IA reforça demanda por tecnologia que diferencia humano de robô
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Ter a garantia de estar lidando com pessoas de verdade é uma necessidade cada vez mais importante para prevenir as fraudes digitais
Por Por World e Estadão Blue Studio – Estadão Conteúdo
Depois de uma videoconferência com o diretor financeiro da empresa de engenharia para a qual trabalhava, sediada na Inglaterra, um funcionário seguiu a ordem de transferir US$25 milhões para cinco contas em Hong Kong indicadas pelo superior. O problema é que ele não havia conversado com quem imaginava estar conversando: tratava-se de uma simulação convincente, a chamada deep fake, produzida com recursos de inteligência artificial. O requinte dos criminosos ao elaborar e executar o plano chegou a ponto de inserir na conversa representações de outros executivos da companhia.
O caso ganhou repercussão como exemplo dos riscos que empresas e pessoas físicas estão correndo ao lidar com robôs ou construções da inteligência artificial que se passam por humanos. Trata-se de um efeito colateral das rápidas evolução e disseminação das novas ferramentas tecnológicas – que certamente trazem muitos benefícios, mas também representam grandes danos em potencial. As estratégias dos criminosos virtuais avançam no mesmo ritmo de evolução das tecnologias, o que exige crescentes investimentos em prevenção e cibersegurança.
O desafio de confirmar a humanidade no ambiente online ainda está fortemente atrelado à checagem da identidade, processo em grande parte baseado em referências herdadas da era analógica. Ao se fazer uma compra online, por exemplo, é preciso repassar diversas informações pessoais: nome, números de documentos, endereços, telefone, e-mail, dados bancários. Recursos adicionais nascidos na era digital, a exemplo de senhas e captchas, já não têm sido plenamente eficazes para evitar invasões, vazamentos, falsificações e o uso indevido das informações pessoais.
Prova de humanidade
Nesse cenário, desenvolver formas plenamente confiáveis e mais seguras de provar a humanidade é uma demanda crescente e necessária para distinguir se as interações online vêm de pessoas ou de robôs. Atualmente há mais de 10 iniciativas em andamento no mundo, com o objetivo de criar ferramentas para assegurar que estamos nos relacionando virtualmente com uma pessoa real.
Entre essas iniciativas, está o protocolo World, que chegou ao Brasil no final do ano passado. A ideia é criar uma maneira segura de verificar seres humanos, contribuindo assim para que a internet se torne um ambiente mais confiável e seguro.
As projeções futuras de uso da prova de humanidade incluem, por exemplo, a integração com as redes sociais, o que asseguraria que determinada conta pertence a uma pessoa real, prevenindo a criação de perfis falsos; na venda de ingressos para shows ou eventos esportivos, evitaria a utilização de robôs para compras em massa, privando seres humanos reais de adquirir bilhetes; em um aplicativo de encontros, deixaria claro quais perfis são de pessoas de verdade, inibindo golpes; em jogos online, tornaria mais justa e equilibrada as disputas, deixando-as restritas a pessoas reais; nas compras online, evitaria fraudes e compras automatizadas.
Crimes digitais batem recorde
Estima-se que tenham ocorrido 5 milhões de fraudes digitais no Brasil no ano passado, crescimento de 45% em relação ao ano anterior, de acordo com levantamento da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP). O mesmo estudo traz números ainda mais alarmantes: um em cada quatro brasileiros chegou a sofrer alguma tentativa de golpe ao longo do ano, metade dos quais foi efetivamente vitimada.
Boa parte desses crimes utilizou ferramentas de inteligência artificial, como a simulação de vozes e imagens (deep fakes), para enganar as pessoas e induzi-las a ações que lhes prejudicaram. “As modalidades mais praticadas permanecem sendo golpes bancários (com várias modalidades), phishing (cada vez mais sofisticado) e golpes sociais (aqueles em que a engenharia social convence a vítima a tomar alguma atitude que lhe causará prejuízo financeiro)”, informou a entidade.
Uma pesquisa da Tools for Humanity feita em outubro de 2024 com mais de 1.200 brasileiros apontou que 65% dos entrevistados estão preocupados com bots, tecnologias deep fake, fraudes online e desinformação provocada pelo uso de inteligência artificial. Mais de 80% dos respondentes afirmaram que tecnologias capazes de promover a distinção entre robôs e humanos no ambiente online são importantes para lidar com esses problemas.
Rede de humanos verificados tornará a internet mais confiável
World é um protocolo de código aberto criado para permitir que as pessoas comprovem, de forma simples, que são reais em interações online
A rede World surge como um protocolo que pretende criar uma rede de humanos devidamente comprovados. A proposta é que esta rede não tenha um “dono” e ganhe escala para existir sozinha e de forma descentralizada – assim como ocorreu, por exemplo, com a própria internet. Nessa visão de futuro, a ferramenta viabilizaria uma rede de humanos verificados, que pode ajudar pessoas e empresas a ampliar o nível de confiabilidade e de segurança das atividades digitais.
O número de humanos com um World ID verificado, em todos os continentes, já passa de 11 milhões. Nos países onde é permitido, o token Worldcoin (WLD) é oferecido às pessoas que se verificam, que podem aceitar a oferta de forma opcional e voluntária. O token tem o objetivo de incentivar a participação dos humanos verificados no ecossistema da World, que conta com diversos mini apps, que, por sua vez, promovem acesso a jogos online e a possibilidade de fazer recargas de celular e doações, entre outros serviços.
“Esse projeto tem a privacidade como pilar fundamental” (Rodrigo Tozzi, diretor de Operações da World).
Foto: Pexels
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