Homem acusa irmão de ocultar corpos de meninos desaparecidos em Belford Roxo, na Baixada
Um homem se apresentou à Polícia Militar nesta quarta-feira e acusou o irmão de ter participado da ocultação dos corpos dos três meninos desaparecidos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O caso segue sem solução há sete meses.
Desde 27 de dezembro de 2020, a polícia busca o paradeiro de Lucas Matheus, 9, Alexandre Silva, 11, e Fernando Henrique, 12. Eles saíram para brincar no campo de futebol próximo de casa e não voltaram mais.
Em nota, a PM informou que o suspeito de ocultar os corpos foi localizado e conduzido à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, responsável pelas investigações, junto com o homem que prestou as informações, para serem ouvidos. Os dois irmãos possuem passagem na polícia por tráfico de drogas.
O homem também declarou no 39º BPM (Belford Roxo) que José Carlos dos Prazeres Silva, conhecido como “piranha”, teria mandado espancar e matar as crianças. Depois, o irmão dele teria levado os corpos até um lugar chamado de Ponto do Ferro 38, por onde passa um rio que corta a cidade da Baixada.
Agentes fazem buscas para tentar encontrar os meninos no local. A morte das crianças pode ter sido causada pelo roubo de uma gaiola de passarinhos, segundo as investigações.
Além de suspeito de mandante dos assassinatos, José Carlos já foi denunciado e é procurado pela polícia por ter ordenado a tortura de um homem inocente, que foi apontado erroneamente como autor do crime. Outros nove foram denunciados pela sessão de tortura.
No últmo dia 20, a PM prendeu um outro homem, Erick Faria de Paula, conhecido como “Rabicó”, que pode ajudar a elucidar o caso.
Ele foi detido por policiais do 39° BPM (Belford Roxo), quando estavam em patrulhamento no bairro próximo do local do desaparecimento dos meninos. Segundo a corporação, há dois mandados de prisão dele e um celular foi apreendido.
Segundo o G1, Rabicó não estava na lista de suspeitos nas investigações da Polícia Civil. Ainda assim, os agentes acham que a prisão pode ajudar a esclarecer o crime, porque ele atuava como traficante da comunidade Castelar, região de onde eram as crianças.
Há sete meses, as investigações patinam. As famílias dos meninos reclamam de descaso da polícia. Logo após o desaparecimento, as mães ouviram de agentes que só poderiam registrar o sumiço 24 horas depois, sendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê buscas imediatas. Hoje, elas dizem estar às escuras, sem o repasse das pistas.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense montou uma força-tarefa junto com a Delegacia de Descoberta de Paradeiros da capital para reforçar as buscas pelos três.
A polícia diz que já fez mais de 80 diligências, além de buscas em diversos bairros do Rio e de cidades da Baixada, onde imagens foram coletadas e apresentadas às famílias. Também afirma que começou a apuração “imediatamente após a comunicação do desaparecimento”, com o registro da ocorrência e um primeiro depoimento formal.
O delegado do caso, Uriel Alcântara Machado, no entanto, já admitiu dificuldade para investigar o desaparecimento. Isso porque a área onde as crianças moravam é controlada por traficantes, e qualquer tentativa de entrar lá exige “planejamento operacional”.
A principal teoria, inclusive, continua sendo a de que os meninos teriam sido pegos pelo tráfico local. Mas o sumiço teria acontecido de forma “muito discreta”, segundo Machado, e faltam elementos que contribuam com a apuração.
A Baixada Fluminense tem um problema crônico de desaparecimentos, com cerca de 15 registros diários. A taxa foi de 32 casos a cada 100 mil habitantes na região em 2020, contra 28 no estado todo.
O sumiço dos meninos de Belford Roxo acelerou a publicação de um decreto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em fevereiro, que regulamenta a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas. (Folhapress)