Estados Unidos acusam Rússia de preparar sabotagem para justificar invasão da Ucrânia

 A Rússia tem preparado operações de sabotagem e de desinformação para justificar uma invasão à Ucrânia em breve, afirmaram autoridades dos Estados Unidos nesta sexta-feira em meio à escalada de tensões entre Moscou, Kiev e Washington.
A afirmação foi feita depois que diversos sites do governo ucraniano foram alvos de um ataque hacker nesta sexta, que tirou do ar as páginas dos ministérios das Relações Exteriores, da Educação e o das Situações de Emergência, entre outros.
Antes que a página da chancelaria saísse do ar, os autores do ataque postaram uma ameaça em ucraniano, russo e polonês. “Ucranianos, tenham medo e se preparem para o pior. Todos os seus dados pessoais foram tornados públicos”, afirmava a mensagem, acompanhada de vários logotipos, incluindo uma bandeira ucraniana riscada. Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque, e Kiev não acusou ninguém.
Nos últimos anos, a Ucrânia foi alvo de uma série de ataques do tipo atribuídos à Rússia, como um lançado em 2017 contra várias infraestruturas críticas, e outro em 2015, contra sua rede elétrica.
As potências ocidentais acusam a Rússia de planejar uma invasão da Ucrânia, após enviar tanques, artilharia e mais de 100 mil soldados para a fronteira leste do país nas últimas semanas. A Otan, a aliança militar ocidental, vê o deslocamento como preparação para uma ação militar, o que Moscou nega.
O ataque cibernético aconteceu pouco depois que terminaram, em impasse, as negociações entre Estados Unidos, seus aliados europeus e a Rússia, em mais uma tentativa fracassada de diminuir a crise gerada após o envio dos militares à fronteira.
Nesta sexta, uma autoridade americana de alto escalão disse, sob condição de anonimato, que os Estados Unidos estão preocupados com a possibilidade de a Rússia fabricar pretextos para a invasão, com operações de sabotagem e de desinformação, onde acusariam falsamente a Ucrânia de preparar um ataque contra as forças do Kremlin.
A ideia dos russos, segundo o governo americano, é lançar essa ofensiva de sabotagem semanas antes de uma invasão de fato, o que poderia acontecer até meados de fevereiro, nos cálculos do governo americano.
Segundo essa autoridade, os Estados Unidos já têm informações que indicam que a Rússia colocou um grupo de agentes para realizar a chamada “operação de bandeira falsa”, com uso de explosivos para atos de sabotagem contra as próprias forças russas, de modo a justificar um ataque militar. Além disso, influenciadores russos já estariam começando a fabricar e disseminar boatos para justificar uma intervenção, segundo o agente americano.
A inteligência militar da Ucrânia também acusou Moscou de preparar provocações contra tropas russas que estão posicionadas em uma região separatista da vizinha Moldávia, o que poderia ser usado como pretexto para invadir o país em uma nova frente a oeste.
Moscou reagiu após a imprensa americana publicar as suspeitas de uma operação de desinformação e disse que a acusação é infundada.
A Rússia nega ter planos de atacar a Ucrânia, mas diz que pode tomar “ações técnico-militares” se os americanos não atenderem às suas exigências de impedir Kiev de ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar das forças ocidentais que Moscou tenta tirar de seu quintal.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse nesta sexta-feira que espera que as negociações de segurança com os Estados Unidos sejam retomadas, mas que isso dependerá da resposta de Washington às propostas de Moscou. “Nós categoricamente não aceitaremos o aparecimento da Otan em nossas fronteiras, especialmente devido aos atuais rumos do governo ucraniano”, disse.
Questionado sobre o que Moscou quis dizer com a ameaça nesta semana de “ação técnico-militar” se as negociações falharem, Lavrov disse: “Medidas para implantar equipamentos militares, isso é óbvio. Quando tomamos decisões com equipamentos militares, entendemos o que queremos dizer e o para o que estamos nos preparando.”
Ataques cibernéticos Autoridades da Ucrânia investigam o enorme ataque cibernético que atingiu cerca de 70 sites de órgãos governamentais, incluindo o Ministério das Relações Exteriores. Embora evitassem acusar diretamente Moscou, os ucranianos deixaram claro que suspeitam de ação do governo russo. A Rússia não comentou o atual ataque, mas negou, em outros episódios, patrocinar ataques cibernéticos.
A Otan respondeu anunciando que assinará em breve um novo acordo com Kiev para estreitar a cooperação militar na área de defesa cibernética. O secretário-geral do órgão, Jens Stoltenberg, disse em comunicado que especialistas cibernéticos da Otan já estão trabalhando com as autoridades ucranianas para responder ao ataque.
Autoridades ucranianas disseram não ter havido vazamento de dados pessoais. De acordo com os serviços secretos do país, “o conteúdo dos sites não mudou”. “Grande parte dos recursos do governo afetados foram restaurados, e os outros estarão acessíveis novamente em breve”, afirmaram, acrescentando que algumas páginas foram desativadas voluntariamente para evitar “a propagação dos ataques”.
O principal diplomata da União Europeia, Josep Borrell, condenou o ataque cibernético e disse que o comitê político e de segurança da UE e as unidades cibernéticas se reuniriam para ver como ajudar Kiev. “Não posso culpar ninguém, pois não tenho provas, mas podemos imaginar”, disse. (Folhapress)

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