‘É um descompasso que contrata problemas no futuro’, diz Haddad sobre taxa de juros
“[A decisão do Banco Central] é um descompasso entre o que acontece com o Brasil, o dólar, a curva dos juros, a atividade econômica. O contexto dá um claro sinal de que poderíamos sinalizar corte da taxa Selic, a mais alta do mundo”, afirmou nesta quinta-feira (22) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa básica de juros em 13,75%.
Segundo o ministro, a decisão contrata problemas para o futuro, com inflação e também com tributação.
“Esse descompasso nos preocupa há muito tempo”, disse Haddad, que defendeu a relativização das pesquisas.
“Sou a favor de olhar as pesquisas, entendo isso, mas elas são subsídios para a tomada de decisão e não podem substituir a autoridade monetária”, afirmou, acrescentando que as pesquisas têm errado nos últimos seis meses.
O ministro também mostrou otimismo na relação com o Congresso para a aprovação do marco fiscal e a tramitação da reforma tributária.
“O marco fiscal já está aprovado, agora é só decidir o texto, uma vírgula para lá ou para cá, mas o desenho está aprovado”, afirmou Haddad. Já sobre a reforma tributária, o ministro disse que o governo deve negociar os termos com o Congresso, mas espera votar em julho.
Questionado sobre qual seria a motivação da decisão do Banco Central, Haddad respondeu que, na técnica, não conseguiu entender. “Tenho tentado, sinceramente, entender. Não vou levantar hipóteses sobre a subjetividade das pessoas, não faço isso”, afirmou.
Em Paris, Haddad deve conversar com o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, sobre a possibilidade dos franceses apoiarem a aprovação do acordo comercial da União Europeia com o Mercosul.
A França, cujo parlamento votou contra o acordo comercial na última semana, teme a fragilização da agricultura nacional diante da facilitação das exportações agrícolas do Mercosul.
Apesar da tendência protecionista, o ministro vê uma oportunidade no “rearranjo de forças”, como chamou, ligado ao contexto da Guerra da Ucrânia. “As empresas vão diversificar seus investimentos, isso vai ajudar regiões como a América do Sul a receber investimentos”.
Haveria razões geopolíticas e ambientais para o investimento na região, segundo o ministro: ausência de guerras e tensões, por um lado, e a condição de oferecer energia limpa para empresas que se instalarem no Brasil, por exemplo.
Questionado se o investimento na exploração de petróleo na Foz do Amazonas poderia dar um sinal contrário sobre o compromisso brasileiro com o clima, Haddad respondeu que isso não deve acontecer se as condições colocadas pelo Ibama forem respeitadas.
(Ana Carolina Amaral – Folhapress /Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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