Dólar volta a R$ 5 após indicação de Galípolo ao BC; Bolsa fecha em alta
O dólar fechou em alta de 1,37% e voltou ao patamar dos R$ 5 nesta segunda-feira (8), acelerando ganhos após a indicação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária do Banco Central (BC).
A Bolsa também subiu 0,85%, aos 106.042 pontos, apoiada por altas de Vale e Petrobras, impulsionadas pelo aumento no preço de commodities e pelo otimismo com os balanços de empresas brasileiras.
O dólar já vinha subindo desde o início da sessão, recuperando perdas registradas na semana passada, mas acelerou o ritmo depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria BC.
O nome de Galípolo já era esperado pelo mercado, mas a oficialização dividiu analistas e gerou preocupação entre investidores. A avaliação é de que o secretário tem bom perfil, mas sua indicação representa uma decisão política do governo sobre a autoridade monetária.
“Por mais técnico que Galípolo seja, a leitura do mercado é de que há um viés do governo para tentar forçar a redução de juros. A decisão parece ser muito mais política do que técnica”, diz Rodrigo Marcatti, economista da Vedha Investimentos.
Ele destaca, porém, que as decisões do Copom sobre juros têm sido tomadas por ampla maioria do colegiado, e a indicação do governo não teria poder para mudar esse cenário imediatamente.
O atual patamar da Selic vem sendo criticado pelo governo. No sábado, por exemplo, Lula criticou em Londres o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao afirmar que o diretor tem compromisso com o governo anterior, e não com o Brasil. Campos Neto foi indicado à chefia da autoridade monetária por Jair Bolsonaro em 2019.
Já o analista Flávio Conde, da Levante Investimentos, considera positiva a indicação.
“Galípolo tem bom trânsito com todo o governo e poderia contribuir nas discussões sobre o rumo da política monetária já na próxima reunião. Ele deve levar uma visão diferente da atual, que é muito rígida, inflexível e centrada em levar a inflação à meta”, diz o analista.
Ele afirma, ainda, que há outros fatores para a valorização do dólar nesta segunda.
“A alta de hoje está dentro da volatilidade diária da moeda norte-americana ante o real. Além disso, o mercado esperava algum motivo para voltar a comprar dólares depois da forte queda da semana passada, após as reuniões do Fed e do Copom”, diz Conde.
A moeda americana também subiu em relação a outras. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas fortes, teve alta de 0,17% nesta segunda.
Ao ser questionado se Galípolo levaria o pensamento do PT ao Copom, mudando o rumo das discussões, Haddad respondeu que seu secretário-executivo não é filiado ao partido e que não vai representá-lo no colegiado.
“Ele está indo para lá com a autonomia necessária para cumprir a lei, a mesma lei que os outros sete membros do Copom têm que respeitar”, afirmou Haddad.
Nos mercados futuros, os contratos para janeiro de 2024 subiram de 13,19% para 13,22%. Os com vencimento para 2025 foram de 11,71% para 11,69%, enquanto os com vencimento em 2026 saíram de 11,37% para 11,43%. Já os para 2027 tinham alta, indo de 11,47% para 11,57%.
O mercado também espera, nesta semana, a divulgação da ata da última reunião do Copom, prevista para terça-feira (9), e do IPCA de abril, marcada para sexta (12).
“Se a inflação de abril confirmar uma baixa de preços, é bastante provável que o debate sobre os juros suba de tom”, dizem analistas da Levante Investimentos.
No exterior, os índices americanos começaram o dia em leve queda, após balanços negativos de empresas dos EUA. Ao longo do dia, houve recuperação, mas o Dow Jones fechou com perda de 0,17%. Já o S&P 500 e o Nasdaq subiram 0,05% e 0,18%, respectivamente.
Os bancos regionais americanos, que registraram grandes perdas na semana passada, também iniciam a semana em recuperação. O PacWest Bank registrou alta de 4,51%, e o Western Alliance subia 0,60%.
AÇÕES DE PETROBRAS E VALE SOBEM; ELETROBRAS
A Bolsa foi impulsionada pela Petrobras, que teve alta de 1,53% nas ações ordinárias, puxada pelo aumento no preço do petróleo, e pela Vale, que subiu 1,24% após a recuperação de contratos futuros do minério de ferro, que sinalizam otimismo sobre a demanda chinesa por aço. As duas empresas são as maiores da Bolsa e estiveram entre os papéis mais negociados da sessão.
Apoiaram o Ibovespa, ainda, as ações do Bradesco, com alta de 2,09% nas ordinárias e 3,58% nas preferenciais, e as do Itaú, que subiram 0,88% após o banco ter reportado lucro de R$ 8,4 bilhões no primeiro trimestre.
A Braskem continuou a trajetória de alta (6,06%) após a Novonor informar que recebeu uma proposta não vinculante envolvendo a participação de controle que detém na petroquímica, mas sem identificar os grupos envolvidos no acordo.
A empresa chegou a subir 40% na sexta (5) com notícias de que a Adnoc, petroleira árabe, estaria interessada em comprar o controle da Braskem por até R$ 37,5 bilhões.
Por outro lado, pressionou negativamente a Bolsa a queda nas ações da Eletrobras, após o governo ter pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) na sexta que declare inconstitucional parte da lei de desestatização da Eletrobras para que a União tenha voto proporcional à sua participação societária na empresa.
Lula chegou a classificar a privatização da companhia como “bandidagem” e já havia sinalizado que buscaria mudar as regras impostas à União.
As ações ordinárias da Eletrobras, que também ficaram entre as mais negociadas, tiveram queda de 1,59%. As preferenciais caíam 1,85%.
(Marcelo Azevedo – Folhapress / Foto: Valter Campanato – Agência Brasil)
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