Dólar fecha em alta de 1,30% e supera R$ 5,90 com nova ameaça de Trump à China

Dólar fecha em alta de 1,30% e supera R$ 5,90 com nova ameaça de Trump à China
Por Antonio Perez – Estadão Conteúdo

O dólar avançou com força pelo segundo pregão consecutivo no mercado local nesta segunda-feira, 7, e fechou acima de R$ 5,90 pela primeira vez desde fins de fevereiro. O dia foi marcado por nova rodada de fortalecimento da moeda norte-americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes, diante de sinais de acirramento da guerra comercial.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, subiu o tom em relação à China no início da tarde, ao ameaçar com tarifa adicional de 50% aos produtos chineses a partir de 9 de abril, caso o gigante asiático não recue da tarifa retaliatória de 34% adotada em resposta ao tarifaço dos EUA na semana passada.

A ameaça de Trump provou uma piora generalizada dos ativos de risco, o que levou o dólar a ultrapassar a linha de R$ 5,93 e registrar máxima a R$ 5,9324. Houve uma diminuição dos ganhos da moeda nas últimas horas do pregão, com as bolsas norte-americanas mostrando algum fôlego e até tocando pontualmente terreno positivo.

No fim da tarde, o presidente dos EUA jogou panos quentes ao dizer que tem uma ótima relação com o líder chinês Xi Jinping. Pouco antes, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, acusou os Estados Unidos de unilateralismo, protecionismo e intimidação econômica com tarifas.

Após rondar os R$ 5,90 na reta final dos negócios, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 1,30%, cotado a R$ 5,9106 – maior valor de fechamento desde 28 de fevereiro (R$ 5,9163). A divisa acumula valorização de 3,60% nos cinco primeiros pregões de abril. As perdas do dólar no ano, que chegaram a superar 8%, agora estão em 4,36%.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, observa que os ativos de risco, incluindo as moedas emergentes, sofreram menos nesta segunda que na sexta-feira, o que reflete o mercado já atento a eventuais exageros e tentando buscar um parâmetro de preço que reflita o atual estágio da guerra comercial.

“O mercado ainda tenta entender efetivamente o que vai entrar em vigor nessa questão das tarifas. A China retaliou, e os EUA ameaçaram hoje aumentar ainda mais a tarifa, o que parece até um movimento desesperado, porque esperavam trazer os chineses para a mesa de negociação”, afirma Velloni, acrescentando que, por ora, o quadro externo é o que mais pesa sobre o comportamento da taxa de câmbio.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia por volta de 0,30% no fim da tarde, ao redor dos 103,240 pontos, após máxima aos 103,511 pontos. Em relação a pares, o dólar caiu apenas na comparação com o franco suíço, tradicional refúgio ao risco.

Com na sexta-feira, as moedas latino-americanas – ao lado do dólar australiano e do rand sul-africano – amargaram as piores perdas. As cotações do petróleo, que já acumulavam queda de dois dígitos no mês no fechamento de sexta-feira, voltaram a recuar, com queda de mais de 2% do contrato do Brent para outubro.

O diretor de Pesquisa Econômica do Pine, Cristiano Oliveira, observa que a guerra comercial deflagrada pelo tarifaço de Trump é negativa tanto para a economia americana quanto pela global, uma vez que pressiona a inflação e leva a uma desaceleração da atividade.

“A preocupação com uma recessão tende a se intensificar nos próximos meses, à medida que os efeitos defasados dos choques recentes comecem a se refletir mais diretamente na economia real”, afirma Oliveira, acrescentando que alguns indicadores já mostram aumento da probabilidade de retração da atividade nos EUA.

O real sofreu menos que seus principais pares, à exceção do peso chileno. Além de o Brasil ter sido tarifado pelos EUA com a menor alíquota (10%), a moeda brasileira é amparada pela taxa de juros local elevada, que encarece carregamento de posições compradas em dólar.

Em evento nesta segunda em São Paulo, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reforçou o desconforto com a desancoragem das expectativas de inflação. Economistas veem pelo menos mais um alta da taxa Selic em maio e manutenção de política monetária restritiva por período prolongado.

Foto: Pexels

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