EUA alertam para risco de guerra nuclear com China e Rússia
Pela primeira vez na história, os Estados Unidos enfrentam o risco de uma guerra com duas potências nucleares ao mesmo tempo, a China e a Rússia. E lutar simultaneamente contra elas seria muito difícil, apesar das capacidade militares americanas.
A avaliação foi feita pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, Mark Milley, o principal general do país. Ela é alarmista e alarmante em iguais medidas: o militar a fez para pedir a aprovação do maior orçamento de Defesa da história de seu país.
Milley e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, foram ouvidos pelo Comitê dos Serviços Armados da Câmara dos Representantes acerca do pedido do governo Joe Biden por uma fatura de US$ 824 bilhões (R$ 4,3 trilhões hoje) para o ano fiscal de 2024 (1º de outubro a 30 de setembro do ano que vem).
Assim, alarmismo cai bem para sensibilizar os congressistas. Mas as declarações são alarmantes, ao mesmo tempo, porque há uma guerra em curso na Ucrânia patrocinada por Vladimir Putin, o maior aliado do chinês Xi Jinping, todos engalfinhados no âmbito na Guerra Fria 2.0.
“Tanto a China quanto a Rússia têm meios para ameaçar a segurança nacional dos EUA. Mas a história não é determinista, e a guerra com eles não é nem inevitável, nem iminente”, afirmou Milley, colocando os pés mais no chão.
Seja como for, em sua apresentação ele delineou todos os elementos de risco em curso. Disse, por exemplo, que Putin “continua a usar retórica e postura nucleares irresponsáveis” enquanto a Rússia fazia um dos maiores exercícios com mísseis intercontinentais da história recente, com 3.000 homens no centro do país.
Desde que a guerra começou, o presidente russo lembra de tempos em tempos que tem o que Milley descreveu como “o maior e mais moderno” arsenal atômico do mundo, equiparável ao americano: ambos os países detêm pouco mais de 90% das 13 mil ogivas espalhadas pelo mundo.
Dessas, por tratado agora suspenso pela Rússia, há cerca de 1.600 prontas para uso a qualquer momento por ambos os lados. A China vem em terceiro, segundo a Federação dos Cientistas Americanos com 410 estocadas, enquanto aliados ocidentais como França e Reino Unido têm, respectivamente, 290 e 225.
Milley falou sobre as crescentes capacidades chinesas. “A China tem milhares de mísseis de alcance local nos seus arsenais, que seriam de difícil contenção pelos EUA com seu inventário atual”, disse, defendendo investimento em armas hipersônicas e outras.
“O potencial para conflito armado está crescendo. A China permanece como nosso desafio de segurança geoestratégica de longo prazo número 1”, citando a expansão militar de Pequim no Indo-Pacífico e as medidas americanas contra isso, como patrulhas (pediu mais navios, claro) e o pacto militar Aukus, que fornecerá submarinos nucleares para a Austrália.
Milley lembrou também que a aliança selada antes da guerra em 2022, e reforçada com a visita de Xi Jinping a Putin na semana passada, pode ser reforçada se o Irã se tornar uma potência nuclear. O general disse que o regime dos aiatolás, alinhado tanto a Moscou quanto a Pequim, “pode produzir material físsil para uma bomba em duas semanas” e uma arma, em meses.
Falou também sobre a Coreia do Norte, citando a aceleração do programa de mísseis e armas nucleares da ditadura de Kim Jong-un, que na véspera havia apresentado o que seria uma nova ogiva atômica pequena o suficiente para equipar seus foguetes intercontinentais capazes de atingir os EUA.
“Não há nada mais caro do que lutar uma guerra. E preparar para a guerra é também muito caro, mas lutar uma é mais. Preparar para a guerra vai deter essa guerra”, disse, parafraseando o escritor romano Flávio Vegécio (“Se vis pacem, para bellum”, ou “se queres a paz, prepara-te para a guerra”).
Os EUA já são, de longe, os donos do maior gasto militar do mundo. Em 2022, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, empregaram US$ 767 bilhões (R$ 3,9 trilhões) em defesa, ante US$ 242 bilhões (R$ 1,2 trilhão) da segunda colocada, a China, e US$ 88 bilhões (R$ 450 bilhões) da terceira, a Rússia. O mundo gastou, ao todo, US$ 1,97 trilhão (R$ 10,1 trilhões) no setor.
Nenhum país projeta tanto poder: dos seus 1,36 milhão de militares, 250 mil estão postados no exterior. Sua frota de 11 porta-aviões com propulsão nuclear é única, levando poder de fogo a qualquer ponto do planeta, para não falar no arsenal atômico.
“A prontidão operacional hoje é maior agora do que foi em muitos anos. Atualmente, 60% de nossa força ativa está no mais alto estado de prontidão e pode ser colocada em combate em menos de 30 dias. Dez por cento da nossa força pode ser empregada em menos de 96 horas”, afirmou.
(Igor Gielow – Folhapress /Foto: Pedro Ladeira – Folhapress)
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