Em Taiwan, governo e oposição viajam atrás de EUA e China
Nesta semana, governo e oposição em Taiwan realizam viagens para destinos opostos, Estados Unidos e China, buscando apoio pelo menos simbólico em meio à campanha que já toma a ilha, visando as eleições presidenciais e legislativas de janeiro.
O oposicionista Kuomintang ou KMT abriu a corrida, com o ex-presidente Ma Ying-jeou (2008-16) desembarcando na segunda-feira (27) em Xangai com uma defesa da “paz”, que se tornou a bandeira do partido.
No dia seguinte, ele visitou em Nanquim o túmulo de Sun Yat-sen, fundador da República e do próprio KMT, herói nacional para Pequim e Taipei, e voltou a defender paz, argumentando: “Somos todos chineses”.
De sua parte, a atual presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, embarcou nesta quarta (29) para os EUA para se reunir com o novo presidente da Câmara, Kevin McCarthy, que ela convenceu a não repetir o gesto de sua antecessora.
Em agosto passado, Nancy Pelosi foi à ilha, desencadeando uma crise militar com a China que resultou em derrota nas eleições locais para o governista Partido Democrático Progressista (PDP), em novembro. Tsai perdeu o comando de seu próprio partido.
Como ainda há risco de reação militar chinesa, o Departamento de Estado dos EUA se pronunciou cautelosamente sobre a suposta visita “em trânsito” de Tsai, que vai depois para a Guatemala, país ainda com relações diplomáticas com Taiwan.
“Os trânsitos são levados em consideração para segurança, conforto, conveniência e dignidade do passageiro e são consistentes com nossa política de uma só China, que permanece inalterada”, declarou um porta-voz.
Com o embarque de Tsai, um porta-voz do Escritório para Assuntos de Taiwan, do governo chinês, declarou, em Pequim: “Se se encontrar com McCarthy, será outra provocação que viola severamente o princípio de uma só China. Nós tomaremos medidas para responder”.
Apesar do confronto flagrante das duas turnês, KMT e PDP se esforçam para manter aparência autônoma diante de China e EUA. Se a atual presidente evitou receber o líder americano em Taipé, o ex-presidente evitou encontros com autoridades de Pequim.
Ma, nascido em Hong Kong mas de família de Shaanxi, uma das origens da civilização chinesa, justifica ter esperado décadas pela viagem. É a primeira de um mandatário ou ex-mandatário taiwanês à China continental desde 1949, fim da guerra civil.
Nenhum dos dois líderes é propriamente favorável aos interesses da China ou dos EUA. “Pequim costumava preferir vitórias do KMT, mas agora não vê tanta diferença”, diz o cientista político taiwanês Yan Zhensheng.
Segundo ele, “o KMT já não fala sobre unificação” com a China como fazia antes, o que o ligava mais diretamente a Pequim, e o PDP “abandonou a independência”, bandeira que mais o diferenciava.
Yan observa que há outra potência envolvida e que controlou a ilha por décadas, até 49: “O Japão também apoia o PDP, porque Tóquio acredita que pode explorar o impasse das relações através do estreito muito mais facilmente se os dois não se aproximarem”.
Nas eleições de 13 de janeiro, o provável candidato do KMT é Hou You-yi, prefeito de Nova Taipé, cidade colada e maior que a capital, Taipé. Pelo PDP, é Lai Ching-te, adversário interno de Tsai, mas seu vice –e agora presidente do partido.
A visita de Ma segue uma aproximação do KMT, hoje dominante nos governos locais taiwaneses, com províncias da China continental, iniciada neste ano. Teria motivação em parte comercial, já que a ilha viu sua economia se estagnar com o afastamento de Pequim.
É o mesmo movimento de líderes de outras regiões da chamada Grande China, com maior presença da diáspora chinesa, inclusive mídia em mandarim.
Com a abertura da economia da China, pós-pandemia, já foram a Pequim os governantes de Hong Kong e Macau, Lee Hsien Loong e Ho Iat Seng, e devem ir nesta semana Lee Hsien Loong, de Cingapura, e Anwar Ibrahim, da Malásia.
(Nelson de Sá – Folhapress /Foto: Pexels)
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