Em novo ataque à imprensa, Bolsonaro insulta apresentadora da CNN Brasil
O presidente Jair Bolsonaro (foto) voltou nesta terça-feira a atacar uma jornalista. Desta vez, o alvo foi a apresentadora da CNN Brasil Daniela Lima, chamada pelo mandatário de “quadrúpede”.
Ao chegar ao Palácio da Alvorada, no fim da tarde, Bolsonaro parou para conversar com apoiadores. Uma mulher citou uma fala da apresentadora que foi distorcida por bolsonaristas.
Na edição do dia 26 de maio do CNN360º, jornal que apresenta, Daniela disse “não saia daí porque agora, infelizmente, a gente vai falar de notícia boa, mas com valores não tão expressivos”.
Naquele dia, mais cedo, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgou que o mercado de trabalho formal havia registrado saldo positivo em abril, com criação de 120.935 empregos com carteira assinada. Apesar do dado positivo, o número foi o menor de 2021.
Apoiadores do presidente compartilharam nas redes sociais apenas o trecho do vídeo em que a jornalista, que já foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e editora da coluna Painel, diz que “infelizmente, a gente vai falar de notícia boa”, sem a conclusão do raciocínio.
Nesta terça, aproveitando a menção feita pela apoiadora, Bolsonaro atacou a jornalista, sem citar o nome dela.
“‘Infelizmente, somos obrigados a dar uma boa notícia, mas não é tão boa assim não’. É uma quadrúpede”, disse o presidente rindo.
Logo em seguida, Bolsonaro emenda sugerindo que Daniela, no passado, votou em “outra do mesmo gênero”, também sem explicitar a quem se referia.
“Afinal de contas, acho que não precisa dizer de quem ela foi eleitora no passado. De outra do mesmo gênero”, afirmou.
Em nota, a CNN Brasil informou que repudia qualquer tipo de ofensa ou ataque pessoal a jornalistas e profissionais da mídia.
“Apesar de não citar nomes, o presidente da República, Jair Bolsonaro, usou uma palavra muito ofensiva para criticar a âncora da CNN Daniela Lima durante conversa com seus apoiadores na tarde desta terça-feira”, diz a manifestação da emissora.
“A empresa repudia com veemência as ofensas e insinuações do presidente. A liberdade de imprensa é um pilar fundamental em qualquer democracia e precisa ser protegida por toda a sociedade”, segue o comunicado.
A nota encerra reafirmando o compromisso do canal de notícias e de seus profissionais com “a imparcialidade, a isenção e os mais altos padrões do jornalismo”.
Na mesma interação, gravada e transmitida por apoiadores, Bolsonaro também criticou a TV Globo, atribuindo as críticas feitas à aceitação do governo em sediar a Copa América em plena pandemia de Covid-19 ao fato de a emissora não ser a detentora dos direitos de transmissão do campeonato.
“Primeiro uma grita da TV Globo. Presta atenção. TV Globo. Sabe por quê? Porque a transmissão não é deles. Simplesmente”, afirmou.
Pouco antes, ao deixar o Ministério da Saúde, Bolsonaro encerrou abruptamente uma entrevista ao ser questionado sobre o fato de ter nomeado o general Eduardo Pazuello, ex-titular da pasta, para um cargo na Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República. Pazuello será secretário de Estudos Estratégicos no órgão, segundo edição extra do Diário Oficial da União.
O atual presidente da República tem um histórico de ataques à imprensa, na maioria a jornalistas mulheres.
Em 26 de abril, ele ofendeu uma repórter durante ato de inauguração da duplicação de trecho da BR-101 na cidade de Conceição do Jacuípe (BA).
A repórter Driele Veiga, da TV Aratu, afiliada local do SBT, questionou o presidente sobre as críticas de que foi alvo após ter posado para uma foto em Manaus com o apresentador Sikêra Júnior, da RedeTV!, e uma placa onde estava escrito “CPF cancelado”, que faz referência a pessoas que foram mortas.
“Não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota”, disse o presidente ao responder ao questionamento. A repórter estava ao vivo no programa jornalístico local Que Venha o Povo.
Em março, Bolsonaro foi condenado a indenizar a jornalista Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo, em R$ 20 mil por danos morais.
A decisão é da juíza Inah de Lemos e Silva Machado, da 19ª Vara Civil de São Paulo. Ela determinou ainda que o presidente pague as custas processuais e honorários advocatícios no valor de 10% da condenação. Cabe recurso.
A magistrada considerou que Bolsonaro violou “a honra da autora, causando-lhe dano moral, devendo, portanto, ser responsabilizado”. Ainda segundo a juíza, “a utilização no sentido dúbio da palavra ‘furo’ em relação à autora repercutiu tanto na mídia como também nas redes sociais, expondo a autora”.
A repórter acionou a Justiça após sofrer um ataque, com cunho sexual, em 18 de fevereiro de 2020.
“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]”, disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada. Após uma pausa durante os risos, Bolsonaro concluiu: “A qualquer preço contra mim”.
A palavra “furo” é um jargão jornalístico para se referir a uma informação exclusiva.
Em agosto do ano passado, ele afirmou ter vontade de agredir um repórter do jornal O Globo após ser questionado sobre os depósitos feitos pelo ex-policial militar Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Após a insistência do repórter sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro, sem olhar diretamente para o repórter, afirmou: “A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?”.
Meses antes, em maio, ao ser questionado por repórteres sobre mudanças na Polícia Federal, Bolsonaro mandou os profissionais de imprensa calarem a boca e atacou a Folha de S.Paulo, chamando o jornal de “canalha”, “patife” e “mentiroso”. Em dezembro de 2019, o presidente disse a um repórter que ele tinha uma “cara de homossexual terrível” e mandou jornalistas ficarem quietos. (Daniel Carvalho – Folhapress)