lula teceu ainda elogios a Dilma, que não participou presencialmente do evento. Um depoimento gravado da petista foi exibido.
“Poucas vezes nesse país teve uma mulher da qualidade moral, ética e competência técnica da Dilma. E a Dilma é uma das grandes injustiçadas que a elite brasileira resolveu escolher com todas as críticas possíveis, para poder criminalizar o PT, da mesma forma que tentaram me criminalizar”, disse.
O ex-presidente seguiu afirmando que críticas a Dilma são permitidas entre petistas, mas não entre adversários da sigla.
“Os irresponsáveis que quebraram esse país tentam jogar nas costas dela e nas do PT a quebradeira do país. Queria te falar, Dilma, que admito que alguém do PT possa fazer crítica a você, mas nós do PT não podemos admitir que nenhum inimigo nosso, conservador ou alguém que represente a elite atrasada possa falar mal de você”, seguiu ele.
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, a cúpula do PT decidiu se vacinar contra críticas à política econômica implementada no governo de Dilma, antecipando debate que deverá marcar a corrida presidencial.
A intenção é esgotar o debate antes que chegue à campanha eleitoral, dissecando as circunstâncias que levaram à crise econômica de 2015 e culminaram no impeachment de Dilma em 2016. A estratégia parte da premissa de que seria improdutivo tentar esconder a petista durante a campanha.
No entanto, apesar da defesa ao seu governo, o partido segue dividido sobre qual será a participação efetiva de Dilma na campanha, uma vez que a crise econômica que antecedeu o impeachment se tornou munição de adversários, entre eles Bolsonaro.
O presidente deverá investir cada vez mais em comparações de seu mandato com o governo de Dilma, como parte de sua estratégia eleitoral contra o ex-presidente Lula.
Em seu depoimento gravado, Dilma afirmou que é necessário ir às ruas na campanha deste ano para “lembrar quem precisa ser lembrado do nosso legado”.
“Os dois governos Lula e o mandato que consegui exercer inteiramente entre 2011 e 2014, e mesmo durante a sabotagem golpista por parte do Congresso, do mercado e da mídia a partir do golpe. Mesmo assim, conseguimos registrar os maiores avanços do nosso país em várias partes”, disse ela.
Dilma também teceu elogios ao ex-presidente Lula. “Venceremos porque temos alguém capaz de fazer história junto com a força do povo, de recuperar os nossos valores e, mais do que tudo, refazer o Brasil. E é Luiz Inácio Lula da Silva”, disse.
Em um aceno à costura de alianças, Dilma também afirmou que o ex-presidente terá ao seu lado “o partido e fortes aliados”.
No evento, também foram exibidos depoimentos de lideranças políticas, brasileiras e internacionais, de parlamentares e de presidentes de partidos, entre eles Gilberto Kassab, do PSD.
“Quero cumprimentar todos os petistas de todos os cantos do Brasil pelo aniversário de 42 anos, poucos partidos têm tanta história no mundo, e dizer que todos nós brasileiros temos profundo orgulho das realizações e do legado que o PT nos deixou”, afirmou Kassab.
O gesto ocorre na mesma semana em que o ex-ministro se encontrou com o ex-presidente e afirmou que “não é impossível” uma aliança do partido com o PT no primeiro turno, apesar da prioridade de lançar nome próprio à disputa em outubro.
Apesar de o PSD ter o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), como pré-candidato ao Palácio do Planalto, há uma pressão de integrantes do PT e do próprio PSD para que a sigla de Kassab embarque na candidatura de Lula já no primeiro turno. (Victoria Azevedo e Cátia Seabra – Folhapress)