Juros elevados são maior entrave para acesso ao crédito na indústria, diz CNI
O patamar elevado da taxa de juros é o principal empecilho para que as empresas consigam ter acesso ao crédito de curto ou médio prazo, aponta pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Segundo a Sondagem Especial Condições de Acesso ao Crédito realizada pela confederação, 71% das empresas consultadas apontaram o nível da taxa de juros como o maior entrave para conseguir acesso ao crédito.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito críticas reiteradas ao BC (Banco Central) por conta da manutenção da taxa básica de juros (Selic) no patamar de 13,75% ao ano, no qual se encontra desde agosto de 2022.
Para o encontro de junho do Copom (Comitê de Política Monetária), a expectativa majoritária do mercado indica a manutenção dos juros no patamar atual, com alguma flexibilização a partir do terceiro trimestre.
O levantamento da CNI indicou ainda que, para 25% dos empresários da indústria, as exigências de garantias reais também despontam como um dos maiores obstáculos na hora de buscar financiamento no mercado. Outros 16% dos entrevistados apontaram a falta de linhas adequadas à necessidade da empresa.
A pesquisa da CNI ouviu 2.022 empresários entre os dias 1º e 9 de março sobre as condições de crédito em um período de seis meses, entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023.
Os dados da confederação das indústrias mostram ainda que cerca de 20% das empresas que buscaram acesso a linhas de crédito de curto e médio prazo ao longo dos últimos meses não conseguiram a aprovação junto aos credores. O percentual sobe ainda mais, para 37%, quando a demanda era por linhas de longo prazo.
“O problema não para por aí. Mesmo quando a empresa consegue o crédito, ela encontra dificuldades”, afirma Fábio Guerra, gerente de política econômica da CNI.
Segundo ele, para aproximadamente um terço das empresas que conseguem financiamento, as condições de renovação do crédito foram piores, considerando aspectos como os juros cobrados, o número de parcelas e as garantias exigidas.
Guerra acrescenta que 20% das empresas não conseguiram obter o crédito no volume almejado. Os dados mostram que essa dificuldade atingiu mais as pequenas (29%) e as médias empresas (26%) do que as grandes (17%).
“Isso é muito negativo porque elas acabam não conseguindo realizar os projetos desejados, e muitas vezes precisam recorrer a recursos próprios, o que geralmente é menos eficiente”, diz o especialista.
Os dados da pesquisa da CNI indicam também que, para 60% das empresas que buscaram crédito, os recursos foram destinados para capital de giro, como o pagamento de fornecedores, despesas com funcionários e aquisição de matéria-prima.
Já para 21% das empresas, a busca por financiamento tinha como objetivo fazer novos investimentos, seja em máquinas e equipamentos, instalações ou pesquisa e desenvolvimento.
De acordo com as empresas industriais ouvidas pela pesquisa, a alternativa mais apontada para contornar o problema de crédito, com cerca de 30% das respostas, foi a redução dos custos tributários e administrativos sobre o crédito, como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
A ampliação das linhas públicas de crédito (25%) e a simplificação de exigências impostas pelas instituições financeiras (21%) também apareceram entre os principais caminhos para facilitar o acesso a financiamentos.
“A melhoria nas condições de oferta de garantias pelas empresas é uma agenda muito importante, que tem sido trabalhada e deve se intensificar. Nesse sentido, destacam-se aprimoramentos a dois programas criados na pandemia e que merecem ser fortalecidos, o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e o PEAC (Programa Emergencial de Acesso ao Crédito). Outra oportunidade de avanço é o PL 4.188/2021, que instituí o Novo Marco de Garantias”, diz Guerra.
(Lucas Bombana – Folhapress /Foto: Diego Padgurschi/Folhapress)
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