Em meio a balões e óvnis, China e EUA veem aumento de casos de espionagem

Em meio a balões e óvnis, China e EUA veem aumento de casos de espionagem

Depois que os Estados Unidos ajustaram seus radares para identificar objetos menores após abaterem um balão chinês que afirmam ser parte de um programa de espionagem, ao menos três óvnis foram descobertos e derrubados nos últimos dias.

Diferente do que ocorreu com o balão, Pequim desta vez não assumiu a responsabilidade, e não se sabe se os equipamentos são chineses.

Mas, na manhã desta segunda-feira (13), o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou que, desde o início de 2022, ao menos 10 balões americanos entraram no espaço aéreo do país.

Mais uma vez as duas nações disputam a narrativa oficial sobre o episódio, mas fato é que a espionagem faz parte da história das relações entre EUA e China -que ganhou mais corpo desde que Pequim entrou na disputa de maior potência do mundo.

Levantamento do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), baseado em Washington, identificou 160 episódios de conhecimento público de espionagem pelos chineses de 2000 a 2021. A pesquisa mostra um aumento recente: apenas um quarto desses episódios ocorreu na primeira década dos anos 2000, enquanto 76% deles foram identificados de 2010 a 2021.

A lista deixa de fora 1.200 episódios de roubo de propriedade intelectual, 50 casos de tentativa de contrabando de tecnologia controlada e munição dos EUA para a China e ações contra cidadãos e empresas americanas baseadas na China.

Dentre os casos identificados, 42% dos autores foram militares ou autoridades do governo chinês e 26% pessoas de outras nacionalidades -a maioria cidadãos americanos recrutados por Pequim.

A maior parte dos episódios mirava tecnologias comerciais, mas também houve episódios de espionagem para obter informações de agências e políticos americanos (16%) e tecnologia militar (34%).

Para os EUA, “a maior ameaça de longo prazo às informações e propriedade intelectual e à vitalidade econômica é aquela de contra-espionagem e espionagem econômica da China”, disse em 2020 o diretor do FBI, Christopher Wray.

Para a China, o perigo não é menor, e a espionagem americana “ameaça seriamente a segurança nacional da China”, disse uma porta-voz da chancelaria no ano passado ao acusar a NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) de promover “dezenas de milhares” de ciberataques e roubar dados sensíveis.

Não é só de drones altamente tecnológicos ou balões de vigilância que a espionagem é feita. No fim de janeiro, a Justiça condenou a oito anos de prisão um cidadão chinês que atuava, segundo a sentença, como aliciador de engenheiros e cientistas americanos em um programa para obter tecnologia aeroespacial e de satélites desenvolvida nos EUA.

Ji Chaoqun, 31, mudou-se para os EUA em 2013 com um visto de estudante e se alistou no Exército em 2016, até ser preso dois anos depois. Segundo a investigação, ele atuava sob supervisão de outro agente de inteligência, Xu Yanjun, condenado a 20 anos de prisão.

O uso de agentes secretos remonta à Guerra Fria, e o caso mais emblemático é o de Larry Wu-tai Chin, nascido na China e naturalizado americano, que trabalhou por mais de três décadas para o governo dos EUA. Contratado tradutor no consulado americano em Xangai em 1945, ele foi para a CIA nos anos 1950, até se aposentar em 1981.

Foi só em 1985 que se descobriu que Chin era um espião a serviço do Partido Comunista Chinês, quando um oficial de inteligência de Pequim desertou para o lado americano e entregou o tradutor.

Com acesso a relatórios de inteligência ultrassecretos, ele compartilhava informações com o regime chinês sobre agentes secretos americanos, que eram presos e executados.

Chin também adiantou em 1970 ao regime de Mao Tsé-Tung que o então presidente Richard Nixon planejava retomar relações com os chineses, em um movimento para enfraquecer a União Soviética -Nixon só foi à China em 1972. Preso e condenado, Chin suicidou-se na prisão em 1986.

Do lado americano, o uso de espiões na China também é constante. Em 2019, Sun Bo, executivo do conglomerado da indústria naval China Shipbuilding Industry Corporation, foi condenado a 12 anos de prisão acusado de fornecer à CIA informações confidenciais sobre o desenvolvimento de um porta-aviões.

Reportagem de 2021 do jornal The New York Times mostrou que oficiais de inteligência do governo americano dispararam um telegrama à CIA alertando sobre o alto número de espiões e informantes presos e mortos em uma série de países nos últimos anos, entre eles a China.

O avanço da tecnologia chinesa trouxe a espionagem para dentro de lares americanos, acusa Washington. Wray, diretor do FBI, já afirmou que Pequim pode usar dados de usuários coletados pelo TikTok, aplicativo mais baixado no mundo em 2022 -em dezembro, a administração de Joe Biden baniu o TikTok de aparelhos do governo alegando problemas de segurança nacional.

Os EUA também avançam sobre a chinesa Huawei, alegando que as tecnologias da companhia facilitam a espionagem. A empresa nega.

Não fica de fora, também, certo pânico moral. O governo Donald Trump lançou em 2018 um programa conhecido como “iniciativa China”, que avançava contra o que via como espionagem chinesa em universidades. Após uma série de casos em que pesquisadores foram processados e até demitidos para depois serem inocentados, o programa foi descontinuado em meio a acusações de racismo.

(Thiago Amâncio – Folhapress /Foto: Montagem com imagem feitas por Pedro Ladeira – Folhapress)

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