Eletrobras defende privatização no menor prazo possível
O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp (foto), defendeu nesta terça-feira (17) que a privatização da empresa seja feita “no menor prazo possível”, para evitar risco de perda de valor com as férias no Hemisfério Norte e a proximidade com as eleições presidenciais.
O processo será analisado novamente pelo TCU (Tribunal de Contas da União) nesta quarta (18) e fontes do tribunal dizem que já há consenso pela aprovação. O cronograma da oferta de ações, porém, vai depender da complexidade das recomendações feitas no julgamento.
“Tem o período de férias no Hemisfério Norte que acaba afastando investidores e a proximidade com o período eleitoral. Por isso achamos positivo para a União que a operação ocorra no menor tempo possível”, disse Limp.
“É uma janela de mercado que resulta em mais benefícios não só para a companhia mas também para a União, que é acionista majoritária da companhia”, completou, em entrevista para detalhar o lucro de R$ 2,7 bilhões registrado pela companhia no primeiro trimestre.
A empresa esperava oferecer as ações ainda antes da divulgação do balanço, usando como referência os dados consolidados de 2021, mas pedido de vista do ministro Vital do Rego forçou o adiamento da operação.
Nesta quarta, os ministros do TCU avaliarão a modelagem da oferta e o preço mínimo das ações. Nesta terça, Limp disse que a empresa ainda trabalha para concluir a operação no segundo trimestre, mas que o cronograma depende do resultado do julgamento.
“É difícil estimar prazo porque não sabemos quais recomendações e determinações virão para Eletrobras, quais irão para o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], quais para MME [Ministério de Minas e Energia] e quais para o CNPE [Conselho Nacional de Política Energética]”.
Na privatização, a União quer reduzir sua participação dos atuais 72% para cerca de 45%. A expectativa é de que gere R$ 25 bilhões em outorgas pagas à vista à União e um depósito parcelado em cinco anos de R$ 32 bilhões para reduzir a pressão de subsídios sobre a conta de luz.
O processo enfrenta resistência da oposição e de trabalhadores da estatal, que foram à SEC (o órgão regulador do mercado acionário dos Estados Unidos) denunciar a estatal por suposta omissão de risco bilionário dos acionistas.
Eles alegam que a empresa vem adiando a divulgação de detalhes sobre socorro à usina de Santo Antônio, uma das maiores do país, que perdeu arbitragem sobre disputa de R$ 1,5 bilhão com construtoras responsáveis pela obra.
O imbróglio custará a Furnas, subsidiária da Eletrobras que é sócia da usina, ao menos R$ 700 milhões, já provisionados no balanço do quarto trimestre de 2021. A expectativa é que outros sócios não participem do socorro, o que pode levar a estatal a assumir o controle do projeto.
Na entrevista desta terça, Limp disse que a empresa ainda não foi comunicada oficialmente do processo na SEC e defendeu que teve atuação transparente no caso, cumprindo os requisitos de divulgação de comunicados ao mercado. “Temos bastante segurança dos procedimentos”, afirmou.
Segundo ele, os riscos já estão identificados também em formulário anual entregue às Bolsas de Valores e serão detalhados no prospecto da oferta de ações.
Limp disse avaliar que a crise na usina de Santo Antônio não prejudica a capitalização, mesmo sob o risco de que a Eletrobras assuma em seu balanço toda a dívida da usina, caso se torne majoritária no projeto.
Furnas tem hoje 43% das ações. A Cemig, que tem 8%, já anunciou que não participará do aumento de capital para socorrer a companhia. “Entendemos que hoje nosso endividamento é confortável”, disse o executivo.
Ao fim do primeiro trimestre, o indicador de alavancagem da companhia, que mede quanto tempo de geração de caixa ela precisa para pagar a dívida, estava em 1x, abaixo dos 2,5x considerados limite por seu plano estratégico.
O governo conta com a capitalização da Eletrobras para demonstrar que uma parte importante do programa de desestatização foi cumprido, especialmente entre eleitores ligados ao mercado financeiro, cujo ânimo esfriou nos últimos meses.
(Nicola Pamplona – Folhapress/ Foto: Pedro França / Senado Federal)