Dólar sobe 1,07% com temor de escalada da inflação global
O dólar ganhou força frente ao real nesta quarta-feira (1º) em um dia de alta global da moeda americana decorrente de preocupações crescentes com a escalada mundial da inflação.
O fim do lockdown em Xangai, na China, o embargo europeu ao petróleo russo e o envio de armas pelos Estados Unidos à Ucrânia reforçaram expectativas sobre a manutenção da alta dos preços da energia e dos alimentos.
A divisa americana subiu 1,07%, cotada a R$ 4,8050. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, variou 0,01%, em uma sessão marcada por altos e baixos com investidores atentos ao mercado dos EUA.
Em Nova York, o indicador de referência S&P 500 cedeu 0,75%, aprofundando o tombo de aproximadamente 14% desde janeiro. Os índices Dow Jones e Nasdaq recuaram 0,54% e 0,72%, respectivamente.
O preço de referência do petróleo bruto recuava 5,76% no final da tarde, com o barril do Brent cotado a US$ 115,76 (R$ 554,15). O tombo ocorre, porém, após a commodity ter superado os US$ 120 nesta terça (31). Investidores ainda digerem a decisão de líderes da União Europeia, que baniu parte das importações de petróleo russo.
As novas sanções reduzem expectativas do mercado sobre um arrefecimento significativo nos custos dos combustíveis. O preço do petróleo já avançou cerca de 50% desde o início do ano.
Além de aumentar o custo da energia, a guerra na Ucrânia também pressiona a inflação dos alimentos. O trigo, por exemplo, já escalou cerca de 35% desde janeiro.
Rodrigo Simões, professor de finanças da FAC-SP, ressalta que a decisão dos Estados Unidos de enviar armas mais potentes para a Ucrânia aumenta riscos e custos de importação.
“É um tipo de decisão que complica ainda mais o cenário de crise internacional e desequilibra os mercados”, comentou Simões.
A inflação da zona do euro acelerou para 8,1% em maio e atingiu novo recorde, superando as expectativas de 7,7%, com aumento generalizado dos preços.
Pressões inflacionárias globais ampliam a expectativa de prolongamento do ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos, cuja consequência usual é a valorização do dólar, sobretudo frente a moedas de países de economia emergente.
Em períodos de aversão a aplicações de risco, investidores buscam refúgio no Tesouro dos Estados Unidos, principalmente diante da perspectiva de ampliação dos juros por lá.
O aperto monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) também levanta discussões sobre o risco de recessão no país.
Oito dos últimos 11 ciclos prolongados de aumento das taxas do Fed acabaram em recessão, segundo nota de analistas do Deutsche Bank publicada no The Wall Street Journal.
Relatório sobre a atividade econômica dos EUA divulgado nesta quarta mostrou que o crescimento da economia começa a perder força no país.
Apesar de reforçar preocupações sobre a recessão, o indicativo de desaceleração também pode ser lido como um sinal de que a política econômica do Fed está sendo efetiva contra a inflação. Essa interpretação evitou uma queda ainda maior das bolsas americanas, segundo Rodrigo Caetano, especialista da Toro Investimentos.
Na outra ponta, o fim do lockdown em Xangai deve pressionar os preços das commodities, uma vez que o aquecimento econômico na China amplia a expectativa de crescimento na demanda por energia e materiais básicos.
Se por um lado o contexto reforça a inflação, por outro, a valorização de matérias-primas como petróleo e minério de ferro teve efeito positivo sobre o resultado da Bolsa brasileira nesta quarta devido ao peso desse setor no Ibovespa, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Na véspera, a sessão no mercado brasileiro também foi marcada pela volatilidade, sobretudo no câmbio.
(Clayton Castelani e Lucas Bombana – Folhapress /Foto: Gabriel Cabral/Folhapress)