Guedes vê como legítima pressão do centrão e tenta manter aliados no Trabalho

Após afirmar que perdeu a área de Previdência e Trabalho de seu superministério por “pressão política inteiramente legítima”, o ministro Paulo Guedes (Economia) trabalha para que quadros técnicos que estão hoje sob seu comando sejam mantidos na nova pasta.
O objetivo, segundo fontes que acompanham as conversas, é não perder totalmente o controle sobre o órgão e evitar uma guinada política às vésperas do ano eleitoral.
Guedes afirmou nesta quinta (22) que o presidente Jair Bolsonaro sempre lhe deu “apoio total” quando houve pressões que pudessem “desviar o nosso programa”, como quando congressistas pediram a recriação dos Ministérios do Planejamento, da Indústria e, inclusive, do Trabalho.
Segundo o titular do Ministério da Economia, ficou acordado que o atual secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, migrará para a nova pasta “para dar continuidade” ao plano do governo.
“Está havendo uma reorganização interna sem nenhuma ameaça ao coração da política econômica. E é uma pressão política inteiramente legítima. As práticas são republicanas, está tudo acontecendo à luz do dia”, afirmou o ministro.
A reforma ministerial preparada por Bolsonaro inclui a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Com isso, haverá a transferência de Luiz Eduardo Ramos da Casa Civil para a Secretaria-Geral.
O atual secretário-geral, Onyx Lorenzoni, ganhará a nova pasta de Trabalho e Previdência. Ele é deputado federal e já comandou, além da Secretaria-Geral da Presidência, a Casa Civil e a Cidadania.
A equipe econômica, o que inclui Bianco, trabalha na elaboração de um novo programa de emprego para incentivar a entrada de jovens no mercado. O foco, como já anunciou Guedes, é a qualificação profissional, com o recebimento de um bônus temporário.
Técnicos da pasta lembram que Rogério Marinho, ex-titular da secretaria de Previdência e Trabalho, também é político e conseguiu, apesar dos percalços, aprovar a reforma da Previdência. O diálogo com o Congresso ajudou no avanço da proposta.
No entanto, Onyx não tem a mesma relação com congressistas, habilidade reconhecida de Marinho. Ele é mais ligado à base ideológica de Bolsonaro e terá um ministério para chamar de seu -não uma secretaria sob a tutela de Guedes.
A área técnica do Ministério da Economia, contudo, não vê margem para grandes mudanças nos rumos tomados pela Secretaria de Previdência e Trabalho.
O cofre para bancar programas e projetos do governo está com Guedes, e a equipe econômica espera manter técnicos de confiança na estrutura de Onyx.
Bianco fez reunião com Onyx nesta quinta. Segundo relatos, a tendência é que ele seja confirmado como secretário-executivo da nova pasta.
O martelo deve ser batido apenas após a edição da medida provisória para reestruturar os ministérios.
Inicialmente, houve um temor entre técnicos da pasta em relação às mudanças que poderiam ser promovidas por Onyx no quadro de pessoal -principalmente pela visão de que a equipe atual é entrosada e consegue entregar as demandas, ativos vistos como importantes em um momento de fase final de desenvolvimento e negociação em diferentes projetos.
Os temores eram reforçados porque Onyx normalmente muda de pasta levando time próprio, promovendo fortes mudanças aonde chega.
Além disso, membros da secretaria mencionam os movimentos promovidos por Onyx no início do governo, quando fez campanha para “despetizar” os ministérios.
Em 2019, quando comandava a Casa Civil, ele anunciou um plano para demitir servidores em cargos comissionados que tivessem influência de gestões anteriores.
Um dos membros da Economia ressalta que o próprio Bianco foi assessor especial da Casa Civil no governo Michel Temer (MDB). Outros integrantes da secretaria já atuaram em gestões anteriores.
Após conversas entre Bianco e Onyx e reuniões entre as equipes técnicas, no entanto, a avaliação é que o ambiente é construtivo e que o novo chefe da pasta deve dar continuidade às ações desenhadas pelo time de Guedes.
Na avaliação de integrantes da ala política do governo, a pasta dada a Onyx foi um movimento necessário para abrir caminho para as pautas defendidas pelo Ministério da Economia. Guedes quer aprovar reformas, como a tributária, que dependem de apoio partidário no Congresso.
Nesta quinta, Bolsonaro disse que a decisão de enxugar o Ministério da Economia tem como objetivo dar “certa descompressão” a Guedes.
“O Paulo Guedes tem um ministério enorme, ele agregou cinco ministérios no passado, quando assumiu. Um esforço enorme para manter aquele ministério funcionando. Ele mesmo concordou com a retirada dessa parte que é o antigo Ministério do Trabalho e da Previdência para passar a esse novo ministério”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Banda B, de Curitiba (PR).
Para Guedes, a alteração não mudará em nada o rumo econômico do governo.
O ministro disse que tem havido dificuldades no Senado e, portanto, “é natural que haja uma reacomodação de forças políticas”.
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ESTRUTURA ATUAL DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA
– Secretaria especial de Fazenda (abriga o Tesouro Nacional)
– Secretaria especial da Receita Federal
– Secretaria especial de Previdência e Trabalho
– Secretaria especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais
– Secretaria especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados
– Secretaria especial de Produtividade, Emprego e Competitividade
– Secretaria especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital
– Secretaria especial do Programa de Parcerias de Investimentos

PASTAS INCORPORADAS À ECONOMIA NO INÍCIO DO GOVERNO
Ministério da Fazenda
Era responsável por formular e executar a política econômica. Abrigava o Tesouro Nacional, considerado o cofre do governo, e a Receita Federal, responsável pela cobrança de tributos

Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
Coordenava as políticas de gestão da administração pública, comandava o Orçamento e o patrimônio federal e era uma espécie de RH dos servidores

Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços
Formulava e executava políticas públicas para promover a competitividade e desenvolver a indústria e o comércio exterior, além de avaliar e aplicar mecanismos de defesa comercial

Ministério do Trabalho
Atuava na fiscalização do trabalho, política salarial, diretrizes para geração de emprego e regulação profissional

O QUE MUDA
Será recriado o Ministério do Trabalho e da Previdência. Com isso, o Ministério da Economia deve perder a secretaria especial de Previdência e Trabalho. Guedes ainda avalia fazer mudanças de menor porte dentro da estrutura de secretarias da Economia. (BERNARDO CARAM, THIAGO RESENDE, FÁBIO PUPO E DANIEL CARVALHO
BRASÍLIA, DF – FOLHAPRESS. Foto: Agência Brasil/Marcos Corrêa/PR)

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