Crescimento da energia solar ajuda a reduzir custos no agronegócio
Na granja Heinen, situada em Linha Arroio Bonito, município de Mato Leitão (RS), 160 placas de energia solar fotovoltaica ajudam a reduzir a conta de luz desde que foram instaladas, no final de 2021.
A alta nos insumos para a criação de gado, a crise hídrica, a disparada no preço dos combustíveis, entre outros fatores econômicos, afetaram produtores da cadeia leiteira. O resultado foi que, em 2022, o litro do leite chegou a ser vendido por quase R$ 8 em várias partes do país.
Apesar desse cenário, o produtor Evandoir Heinen viu diminuir seus custos com energia elétrica graças ao sistema fotovoltaico.
“A conta passava dos R$ 5.800. Era inviável. Foi aí que instalamos as placas e já vimos resultados. No primeiro mês, paguei pouco mais de R$ 1.000, além da prestação do equipamento.”
Heinen é um dos milhares de produtores que, com o incentivo de linhas de crédito, aderiram à fonte renovável.
Dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) apontam que houve um aumento de 115% no número de sistemas instalados nos campos do Brasil entre os seis primeiros meses de 2021 e o mesmo período de 2022 –44 mil sistemas no ano passado e 94,6 mil neste. Na área rural do Rio Grande do Sul, a alta foi maior, de 135%.
A tecnologia impacta também o número de empregos gerados pelo setor. Segundo a Absolar, entre 2020 e outubro de 2022, houve um aumento de 180% nos postos de trabalho relacionados à energia solar. No que diz respeito à arrecadação de impostos aos cofres públicos do país, a alta, no mesmo período, foi de 187%.
Orgulhoso, Heinen mostra relatórios que apontam não apenas a economia que os painéis geram mas também os benefícios ao meio ambiente. Desde a instalação, em dezembro de 2021, a economia já foi de R$ 43.169,84. Foram deixadas de produzir 12 toneladas de gás carbônico e 18 árvores foram salvas.
Para aderir à energia solar, o produtor realizou um financiamento de dez anos junto à cooperativa Sicredi. “A primeira parcela eu paguei R$ 3.400, e a última vou pagar R$ 1.700.”
Heinen relutou até aceitar uma proposta para instalar os módulos por não conhecer muito bem o sistema. Hoje, ele percebe que fez uma boa escolha. “Estou muito satisfeito. Até coloquei mais um ar-condicionado em uma sala.”
Para a vice-presidente da Absolar, Bárbara Rubim, o crescimento da energia solar no agronegócio pode ser atribuído a três fatores. “O primeiro é a alta da conta de luz em todos os segmentos. Tivemos a bandeira tarifária da escassez hídrica que, apesar de não estar vigente hoje, foi um grande motivador.”
O segundo é o fato de o consumidor rural ter historicamente acesso a uma série de reduções tarifárias que agora estão chegando ao fim. “Por fim, também influencia o surgimento de diversas linhas de financiamento voltadas especificamente a esse público.”
Pode-se dizer que o casamento entre o campo e a energia solar, chamado de “agro fotovoltaico”, veio para ficar.
“Trata-se da integração dos módulos fotovoltaicos com alguns cultivos, já que certas espécies, como morango, se beneficiam do sombreamento que pode ser causado pelo sistema solar quando instalado no solo”, diz Rubim.
Além disso, o produtor rural costuma ter disponibilidade de área, seja em solo ou na cobertura dos galpões.
“Tudo isso faz com que a energia solar seja uma aliada, ajudando a reduzir o custo fixo e, por consequência, barateando a produção de alimento”, afirma. A Absolar projeta, para os próximos anos, um crescimento ainda maior da adesão em áreas rurais.
A Solled Energia, de Santa Cruz do Sul (RS), foi uma das pioneiras da energia solar fotovoltaica no estado. A CEO da empresa, Mara Schwengber, lembra os primeiros passos do negócio, em 2011, quando ainda não havia regulação, que só chegaria um ano depois.
“Participamos do processo de construção da regulação e fomos uma das primeiras usinas conectadas do Rio Grande do Sul e do Brasil. O mercado teve uma explosão em 2017 e vem dobrando a cada ano o número de conexões e da potência instalada.”
Segundo a CEO, países europeus, que já faziam uso da tecnologia, foram observados no início. “Resolvemos investir em algo que até então não estava acontecendo.”
Atualmente, a Solled tem mais de 3.000 instalações, a maioria em estados do Sul. Diretamente, a empresa gera cerca de 150 empregos. Contudo, há dificuldade em conseguir mão de obra especializada.
“Buscamos pessoas que tenham interesse em trabalhar no setor e fazemos a capacitação. Há uma carência de mão de obra e a tendência é ter mais ainda, devido ao crescimento do mercado.”
(Caroline Garske – Folhapress /Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)