Deputada americana trumpista confunde Gestapo com gaspacho
A brutal polícia secreta da Alemanha nazista que espionava e perseguia cidadãos foi confundida com uma leve receita mediterrânea pela deputada americana Marjorie Taylor Greene (foto), fiel apoiadora de Donald Trump.
Em uma gafe durante uma entrevista ao programa Real America with Dan Ball, a republicana eleita pelo estado da Geórgia trocou Gestapo por gaspacho ao criticar os trabalhos do comitê da Câmara dos Estados Unidos que investiga a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores do ex-presidente.
“Agora nós temos a ‘polícia gaspacho’ da Nancy Pelosi (presidente da Câmara, democrata) espiando membros do Congresso, o trabalho legislativo que fazemos, a nossa equipe, e espiando cidadãos americanos que querem vir falar com seus representantes”, afirmou a parlamentar durante a edição de terça-feira passada do programa.
“Esse governo se transformou em algo que nunca deveria ser, e é hora de acabar com isso.” O vídeo com a confusão da deputada viralizou nas redes sociais, mais pela gafe do que pelos seus argumentos.
A Gestapo foi parte do aparato repressivo do Estado alemão durante o regime de Adolf Hitler, de 1933 até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Era uma polícia secreta que espionava, perseguia e prendia cidadãos suspeitos de conspirar contra o governo, sem controles legais ou necessidade de mandados.
Já o gaspacho é uma sopa fria à base de tomates. Bastante popular na região da Andaluzia, na Espanha, leva pepino, pimentão e alho.
Nesta quarta, Taylor Greene comentou o caso tentando fazer um gracejo com um novo trocadilho, digamos, gastronômico para um elemento nefasto de guerras do século 20. “Sem sopa para quem espionar ilegalmente membros do Congresso, mas eles serão jogados no goulash”, escreveu em sua conta no Twitter. A referência à sopa com cubos de carne típica do Leste Europeu se propõe a lembrar os gulags, campos de trabalhos forçados para presos políticos na União Soviética.
Na mesma entrevista, a deputada também chamou de gulag a prisão da capital americana, a poucos quilômetros do Capitólio, onde condenados pela invasão de 2021 estão presos.
Transmitido pela One America News Network, rede de TV a cabo de ultradireita e pró-Trump, o Real America abriu a edição com a entrevista da deputada veiculando uma reportagem sobre um homem a quem teria sido negado um transplante de rim por ele não estar vacinado contra a Covid. Na sequência, uma notícia sobre o protesto de caminhoneiros em Ottawa contra restrições impostas no Canadá para frear a pandemia classificou o premiê Justin Trudeau de “líder tirânico”.
O comitê do Congresso criticado pela republicana foi instaurado para apurar responsáveis pelo ataque à democracia americana de um ano atrás. Cinco pessoas morreram e 140 policiais ficaram feridos na invasão.
O jornal americano The New York Times publicou neste mês uma reportagem mostrando que o colegiado tem usado seus poderes “de formas expansivas”, empregando táticas agressivas, tipicamente usadas em processos federais contra mafiosos e terroristas, para tentar furar a blindagem a Donald Trump e seus aliados.
O grupo, liderado por um ex-procurador federal, entrevistou até aqui mais de 475 testemunhas e produziu mais de 100 intimações, inclusive a bancos, empresas de telecomunicação e redes sociais –e que, segundo o jornal, varreram dados pessoais da família Trump e aliados, de políticos locais e ao menos um parlamentar republicano.
Essa tentativa de fechar o cerco se dá por parte de congressistas democratas, que têm certa pressa porque querem concluir os trabalhos antes das eleições legislativas de novembro, nas quais as maiorias mínimas do partido nas duas Casas do Congresso estão ameaçadas. Republicanos, que se opuseram à criação da comissão, buscam retomar o controle da Câmara e, assim, encerrar o inquérito.
A deputada Taylor Greene já foi punida pelo Congresso por apoiar grupos conspiracionistas e endossar atos de violência contra congressistas, sendo removida de duas comissões às quais tinha sido indicada pelo Partido Republicano.
Ela ficou conhecida por ter apoiado a QAnon, teoria da conspiração que diz que Trump travava uma guerra contra uma rede de abusadores de crianças. Depois disse ter se arrependido desse suporte, sem se desculpar por isso. “Fui levada a acreditar em coisas que não eram verdade”, afirmou. “E absolutamente lamento. Mas a mídia é tão culpada quanto a QAnon por promover mentiras.”
Greene também teve sua conta pessoal no Twitter suspensa permanentemente em janeiro, sob o argumento de que violou de forma reiterada a política de desinformação sobre a Covid-19 na rede social. A representante ainda tem acesso a outra conta, verificada, em que tem mais de 400 mil seguidores. (Folhapress)